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Armador suíço participa de regata de veleiros antigos

O Orion, de um armador suíço, em plena regata swissinfo.ch

Na baía de Imperia, na riviera italiana das flores, barcos históricos participam da regata Panerai Classic Yachts Challenge, a etapa italiana do circuito internacional que reúne veleiros construídos nos séculos XIX e XX.

Na principal categoria, Super Big Boat, venceu Orion, propriedade de um armador suíço, que mantém o anonimato por razões de privacidade. O proprietário restaurou o Orion original, varado ao mar em 1910.

A marina de Porto Maurizio, em Imperia, perto da fronteira entre a Itália e a França, lembra um museu naval flutuante. Velas, retrancas, mastros, timões e cordames antigos dão ao moderno ancoradouro um cenário cinematográfico. Os barcos parecem ter saído de filmes de época. Mesmo ancorados, eles são uma atração única. O Orion é visto de longe.

A escuna se destaca de todas as outras embarcações pelas dimensões. Ela tem quase cinquenta metros de comprimento e entre as oito concorrentes da sua categoria é aquela com maior esplendor e, ao final, velocidade, conquistando a vitória final das quatro regatas.

O comandante do Orion, o italiano Fausto, não tem dúvida: “acho que o primeiro proprietário estaria orgulhoso. Devolvemos ao barco à sua origem que fomos buscar aonde ele foi construído” afirma o oficial. Ele foi feito para a família real da Espanha, mais precisamente para o rei Afonso XIII (1886-1931). Foi ele quem o encomendou ao estaleiro inglês Camper & Nicholson, em Gosport.

De lá para cá, a escuna teve diferentes nomes e armadores e, em alguns casos, sofreu mudanças radicais no projeto, perdendo altura nos mastros e superfície de vela. Entre Sulvana, nome de batismo, e Orion, correu muita água embaixo do casco. E não é muito difícil encontrar a árvore genealógica da famosa escuna.

De volta ao passado

Com algumas crises de identidade, ele mudou de nome cinco vezes e de endereço e mais ainda de dono. A escuna passou das mãos do rei espanhol – por falta de crédito – às de um nobre inglês, Courtney E. Morgan, depois chegou a um francês, Jean de Polignac. Desde 1919, o barco foi chamado de Pays de France, Diane, Vira, até Orion, nome dado em 1930 pelo então armador espanhol Miguel de Pinillos, em homenagem à famosa constelação.

Em 1949 outra passagem de dono, desta vez para uma sociedade de Barcelona, onde sorte do barco estaria marcada em março de 1966 quando uma tempestade na no golfo de Leão, entre a Espanha e a França, causaria a Orion a perda dos dois mastros. Grandes obras de restauração se acumulariam ao longo das décadas a cada mudança de armador, algumas chegaram a descaracterizar o barco.

Foram cinco remodelagens oficiais em 40 anos. A última e definitiva durou dois anos, entre 2002 e 2004. Para reconstruir o barco nos mínimos detalhes o armador criou um estaleiro “ad doc”, nas vizinhanças de Marselha, sul da França.

O resultado agradou quem viu o Orion navegar durante a regata. Entre tantos outros barcos elegantes, a escuna singrava como tivesse sido varada poucas horas antes. Segundo a tripulação com as seis velas içadas, as manobras eram realizadas à perfeição e como reza a cartilha náutica: “Temos que pensar com antecedência, não é fácil encontrar sempre a direção justa. Mas a manobra mais difícil é trazê-la ao porto, ancorá-la bem é uma operação muito complexa”, explica o timoneiro, o italiano Andre Rossi. Ele sabe o que diz.

Em anos passados, antes do barco ser totalmente remodelado com os planos originais, o veleiro era menos eficiente, principalmente nas manobras com pouco vento; por isso, Orion participava mais de reuniões de barcos de época. Mas, ele dificilmente disputava regatas como faz hoje. Em uma delas o vento oscilava entre os 15 e os 20 nós de velocidade.

Navegação artística

História, tradição, competição e glamour encontram-se a bordo dos barcos de época. Alguns dos veleiros são verdadeiras casas navegantes. O Makara, de 1964, é a casa do armador já faz dez anos. A escuna Zaca foi moradia do ator de Hollywood, Errol Flynn, em 1946, e no ano seguinte, não por acaso, foi escolhida pelo diretor Orson Wells para participar de um filme com Rita Hayworth.

Ao lado de Orion, está atracado Zaca, um veleiro um pouco mais “novo”, de 1928. Dos 74 barcos presentes na regata, divididos em nove categorias, o mais antigo era o veleiro inglês Marigold, de 1892, projetado por Charles Nicholson, na época com 22 anos, o mesmo que construiria Orion quase duas décadas depois. Já o francês Lulu, de 1897, foi criado pelo pintor impressionista Rabot Caillebotte. Ao lado de Lulu estava ancorado o veleiro Bona Fide, que o derrotou na Olimpíada de Paris, em 1900.

Velhos companheiros de navegação se encontram nas águas do mar Mediterrâneo. Alguns barcos são verdadeiras jóias raras como o Tuiga, campeã da classe Big Boat, acima dos 23 metros de comprimento. O veleiro é um dos cinco remanescentes da Stazza Internazionale, construído em 1909.

Entre o rei da Espanha -ele, de novo – e o príncipe Alberto de Mônaco, patrocinador da compra do barco pelo Iate Clube de Mônaco, passaram-se 101 anos de história, sobrevivendo a duas guerras mundiais e quase “naufragando” com o descaso de um de seus proprietários, em meados da década de 70, salvando-se graças a um suíço.

O industrial suíço Albert Obrist, comprou o veleiro em 1990. Fascinado pelos iates varados pelo estaleiro de Fairlie, o colecionador recuperou Tuiga nos mínimos detalhes e, depois, passou o veleiro adiante.

Orion e Tuiga, com mais de 200 anos de história nos cascos e tantos mares navegados, são apenas dois exemplos de como dois suíços, nascidos em um país sem mar, contribuíram para a preservação da memória náutica mundial dos barcos à vela.

A XVI edição da Vela de Época de Imperia contou com presença de 74 barcos antigos que disputam regatas em Cannes, Antibes e Mahon, além de portos além mar, como Antigua, Nantucket e Newport.

Neste ano, o circuito inclui Isola de Wight (Inglaterra) e Marblehead (USA)
O evento é patrocinado pela Officcine Panerai, relógio de design italiano mas com montagem e mecanismo suíços, com a fábrica em Neauchâtel (oeste).

A empresa comprou e restaurou completamente no final de 2009 a escuna Eilean, um ketch de 22 metros de comprimento e construído em 1936.

Orion tem 46,93 metros de comprimento e 7,05 de largura.
A escuna Orion precisa de uma tripulação com, no mínimo, de 15 a 20 pessoas.

A reforma final recuperou o antigo espaço destinado ao proprietário, ou seja, 3/4, da embarcação. 1/4 é a área destinada ao pessoal de bordo.

A modernidade de Orion é restrita aos equipamentos de segurança.

Orion tem o apelido de Pérola do Mediterrâneo.

Os veleiros de época são aqueles varados antes de 1950, os clássicos construídos entre 1950 e 1977 e as réplicas reconhecidas pelo regulamento do Comitê Internacional do Mediterrâneo.

Existe ainda a categoria Spirit of Tradition, para as embarcações modernas que seguem os projetos e/ou os materiais que recordem o estilo de uma época.

Em julho passado, o lago de Léman, na Suíça, foi palco de um encontro de 80 barcos de época.

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