Ainda há pouco entusiasmo a 100 dias da Eurocopa
Os preparativos para o Campeonato Europeu de Futebol na Suíça e na Áustria correm a todo vapor, mas ainda estão longe de provocar euforia.
A 100 dias do apito inicial, austríacos temem fisco de sua seleção e suíços duvidam das vantagens econômicas do Euro 2008.
No maior evento esportivo de sua história, a Suíça e a Áustria querem demonstrar que o futebol pode mover montanhas. Com o slogan “espere emoções”, os dois países prometem transformar a Eurocopa 2008, de 7 a 29 de junho, numa festa popular.
A 100 dias do apito inicial, porém, pouco se percebe desse entusiasmo nas ruas. Fora alguns sinais visíveis, como relógios de contagem regressiva instalados em locais públicos, alguns outdoors dos patrocinadores e souvernirs do Euro nas vitrines.
Os organizadores oscilam entre o pragmatismo e o otimismo contido. Por um lado, a infra-estrutura está praticamente pronta. Os estádios das oito cidades-sedes foram ampliados e modernizados por centenas de milhões de euros e passaram pela prova de fogo em jogos-teste.
Por outro lado, as seleções-anfitriãs não figuram entre as favoritas ao título, o que sempre é ruim para quem organiza um torneio. Na Suíça, só os torcedores mais fanáticos acreditam que a “Nati” possa sagrar-se campeã.
Na Áustria, o clima é de pessimismo. Segundo uma pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Humano de Klagenfurt, 39% dos austríacos prevêem uma apresentação “catastrófica” da seleção nacional.
Treinando o sorriso
Questionados sobre os efeitos do Euro 2008 sobre a qualidade de vida, 76% dos 820 entrevistados disseram ter “medo de uma invasão de hooligans” e 75% prevêem transtornos no trânsito. Em Viena, maior cidade da Eurocopa com 1,8 milhão de habitantes, a linha do metrô foi ampliada até o estádio da final (o Ernst Happel) para evitar o caos.
Suíça e Áustria ainda trabalham nos detalhes da organização, mas nessa área ninguém espera um vexame. Milhares de policiais estão sendo treinados para lidar com as torcidas, planos de emergência para a segurança já foram testados com sucesso. Para evitar violência, as polícias austríaca e suíça receberão reforço do exterior.
Os suíços, em geral bastante reservados, treinam o sorriso. A federação de futebol e as associações de turismo do país lançaram uma “ofensiva do charme”. Cerca de 50 mil funcionários do setor de serviços são treinados para receber os torcedores como perfeitos anfitriões. Mas, até agora, as cidades-sede recrutaram menos voluntários do que esperavam e os hotéis reclamam das poucas reservas para a Eurocopa.
Corrida aos ingressos
Uma explicação para isso pode ser a escassez de ingressos, principal motivo de reclamação em todos os 16 países classificados. Cerca de um milhão de torcedores poderão assistir aos 31 jogos nos estádios, o que é muito pouco.
Somente a Federação Alemã de Futebol recebeu 2,6 milhões de pedidos para os 14.400 ingressos colocados à venda aos torcedores do país para os três jogos da primeira rodada – mais do que o suficiente para lotar os oito estádios da Europa.
Em comparação com a Alemanha, onde ainda perdura a febre da Copa 2006, a corrida aos ingressos nos países anfitriões é até moderada. Na Suíça, houve 765 mil pedidos; na Áustria 645 mil.
Uma alternativa para os torcedores que não conseguirem ingressos será o public viewing nas arenas a serem instaladas em locais públicos, uma idéia que deu certo na Copa na Alemanha. Com essa opção, os organizadores esperam atrair o dobro do número de torcedores que cabem nos estádios.
Retorno financeiro questionável
As cidades-sedes e suas regiões estão investindo pesado em programas culturais paralelos ao cronograma dos jogos. Com isso, elas querem destacar a vida cultural dos dois países e atrair – não só este ano – também turistas que não se interessam por futebol.
Pelo menos na Suíça, há quem duvide que essa estratégia vingue e que os investimentos públicos na Eurocopa desencadeiem um “milagre econômico”. Segundo um levantamento do jornal Der Bund, de Berna, o contribuinte suíço vai pagar um total de 140 milhões de euros pelo Euro 2008.
“A Eurocopa custa muito dinheiro, mas não impulsionará o turismo e o consumo”, prevê o diário. A Copa 2006 praticamente não teve efeitos positivos para economia alemã. Estudos sobre as Copas 2004 (EUA) e 2002 (Japão e na Coréia do Sul) bem como sobre a Eurocopa 2004 em Portugal chegaram a resultados semelhantes, argumenta o jornal.
Isso, porém, não turva o otimismo do presidente da União Européia de Futebol (Uefa), Michel Platini. “Vamos vivenciar um torneio de alto nível esportivo e organizacional”, garante. “Estou convencido de que podemos superar a aventura feita em Portugal”, diz o diretor executivo do Euro 2008, o suíço Martin Kallen, que já comandou a organização do torneio em 2004.
Apesar do pouco entusiasmo mostrado até agora pela população suíça e austríaca e das dúvidas dos economistas, tudo indica que a organização da próxima Eurocopa será perfeita e que não se verá um futebol de várzea, já que todas as grandes nações européias do futebol, à exceção da Inglaterra, estão classificadas. Sobre os resultados tanto esportivos quanto econômicos do torneio a essas alturas só se pode especular.
swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)
Por mais que a Uefa invista em publicidade para empolgar a torcida na Áustria e na Suíça, não poderá resolver um problema que irrita os verdadeiros torcedores de futebol: a escassez de ingressos.
No total, são oferecidos mais de um milhão de ingressos para o torneio. Os preços oficiais variam entre 45 euros e 550 euros, mais uma taxa administrativa de 20 euros paga à Uefa. No mercado negro, já são oferecidos ingressos por até 1.600 euros, por exemplo, para a semifinal na Basiléia.
Nem mesmo nos telões que serão instalados em 16 cidades na Suíça os torcedores poderão assistir aos jogos gratuitamente. Nesse caso, os ingressos custam entre 11 e 16 francos suíços; somente os lugares em pé são de graça.
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