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Acidentes de racha: “Queremos acordar a Justiça”

O veículo destruído de um jovem participante de um "racha" em Schönenwerd (cantão de Solothurn). Keystone

Um acidente mortal ocorrido na Suíça devido aos chamados "rachas" desencadeia protestos e pedidos de leis mais severas contra os participantes.

Para Roland Wiederkehr, diretor-executivo da Roadcross, a solução é punir os delinqüentes a prestar serviço em hospitais públicos.

A foto mostra um Audi completamente destruído na noite de sábado, 8 de novembro, na comuna de Schoenenwerd, cantão de Solothurn (leste da Suíça). Segundo testemunhas, este e mais dois veículos participavam de um “racha” em meio à neblina. Foi quando o Audi bateu contra um Golf que vinha na direção contrária, ferindo gravemente o motorista de 59 anos, sua esposa de 62 e matando a passageira do banco de trás, uma jovem de 21 anos. Os passageiros do Audi, o jovem condutor de 18 anos e seu companheiro de 53, não tiveram ferimentos.

O acidente, amplamente noticiado pela imprensa helvética no dia seguinte, provocou protestos irados em todo o país. A Roadcross, uma organização helvética que agrupa vítimas de acidentes de trânsitos, organizou na segunda-feira (17 de novembro) uma grande manifestação frente ao Congresso Federal. “Nosso objetivo era acordar a Justiça desse país”, declarou seu diretor-executivo, Roland Wiederkehr.

Em entrevista à swissinfo, Wiederkehr fala sobre as possíveis medidas contra os “rachas” e a influência da propaganda feita pelas montadoras.

swissinfo: No último final de semana, foram presos mais quatro participantes de rachas. Como é possível que essas pessoas não tenham sido sensibilizadas pelo terrível acidente do início do mês?

Roland Wiederkehr: Possivelmente elas são muito imaturas para isso. As fotos desses “corredores” mostram que eles acabam de sair da adolescência.

Porém, eles têm uma potência incrível embaixo do capô dos seus veículos. Além disso, eles não conhecem os riscos ou não são capazes de se colocar no lugar das vítimas dos acidentes provocados por eles.

Talvez devêssemos dizer que pessoas de 18 anos são claramente muito jovens para poder dirigir. Porém, é difícil impor esse ponto de vista. Por isso, exigimos uma limitação da potência dos veículos para motoristas até os 25 anos.

O governo federal contra-argumenta, afirmando que existe a liberdade legal de comercialização. Quando analisamos as restrições nas vendas de motocicletas isso é, pelo menos, extremamente inconseqüente. Motocicletas de alta potência só podem ser dirigidas por pessoas a partir dos seus 25 anos.

swissinfo: Repetidamente são sempre jovens estrangeiros que causam os acidentes por racha. Como a Roadcross quer atingir esse público?

R.W.: Aqui temos uma situação um pouco estranha. A diáspora dos sérvios, albaneses e albaneses do Kosovo na Suíça é muito grande. Eles estão absolutamente inconformados pelo fato desses jovens sempre destruírem a imagem daqueles que se integraram bem no nosso país.

Na Suíça podemos ter os melhores programas de integração de estrangeiros, mas o resultado ocorre quando o suíço comum começa a dizer: – “Fora com esses estrangeiros”.

Há três anos, organizamos bem-sucedidos eventos de prevenção, sobretudo nas escolas profissionalizantes e nas grandes empresas. Nós mostramos que não apenas a vida de uma vítima é destruída nesse tipo de acidente, mas também a do próprio autor do crime. Eles têm de pagar a vida inteira por ter provocado uma tragédia.

Nós nunca iremos conseguir que todos adaptem seu estilo de conduzir. O nível de testosterona nesses jovens, em grande parte de baixo nível educacional e com poucas chances no mercado de trabalho – o que os incita a se expressar através do automóvel – terá sempre um papel nos casos. Aqueles que não querem aprender devem, pelo menos, fazer um esforço redobrado.

Também precisamos convencer as mulheres, que muitas vezes são vítimas nos acidentes provocados pelos rachas por estarem sentadas no banco do lado, a controlar seus namorados ou amigos. Isso significa dizer: se você não conduzir melhor, eu não ando mais contigo ou deixe-me sair do carro.

swissinfo: Atualmente estão sendo discutidas diversas medidas contra os participantes dos rachas. O governo federal quer confiscar seus automóveis ou instalar neles “caixas-pretas”. Também são exigidas penas mais severas. Essas medidas estão indo na direção correta?

R.W.: Eu não sou um adepto de longas penas de prisão, mas é preciso que os culpados paguem por seus pecados.

Penas de prisão ou multas não adiantam. O que realmente faz doer os participantes dos rachas é a retirada da sua carteira de motorista ou o confisco do automóvel.

O melhor seria obrigar essas pessoas a prestar serviços sociais. As leis prevêem isso, porém isso é colocado pouco em prática.

Eles deveriam, por exemplo, prestar serviços em um hospital ou em uma clínica de reabilitação e ser confrontados com vítimas de trânsito.

swissinfo: Há vinte anos, você fundou a associação de vítimas de trânsito Roadcross. Como você se sente ao sempre ver novos casos trágicos de acidentes causados por rachas, apesar de todo esse engajamento?

R.W.: O problema é que dirigir é um ato extremamente emocional e que verdadeiramente cada um pensa que só os outros têm de se preocupar, que sabem dirigir bem, que nada acontece com eles e, em todos os casos, o seguro ajuda.

Eu nunca pensei que vivêssemos em uma espécie de “república de bananas”, como escuto muitas pessoas dizer. As vítimas são completamente esquecidas, enquanto para os delinqüentes se faz de tudo.

Nos últimos tempos, participantes dos rachas que mataram meninas não tiveram por várias vezes de entregar suas carteiras de motoristas e foram condenados, por no máximo, dois anos.

swissinfo: De um lado a indústria automobilística faz propaganda para carros potentes e velocidade. O exemplo é a Audi da Alemanha, que colocou na sua página web um comercial com um corredor. Por outro lado, o governo luta contra os rachas. Isso não seria hipócrita?

R.W.: Sim, essa é uma situação absolutamente hipócrita, sobretudo pelo fato de sempre ser dito que a Suíça não é um país produtor de automóveis. Porém nós somos um país importador. E nós temos a possibilidade, com responsabilidade jurídica de produtos, de retirar os que são perigosos do mercado.

Se as carrocerias dos utilitários são hoje em dia mais arredondadas do que no passado, o aparelhamento nas estradas ocorre de qualquer maneira, sobretudo na potência e no impulso dos carros. Os governos europeus deveriam se juntar para dizer que não vão mais aceitar essa situação. Porém ocorre exatamente o contrário.

Existem comerciais que dizem: se você compra esse automóvel, você é um cara inteligente, independente, um homem verdadeiro. Enquanto a sociedade continuar dando valor às aparências, essa situação não vai mudar.

A ilusão continuará a ser transmitida de que tudo é controlável. E lá é que deveremos agir. O governo federal deve ser obrigado a mostrar mais coragem e impor uma limitação à potência dos carros.

swissinfo, Corinne Buchser

Com o programa “Via sicura” (Estradas Seguras), o governo federal helvético lançou 60 medidas para melhorar a segurança no trânsito.

O pacote de medidas ainda está em processo de aprovação.

Dentre as medidas contra dos “rachas”: confiscar de forma permanente os automóveis dos participantes dessas corridas ilegais.

Quem perder a longo prazo a carteira de motorista, só pode retornar às ruas se aceitar a instalação de uma “caixa-preta” no seu automóvel.

Automobilistas serão obrigados a repetir a cada dez anos cursos de motoristas.

Durante um protesto organizado na Praça Federal de Berna, na última segunda-feira (17 de novembro), a Roadcross pediu penas mais severas contra participantes de “rachas”.

Vários participantes criticaram os responsáveis, em grande parte jovens automobilistas, pelos últimos acidentes.

“Se os juízes acusam as leis de serem fracas e os procuradores dizem que os juízes são inoperantes, então o Estado suíço está com um grande problema”, declarou Roland Wiederkehr.

Roadcross foi fundada em 1989. O principal objetivo era reduzir as mais de mil mortes anuais e 12 mil feridos nas estradas helvéticas pela metade até 2000.

Em 2007, foram 384 mortos e 5.235 pessoas feridas gravemente em acidentes automobilísticos.

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