Montanha suíça moveu 10 centímetros por ano antes de cair
A montanha que enviou quatro milhões de metros cúbicos de rocha ao vilarejo suíço na quarta-feira é conhecida por ser instável. Uma seção da montanha moveu 30 centímetros ao longo de três anos, mas era impossível determinar quando tudo deslizaria.
Uma centena de pessoas ficaram desabrigadas e oito desaparecidas após o deslizamento do monte Piz Cengalo, no Vale Bonasca, no cantão dos Grisões, que atravessou o vilarejo de Bondo. Houve outro deslizamento de terra na tarde de sexta-feira, mas ninguém ficou ferido.
O desastre seguiu um deslizamento menos devastador em 2011, o que levou os pesquisadores a examinar de perto a montanha entre 2013 e 2016. Usando tecnologia de radar e infravermelha, os pesquisadores descobriram que uma grande parcela, de vários milhões de metros cúbicos (ver foto), havia se deformado em 30 centímetros ao longo do período de observação – 10 centímetros por ano.
O relatório “Influência do Permafrost nos Deslizamentos de Terra”, conduzido por ArgeAlp, indicou um “movimento profundo” de “inclinação e deslizamento”. As autoridades locais já haviam instalado um sistema de alarme para alertar do perigo de deslizamentos.
O problema era prever os deslizamentos com algum grau de precisão, explicou Marcia Phillips, do Instituto de Pesquisa da Neve e Avalanche SLF, em Davos. “O permafrost só tem um pequeno papel em um evento deste tamanho”, disse para swisisnfo.ch. “A estrutura geológica da montanha e a água acumulada em suas fendas foram mais importantes”.
O Piz Cengalo é composto de camadas de rocha, “muito parecidas com uma cebola”, explica a especialista. A água acumulada abaixo da camada superior, empurra gradualmente para fora durante milhares de anos. “A causa desses eventos ocorre em profundidade e pode demorar muito tempo para que a montanha reaja”, disse Phillips.
O gelo recuperado em fendas de outra montanha datava de 6 mil anos, acrescentou. Dadas as naturezas profundamente arraigadas das forças que atuam na montanha, deslizamentos podem ocorrer em qualquer época do ano. Os eventos mais pequenos, regidos pelo descongelamento do permafrost, são provavelmente provocados após algumas semanas de uma onda de calor.
O Instituto Federal Suíço de Pesquisas Florestais, da Neve e Paisagens WSL monitora regularmente o permafrost nos Alpes suíços e controla os buracos nas montanhas para verificar a temperatura da rocha. O instituto SLF controla áreas do Piz Ketsch, nos Grisões, até o Matterhorn, no Valais, o Jungfrau, em Berna e o Klätsch, no cantão de Glarus. Mas não controla o Piz Cengalo.
Durante vários anos, os cientistas alertam sobre um aumento do risco de deslizamentos de terra na Suíça por causa das temperaturas elevadas que descongelam o permafrost e derretem as geleiras. No caso do Piz Cengalo, o deslizamento foi causado pela erosão natural que formou fissuras que permitiram a infiltração de água na montanha. Este efeito é ampliado quando há maiores diferenças de temperatura entre o inverno e o verão, fazendo com que o gelo se derreta e se transforme em água.
De acordo com a Plataforma Nacional Suíça para Riscos Naturais, cerca de 6 a 8% da superfície da Suíça é instável. “Devido à alta intensidade de certos movimentos de massa, a viabilidade técnica das estruturas de proteção e outras medidas de segurança é muitas vezes limitada, ou pode ser muito cara”, afirma o site. “Tal como acontece com outros processos naturais, as áreas perigosas devem, sempre que possível, ser evitadas. Onde isso não é possível, medidas muito extensas podem ser necessárias”.
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Vilarejo dos Grisões evacuado após deslizamento de terra
Adaptação: Fernando Hirschy
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