Quantos lobos selvagens podem coexistir na Suíça?
O ministro do meio ambiente suíço, Albert Rösti, tem expressado preocupação com o aumento do número de lobos selvagens na Suíça. De 2019 para cá, a população de lobos cresceu cerca de 30% a cada ano. Nesse período, os ataques de lobos contra rebanhos de fazendeiros também aumentaram, levantando a pergunta: quantos lobos podem coexistir pacificamente no país alpino?
Em 2019, a Suíça tinha menos de 100 lobos vivendo em seu território. Em 2020, foram contabilizados quase 150 animais e em 2021 já eram 240 animais. Agora, em 2023, estima-se que mais de 300 lobos circulem pela Suíça, distribuídos em 32 matilhas diferentes.
De acordo com a fundação KORA, que monitora e estuda a gestão ambiental dos lobos suíços, o país tem território suficiente para abrigar entre 50 e 100 matilhas. Os ecologistas argumentam que os lobos deveriam ter suas vidas protegidas na Suíça não apenas por razões sentimentais, mas também porque os predadores de ponta são o meio mais eficiente para controlar o número de animais herbívoros que pastam, como os veados.
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No entanto, deve ser estabelecido um equilíbrio entre considerações puramente ecológicas, o bem-estar dos produtores rurais, de seus rebanhos de animais e de outras pessoas que possam entrar em contato com lobos.
Um estudo científico realizado em 2016 calculou que a população de lobos suíços necessitaria de pelo menos 20 matilhas para sobreviver a longo prazo, mas propostas de revisão na lei de caça sugerem a redução das matilhas em até 70% – para cerca de 12. O governo acredita que essa quantidade seria suficiente para honrar as obrigações assinadas na Convenção de Berna, que estabelece medidas para proteção da vida selvagem.
Para os grupos ligados à proteção ambiental e animal, o projeto de atualização das leis de caça, que sugere a diminuição das matilhas, enfrentará desafios legais. “A vontade do parlamento e do povo de implementar uma lei equilibrada de caça e proteção está sendo ignorada”, afirmou o grupo Wolf Switzerland.
“Toda a ideia de matar lobos ou mesmo de gerir grandes populações de carnívoros é atualmente uma das questões que mais causa divisão na Europa”, disse à SWI swissinfo.ch, no início deste ano, John Linnell, cientista sênior do Instituto Norueguês de Pesquisa Natural.
Custos recaem na população
De um lado dessa discussão, os produtores rurais falam sobre um aumento de cinco vezes nos ataques de lobos a ovelhas, vacas e cabras nas pastagens alpinas desde os anos 2000, quando os lobos começaram a multiplicar-se na Suíça.
O aumento das matilhas traz consequências financeiras para os contribuintes, uma vez que os fazendeiros recebem compensações financeiras pelos animais mortos por lobos e também pela instalação de medidas anti-lobos para proteger os seus rebanhos.
A Associação Suíça de Fazendeiros e Agricultores reclama da redução do financiamento para a proteção dos rebanhos – o Gabinete Federal do Ambiente nega que tenha havido redução. “Quanto dinheiro queremos que os lobos custem? Ultrapassamos claramente o limiar da dor. A Suíça é pequena demais para os 300 lobos que existem atualmente. A população de lobos deve ser reduzida”, declarou a associação em e-mail para SWI swissinfo.ch.
Buscando o equilíbrio
O Parlamento já tratou da permissão para o abate de lobos quando os animais forem considerados uma ameaça. A proposta original do foi rejeitada pelos eleitores suíços em 2020, forçando uma revisão no texto em 2022, que incluiu mais restrições ao abate de lobos, mas manteve ao mesmo tempo o princípio de que os animais podem ser mortos antes de atacarem animais de criação.
O Departamento Federal do Meio Ambiente não forneceu um número que precise a quantidade de lobos que poderiam viver de forma sustentável na Suíça. “A população de lobos na Suíça está aumentando rapidamente. Isso representa grandes desafios, especialmente para a pecuária alpina com ovinos e caprinos”, escreveram em comunicado enviado por e-mail à SWI swissinfo.ch.
“Sem intervenções, a população de lobos na Suíça aumentará cerca de 30% ao ano. A Suíça quer ajudar a garantir que a população de lobos alpinos como um todo não esteja ameaçada.”
Lobos na Suíça
No final do século 19 os lobos suíços foram caçados até a extinção.
Alguns lobos solitários ocasionalmente vagavam pela Suíça no século 20 ,mas o primeiro lobo residente que retornou só chegou em 1995 – um lobo solitário que atravessou a fronteira da Itália e ficou no país alpino.
Foi só em 2012 que a primeira matilha de lobos estabeleceu a sua presença nos tempos modernos. Existem agora 32 matilhas com mais de 300 lobos.
A Suíça ratificou a “Convenção sobre a Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais Europeus” do Conselho da Europa (Convenção de Berna) em 1981. Na época em que assinou o documento, não havia mais lobos vivendo na Suíça.
Uma alteração na Lei Suíça de Caça permite o abate de matilhas ou partes de matilhas quando a pecuária estiver ameaçada. Os guardas florestais também podem disparar contra lobos que se aproximem de áreas habitadas e de seres humanos de forma ameaçadora, ou contra os quais as medidas de proteção dos rebanhos sejam ineficazes.
Os cantões devem obter a aprovação do Departamento Federal do Meio Ambiente antes de abater lobos, o que é autorizado durante um período de tempo entre o início de setembro e o final de janeiro.
(Adaptação: Clarissa Levy)
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