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Conhecer a Suíça a pé – em 62 mil km de trilhas

Todas as trilhas de montanhismo estão bem sinalizadas. Keystone

A Suíça é um país montanhoso e seus habitantes gostam de caminhar. Em média, eles fazem 130 milhões de horas de caminhadas por ano.

O país tem mais 60 mil km de trilhas sinalizadas, quase tanto quanto estradas. Suisse Rando, a federação nacional das associações cantonais de turismo pedestre, completa 75 anos em 2009.

Os Alpes suíços são cruzados por belas estradas e ferrovias sinuosas, mas o melhor e mais barato meio de conhecer o país de perto é caminhar por sua infindável rede de trilhas. A população local há muito sabe disso.

Um em cada três suíços se considera um “caminhante ativo”. Em média, ele faz cerca de 20 caminhadas de 3,5 horas (cada) por ano. Esses 1,9 milhão de suíços andam a pé 130 milhões de horas por ano.

Hiking é o esporte mais popular da Suíça ao lado do ciclismo. E trilhas não faltam. O país alpino tem 62.441 km de trilhas sinalizadas (o que corresponde a 1,5 vezes a circunferência da Terra), mais de um terço (23.089 km) nas montanhas. Para comparar: a rede de estradas federais, estaduais e municipais é de 71.300 km.

Os três cantões (estados) com mais trilhas são os Grisões (10.344 km), Berna (10.120 km) e Valais (8.058 km). Há 30 anos esses caminhos são públicos e gratuitos, e fazem parte da infra-estrutura básica que o Estado oferece à população, conforme prevê o artigo 88 da Constituição helvética.

Com base nesse artigo, os cantões regulamentaram a responsabilidade pelas trilhas de hiking. Elas são criadas e mantidas pelas prefeituras, que costumam delegar o trabalho de marcação e sinalização a associações de montanhistas da região.

O país é atravessado também por quatro rotas internacionais: o caminho europeu E1 (da Suécia à Itália), a Via Alpina (de Mônaco a Trieste), o Caminho de Santiago (trecho Rorschach-Genebra) e a Via Francigena – da Francônia (Alemanha) a Roma.

O “fosso do rösti”

Um estudo da Suisse Rando e do Departamento Federal de Estradas aponta que, enquanto 39% dos suíços alemães (oeste) praticam o montanhismo, no Ticino (sul), esse índice é de 22%. Na Suíça francesa é de apenas 17% – índice igual ao registrado também entre os estrangeiros residentes na Suíça.

A pesquisa baseada no relatório Esporte na Suíça 2008 – que consultou 10.262 pessoas de 15 a 74 anos – revela que o montanhismo é popular entre homens e mulheres de todas as classes sociais. Jovens, pessoas com pouca formação e os estrangeiros em geral caminham menos.

Os caminhantes são mais esportivos do que a média da população. Muitos deles também praticam ciclismo, esqui ou natação. Sem o montanhismo, a Suíça teria mais 170 mil “inativos”, diz o relatório.

Dez por cento dos suíços fizeram pelo menos uma semana de férias de caminhadas nos últimos cinco anos. O típico adepto do hiking tem entre 40 e 60 anos, mas também 20% das crianças entre 10 e 14 anos já o praticam.

De maio a outubro de 2008, o estudo foi complementado com entrevistas junto a 2.225 montanhistas. Os motivos mais apontados para a prática do esporte foram o “contato com a natureza intacta”, “movimento físico”, “paisagem, montanhas, mundo dos Alpes”, “calma, regeneração e relaxamento”, “sociabilidade”, “ar fresco” e “aspectos de saúde”.

Bota e mochila

Os dois utensílios mais usados nesse esporte são a botas de caminhada (usadas por 90%) e mochila (mais de 90%). Bastões são usados por menos de 40% dos entrevistados, e pouquíssimos utilizam o Sistema de Posicionamento Global (GPS).

Isso também não é necessário. As trilhas na Suíça são bem sinalizadas e indicam a duração de cada etapa. A sinalização unificada foi introduzida há 75 anos, quando foi criada a federação Suisse Rando (Schweizer Wanderwege, em alemão).

Durante a Segunda Guerra Mundial, as placas amarelas foram recolhidas por ordem do exército suíço e guardadas até o fim do conflito para dificultar o movimento de tropas que eventualmente invadissem o país, como conta o presidente da federação, Peter Jossen.

Hoje as principais fontes de informações para planejar caminhadas são mapas de hiking (mencionados por 70% dos entrevistados), dicas de conhecidos (60%), livros sobre montanhismo (54%), bem como prospectos e brochuras (50%). A Suisse Rando publica uma revista bimensal com tiragem de 23 mil exemplares.

Pelo menos um quarto dos montanhistas também usa a internet para planejar suas aventuras. O site da agência estatal de turismo (MySwitzerland.com) oferece, por exemplo, um mapa interativo das trilhas do país, bem como a descrição de 53 rotas regionais e 44 roteiros pagos com duração de uma semana, que custam entre 530 e 1.200 francos, incluindo pernoite, transporte de bagagem e desconto no transporte público (veja links na coluna à direita).

A maioria dos montanhistas organiza suas caminhadas sozinho. Em trajetos leves é comum encontrar famílias inteiras, desde avós até os netos. Uma alternativa agradável é também andar em grupos de amigos e pernoitar em cabanas rústicas no alto das montanhas.

De acordo com a pesquisa da Suisse Rando, um montanhista gasta em média 43 francos (32 dólares) por caminhada com um pernoite, ou seja, 860 francos por 20 caminhadas ao ano. Isso inclui transporte, alimentação e hospedagem. A recompensa oferecida pela paisagem dos Alpes é garantida.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch

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