Basileia abandona coleta gratuita de objetos nas ruas
Quem mora em Basileia (noroeste) e outras cidades da Suíça já está acostumado a ver móveis e outros objetos jogados nas ruas em determinados dias do ano.
Mas desde 15 de dezembro, o bairro St. Johann foi o último a ter a coleta gratuita realizada pelo estado. Esse serviço público acabou devido a uma série de problemas verificados pelo Departamento de Ecologia e Energia de Basileia.
A partir de agora, cada casa e apartamento vai receber duas etiquetas por ano, ou seja, poderão colocar até 20 quilos grátis de objetos que não cabem nos sacos de lixo normais. Quem necessitar despachar mais de 20 kg por ano, terá que comprar as etiquetas: CHF 2,40 para 5 kg (50x100x50cm) e CHF 15 para 25 kg.
Grande quantidade
Em 2009, foram descartadas 3.500 toneladas desses materiais e no ano passado, 5 mil toneladas, segundo informações do Departamento de Ecologia e Energia do Estado de Basel. O projeto durou dois anos e a coleta era feita quatro vezes ao ano em cada bairro. Gundeli foi o quarteirão onde mais se descartou entulho em Basileia. O diretor do departamento, Jürg Hofer, revela que o problema foi as pessoas não terem respeitado o conceito de separação de materiais adotado pela cidade. De fato, sempre houve objetos colocados nas ruas, hábito nos países industrializados, onde o poder aquisitivo é maior e a substituição de utensílios também.
Além disso, como a mão de obra é muito cara, é mas barato comprar um objeto novo do que consertá-lo. O projeto de recolher objetos jogados pelos moradores, em dias definidos pela prefeitura, foi uma tentativa de conter os depósitos clandestinos na cidade.
Hofer diz que a quantidade de objetos deixados causou ao estado um custo de 2 mil francos em 2009 e de 1,5 mil francos em 2010. Outro motivo para acabar o projeto foi que a enorme quantidade de materiais deixou uma imagem não apropriada para a cidade e atrapalhou a passagem de pedestres nas calçadas. Também houve pessoas e empresários que não viviam em Basileia e levavam lixo de carro para depositar na cidade. Por fim, a lei suíça de proteção ambiental determina que quem causa custos (de despejar lixo nas ruas) tem que pagar por isso e o projeto violou esta lei.
Negócio do lixo
Tem gente que monta suas casas somente com esses móveis e utensílios jogados nas ruas. São televisores, DVDs, sofás, camas, colchões, tudo à disposição de quem quiser recolher. O estudante de Letras, Evandro Germann, sempre aproveitou os descartes feitos pelos moradores, inclusive já montou uma loja somente com os objetos recolhidos nas calçadas. Em 2008, ele e sua ex-namorada inauguraram seu negócio, o Kultatelier. Ele conta que era uma espécie de antiquário e brechó, mas que esses materiais não tiveram muita saída.
Quanto ao fato de não ter mais recolhimento grátis por parte da prefeitura, o estudante pondera os dois lados da decisão: “Isso tira a possibilidade das pessoas buscarem objetos nas ruas para reaproveitá-los, que é um ato ecológico. Além disso, o custo para descartar o material na Suíça é muito alto”, reclama Evandro.
Ele diz que por um lado há na sociedade o incentivo comercial para que as pessoas consumam mais e por outro formas ecológicas dos cidadãos reutilizarem os objetos descartados por outros.
Na Suíça, a administração do lixo varia de acordo com o tamanho das cidades, mas todas têm regras rígidas. Em algumas localidades pode-se entregar os lixos residenciais não recicláveis, como móveis e outros objetos, nos locais onde são queimados, ou em certas estações de bonde, como é o caso de Zurique.
Cada um paga pelo lixo que produz e é responsável por dar um destino correto a ele. Quem não o separa devidamente e não coloca nos , nas datas de reciclagem, paga mais por isso.
Em Basileia, o que não é reciclado deve ser posto nos sacos de lixos azuis e oficiais, comprados nos supermercados. Após a coleta, esses resíduos são queimados em fornos da prefeitura. Na compra destes sacos está incluída a tarifa de eliminação do lixo. Quem coloca objetos em outras embalagens age de forma ilegal e os resíduos não são recolhidos pelos serviços públicos.
Cada morador gera, em média, 709 kg de lixo por ano, cerca de 250 kg (35%) são reciclados (ver gráfico no link abaixo). O calor da queima do lixo é utilizado para aquecer a água da calefação de residências.
Colaborou Kathrin Witschi
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