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Desastre japonês revive medo nuclear

Milhares de moradores ao redor da central atômica de Fukushima foram evacuados. Reuters

Após o terremoto e o tsunami devastadores, o Japão enfrenta agora uma ameaça nuclear sem precedentes.

Chocada, a imprensa suíça questiona o alcance da tragédia e as consequências que poderia ter sobre o debate energético no país.

“Hoje o Japão nos afeta a todos. Porque levanta uma questão ao mundo inteiro: podemos realmente continuar vivendo com usinas nucleares em torno de nós? Ainda podemos imaginar um futuro de paz com o átomo?”, destaca o jornal da Suíça francesa Le Matin.

A catástrofe nuclear causada pelo terremoto japonês reanimou o debate em torno da energia nuclear e os riscos das antigas centrais atômicas na Suíça. O lobby a favor dos investimentos em energia atômica no país sofre com isso uma derrota decisiva em uma batalha que estava praticamente ganha.

 

Ruptura

“O improvável aconteceu. Ele põe em causa as certezas técnicas, tão fortes isoladamente, mas extremamente frágeis quando confrontadas com a imponderável realidade. As consequências, e especialmente as lições deste novo acontecimento na história da energia nuclear, exigem uma nova análise serena da fiabilidade de um setor que muitos acreditavam ser uma solução para o futuro energético do país”, observa o jornal Le Temps, de Genebra.

Uma opinião partilhada pelo Neue Zürcher Zeitung (NZZ), de Zurique, “em todos os casos, o tão anunciado renascimento da energia nuclear pode ser, desde sexta-feira passada, fortemente contestado”. O jornal da Suíça alemã considera o dia 11 de março de 2011 (dia do terremoto japonês) como uma ruptura. Para a questão da energia nuclear, a data pode ser comparada ao 11 de setembro de 2001. “Essa cadeia de desastres representa um marco não só para o Japão, mas para o resto do mundo”, observa o NZZ, exigindo um debate sobre a energia nuclear. “Uma discussão honesta sobre a estratégia de fornecimento de energia é naturalmente inevitável.”

Riscos para as centrais suíças

O medo de uma catástrofe nuclear está bem presente, pois o desastre japonês evoca aquela de Chernobyl, embora todos concordem que não haja comparação. “Agora ainda é cedo para comparar este desastre com a implosão do reator 4 da central soviética de Chernobyl (1986). A preocupação é, no entanto, justificada”, diz o Le Temps.

Para o Tages Anzeiger, a preocupação é especialmente justificada pelo fato de que “desta vez a culpa não foi humana, como em Chernobyl, foi a natureza turbulenta que mostrou os limites”. E, como observou o jornal suíço-alemão, esses limites dão medo, porque eles enfatizam os perigos da energia nuclear.

“Quanto tempo os velhos reatores das centrais de Beznau e Mühleberg (antigas centrais atômica da Suíça) vão continuar funcionando?”, se questiona o Tages Anzeiger. Na Suíça, onde a questão nuclear está no auge das discussões, o desastre japonês tem uma ressonância particular. “As usinas nucleares mostraram sua terrível vulnerabilidade”, disse o L’Express, de Neuchâtel.

Para o jornal suíço-alemão Blick, as centrais nucleares suíças não têm reatores antigos. Eles foram construídos e mantidos de acordo com as regras da indústria nuclear. “Como no Japão”. Durante décadas, as usinas nucleares funcionam sem problemas, e estamos habituados a acreditar que elas são seguras. Os japoneses também acreditavam, até sexta-feira.

 

Debate transparente

Assim, no momento em que o lobby nuclear estava prestes a ganhar a votação por novas centrais nucleares em 2013, a imprensa suíça exige, em unanimidade, um debate que esclareça tudo sobre a energia nuclear. “Só um debate transparente permitirá ao povo decidir sobre a construção de novas usinas nucleares e sua alternativa, a utilização de energias renováveis. Os defensores da energia nuclear devem informar a população sobre os verdadeiros riscos, abandonando os discursos que ameaçam uma penúria de energia e que tratam a fissão atômica de forma angelical”, observa o Le Matin.

O tradicional NZZ, adverte, de seu lado, que neste ano de eleições o debate não deve girar em torno da exploração política do desastre no Japão. E que os partidos não devem fazer “propaganda barata à custa do sofrimento dos outros.”

Devastação. A costa nordeste do Japão foi devastada nesta sexta-feira (11) por um terremoto de magnitude 8,9, seguido por um tsunami. O balanço ainda é muito incerto. Poderia haver mais de 10 mil mortos só na Província de Miyagi, que tem 2,3 milhões de habitantes. Uma das regiões mais afetadas pelo terremoto.

Socorro. Milhões de sobreviventes estão sem água, sem eletricidade e sem alimentação adequada ao longo da costa. O governo japonês já mobilizou 100 mil soldados na área, mas parece não dar conta da catástrofe.

Ajuda. As primeiras equipes de resgate enviadas pela Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Suíça, Reino Unido, França e Estados Unidos chegaram ao Japão no domingo.

Nuclear. Em relação à ameaça nuclear, a preocupação está centrada ao redor da usina de Fukushima, no nordeste, a 250 quilômetros de Tóquio, onde ocorreu uma explosão no sábado do reator número um.

Preocupação. Domingo, a preocupação aumentava novamente após o anúncio de uma nova explosão. A manutenção do nível do líquido de arrefecimento do reator n°3 tinha entrado “em pane”, segundo as autoridades japonesas, que afirmaram que um processo de fusão podia ser desencadeado nos reatores 1 e 3.

Evacuação. A empresa TEPCO, operadora da usina, continua dizendo que não há nenhuma ameaça imediata à vida humana. No entanto, as autoridades japonesas ordenaram, no sábado, a evacuação de 140 mil residentes num raio de 20 km ao redor da central atômica.

Adaptação: Fernando Hirschy

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