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Como Blatter defende a Copa na África do Sul

Reeleição de Blatter também estará em jogo na Copa na África do Sul. Keystone

A pouco mais de um mês da Copa do Mundo na África do Sul, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, rebate as críticas à segurança no país-sede, garante que o torneio será um sucesso e deixará um legado positivo para todo o continente.

A Fifa acredita que os estádios do Mundial estarão lotados, mas admite que o sistema de venda de ingressos serviu de aprendizagem para a Copa no Brasil em 2014 e precisa ser revisto.

“Se necessário, poderíamos começar a Copa do Mundo nos próximos dias”, disse Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, durante uma entrevista coletiva à imprensa internacional, na sexta-feira (23/4), na sede da entidade, em Zurique.

A 48 dias do jogo de abertura entre a África do Sul e o México, os dirigentes da Fifa demonstram um otimismo inabalável. “Eu sou um homem positivo e lhes posso garantir que esta Copa do Mundo será um sucesso”, disse Joseph Blatter.

Falando a jornalistas, especialmente alemães e britânicos, ele mais uma vez rebateu as críticas. “Alguns de vocês não confiam na África do Sul. Se eu não tivesse defendido a instauração de um sistema de rodízio entre continentes no início do meu mandato, em 1999, a Copa do Mundo nunca seria realizada na África.”

Quanto à espinhosa questão da segurança, que voltou à tona após o assassinato do líder de extrema-direita sul-africano Eugene Terre’Blanche, Blatter disse que “a mídia se engana nesta questão. Onze milhões de turistas visitam anualmente de forma segura a África do Sul. Nós não duvidamos da capacidade do governo sul-africano de implementar um sistema de segurança à altura deste grande evento.”

Estádios bem cheios

Valcke mostrou-se satisfeito com a quinta fase da venda de ingressos, que começou no último dia 5 de abril. “Duzentos mil bilhetes dos 500 mil ainda disponíveis [2,9 milhões no total] foram vendidos em três dias. Pela primeira vez, estamos muito confiantes quanto à lotação dos estádios. Devemos chegar a uma taxa de 95% dos bilhetes vendidos. Não tivemos 100% de vendas nem mesmo na Alemanha 2006.”

A Fifa injetou US$ 100 milhões na organização local e para compensar perdas com a receita de entradas. Mas, além dos bilhetes para os operários que trabalharam na construção dos estádios, não serão liquidados ou distribuídos ingressos para encher os estádios, como ocorreu durante a Copa das Confederações no ano passado, garantiu Valcke.

O secretário-geral da Fifa admitiu que o sistema de vendas, de difícil acesso à maioria dos sul-africanos, precisa ser revisto: “Foi uma fase de aprendizagem para o Mundial no Brasil em 2014. Nós vamos rever a nossa política, vamos ser mais flexíveis e criativos.”

O número inicialmente estimado de 450 mil visitantes estrangeiros foi corrigido para 360 mil pela Fifa. “Não esqueçamos que, durante a Copas do Mundo anteriores, a maioria das viagens foram feitas dentro de um continente. E este número não inclui todos os visitantes de países vizinhos da África do Sul”, disse Valcke.

Compromisso pessoal

Blatter engajou-se pessoalmente pela realização da primeira Copa do Mundo em solo africano, cujo fracasso poderia comprometer a sua reeleição para um quarto mandato como presidente da Fifa em 2011. “Estou um pouco nervoso como um ator antes de entrar no palco. Mas esta adrenalina me leva adiante”, declarou.

O dirigente fez uma espécie de homenagem à África e ao futebol africano. “Nos últimos 50 anos, os jogadores africanos sempre foram uma fonte de enriquecimento para os clubes europeus. Não se pode sempre pegar sem devolver.”

Blatter disse esperar que uma equipe africana chegue à final ou às semifinais. “E o que se pode esperar do país-hóspede?” – perguntou um repórter através de videoconferência, direto de Johanesburgo. “Para ir longe em uma competição, é preciso marcar gols”, respondeu secamente o presidente da Fifa, em referência ao recente empate sem gols da África do Sul com a Coréia do Norte .

Um grande legado

O sucesso deste Mundial depende, em parte, do desempenho da “Bafana Bafana”, como é chamada a seleção sul-africana. Blatter acredita que “o futebol é o único esporte que pode unir todos os sul-africanos, independentemente de sua cor”.

“Mais do que o rugby”, acrescentou, referindo-se à vitória dos “Springboks”, durante Copa do Mundo de rugby de 1995, logo após a queda do regime segregacionista do apartheid. “Nós todos esperamos que Nelson Mandela possa realizar seu sonho assistir à partida de abertura da Copa do Mundo. O Mundial possibilitará a total integração das pessoas na África do Sul”, disse.

Blatter citou ainda o impacto positivo que o Mundial terá em termos de infraestrutura – estádios, estradas, aeroportos. Ele também mencionou as atividades realizadas no âmbito do projeto “Football for Hope” e os esforços da Fifa na luta contra a pobreza, o analfabetismo e os problemas de saúde.

“O futebol forneceu as ferramentas, ideias e energia para lutar contra a pobreza. Este é o grande legado que queremos deixar para o continente, através do futebol.”

Samuel Jaberg, swissinfo.ch
(Adaptação: Geraldo Hoffmann)

Em uma petição lançada em 14 de abril de 2010, a ONG Socorro Operário Suíço (Oseo) pede “cartão amarelo para Joseph Blatter”.

A ONG quer que a Fifa realize a Copa do Mundo somente em países que respeitam os direitos humanos e não exploram os trabalhadores.

Ela acusa a entidade máxima do futebol mundial de não ter feito nada contra remoção de favelas para ceder lugar a estádios. E operários da construção dos estádios da Copa teria ganhado “salários de fome”.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, tem reiterado que sua intenção ao escolher a África do Sul para sediar a Copa do Mundo 2010 foi ajudar a África, um argumento que é visto com ceticismo pela mídia.

Em entrevista ao jornal suíço Blick.ch, em janeiro deste ano, Blatter foi perguntado se não foram simplesmente os votos africanos para sua eleição em 2007 que o transformaram em “amigo da África”.

Resposta de Blatter: “Que absurdo! Na primeira eleição, em 1998, em Paris, a África votou majoritariamente em Lennart Johansson, e na segunda eleição, em Seul, em 2002, a África até teve um candidato próprio. Na terceira vez, em Zurique, em 2007, não houve candidato de oposição.”

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