Festival de Locarno aposta nos jovens diretores
Duzentos e nove longas-metragens, cinquenta estreias mundiais e vinte estreias de cineastas: o Festival Internacional de Cinema de Locarno na sua 63° edição se destaca pelo número de jovens diretores.
Na competição principal, um filme brasileiro: “Luz nas trevas – a volta do bandido da luz vermelha”, dos diretores Helena Ignez e Ícaro C. Martins.
“Locarno não é um festival especializado. Não escolhemos os filmes por uma temática. São os próprios filmes que fazem o festival”, explica Olivier Père, novo diretor artístico para justificar sua programação altamente fragmentada, sem nenhum fio condutor.
“Estamos aqui para criar surpresa, que pode passar por audácia, provocação e emoção”, continua explicando o sucessor do ex-diretor Frédéric Maire. “O importante é criar uma surpresa artística, uma descoberta, uma relação forte entre o espectador e os filmes.”
Essa é a abordagem assumida pelo novo chefe de “conteúdo” do mais importante festival de cinema da Suíça, um encontro que não se destina apenas ao público suíço ou europeu, mas “mundial”, como ressalta seu presidente.
Marco Solari estava presente na coletiva de imprensa organizada na prefeitura da cidade de Berna, onde explicou como o orçamento do festival em Locarno passou de 4 a 11,3 milhões de francos, dos quais apenas um quinto é autofinanciado. Essa progressão é uma necessidade, como acrescentou, “para manter a qualidade e as perspectivas futuras do evento.”
Apelo ao governo federal
Se o cantão do Ticino, sul da Suíça, e a iniciativa privada dão um forte apoio financeiro, muitos diretores sentem a falta de uma maior participação do governo federal helvético. Segundo Solari, o aporte estatal poderia aumentar para 400 mil francos. Ao mesmo tempo, ele considera que não seria ruim se o Estado patrocinasse mais intensamente outros festivais de cinema do país, “primos pobres” do Festival de Locarno em sua opinião.
O que importa é o cinema. E cinema jovem, pois este ano, com aproximadamente vinte películas de estreia de diretores, o foco central das diferentes seções do festival está nas novas gerações de diretores. Olivier Père se alegra quando afirma que Locarno “mostra uma grande curiosidade em relação a todos os gêneros e formas de produção, sobretudo as independentes.”
Também Locarno recebe em 2010 aproximadamente cinquenta estreias mundiais e filmes dos quatro cantos do planeta. Muitas produções francesas, mas também “uma forte presença da Romênia, de filmes originários dos países balcânicos, escandinavos, da América do norte e do sul e da Ásia”, comenta Père.
Em competição
Dezoito longas metragens disputam o principal prêmio do festival, o Leopardo de Ouro. A continuação de um dos mais importantes filmes do cinema marginal brasileiro, rodado em 1968, “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla (1946- 2004), é um dos filmes na principal mostra competitiva.
Com o roteiro deixado por Sganzerla, quem assume a direção nessa nova versão é Helena Ignez, viúva do diretor, ao lado de Ícaro Martins. No principal papel feminino, o longa-metragem conta com a participação da filha da diretora com o cineasta, Djin Sganzerla, que no filme contracena com seu marido, o ator André Guerreiro Lopes.
Da competição participam também dois filmes suíços, em estreia mundial: “Songs of love and hate», de Katalin Gödrös e “La petite chambre”, de Stéphanie Chuat e Véronique Reymond, com o ator Michel Bouquet.
Outra competição importante, a “Cineasta do presente”, recebe filmes que foram os primeiros ou segundos realizados pelos diretores participantes. Essa mostra se vê como um trampolim internacional e um laboratório. No total são 19 filmes, dos quais se destacam o documentário do suíço Stéphane Goël, intitulado “Prud’hommes”.
Os novos talentos também têm sua competição em Locarno. Uma seção onde se destacam autores internacionais, mas também suíços, consagrada aos filmes de diretores que ainda não conseguiram rodar um longa-metragem. E como essa seção, intitulada “Pardi di domani” festeja seus 20 anos de existência em 2010, os cinéfilos terão direito a uma retrospectiva de filmes marcantes de cineastas que hoje em dia fizeram um nome na praça.
“Fuori concorso”, a seção fora do concurso, apresentará obras recentes de cineastas como Lionel Baier, igualmente membro do principal júri, Jean-Marie Straub ou Emmanuelle Demoris e seu ciclo de documentários “Mafrouza” dedicado à vida em um bairro pobre de Alexandria.
Apoio e homenagens
Com o apoio da Cooperação Suíça (DDC, na sigla em francês), órgão estatal de ajuda ao desenvolvimento, 12 filmes da Ásia central e cineastas importantes dessa região estão participando da seção “Open Doors”. Durante o festival, os cineastas e produtores desses países serão auxiliados a encontrar coprodutores na Europa.
Além disso, o festival de Locarno também será, como todos os anos, palco de homenagens. A primeira delas é ao diretor suíço Michel Soutter, por ocasião da publicação da sua obra em DVD, mas também do italiano Corso Salani, falecido prematuramente em junho.
O diretor italiano Francesco Rosi – que estará presente em Locarno – o artista plástico Philippe Parreno e o ator americano John C. Reilly, figura emblemática do cinema independente dos anos 1990, que lança seu filme “Cyrus”, também serão homenageados durante o festival.
Outro grande momento para os cinéfilos, além da projeção de filmes importantes da história do cinema: a retrospectiva Ernst Lubistch, um mestre incontestado da comédia. O destaque para essa ação será a projeção na famosa Piazza Grande (a grande praça de Locarno, onde ocorre diariamente a exibição dos principais filmes) de “To be or not to be”, com uma mesa-redonda, análises de especialistas e críticos de cinema e também a presença da filha do diretor.
Lugar emblemático
Enfim, a Piazza Grande continua sendo “um lugar emblemático do festival” ao receber até oito mil espectadores por noite, como lembra o diretor artístico Olivier Père. Lá são oferecidos “filmes de autor com vocação de serem populares.”
Em 2010, o filme escolhido por Père para abrir essa mostra não competitiva vem da França: “Au fond des bois”, de Benoît Jacquot, também em estreia mundial. Outros exemplos da programação na praça: “L’avocat», com o ator Benoît Magimel, “Das letzte Schweigen”, thriller alemão de Baran bo Odar ou “The ugly duckling”, filme de animação do russo Garri Bardine.
A Piazza acolhe também dois filmes suíços. Em primeiro lugar, a biografia filmada de “Hugo Koblet – o ciclista com charme”, de Daniel von Aarburg, e “Sommervögel”, primeira ficção do documentarista Paul Riniker, para concluir o festival.
Swiss Films, órgão de promoção do cinema suíço, propõe também sua própria seção, que compreende neste ano 14 filmes “com um forte potencial internacional”. Dentre eles, o último do diretor francês Jean-Luc Godard.
Pierre-François Besson e Alexander Thoele, swissinfo.ch
O Festival Internacional de Cinema de Locarno ocorre de 4 a 18 de agosto de 2010.
O júri da competição internacional é composto por Eric Khoo (diretor de Cingapura), Golshifteh Farahani (atriz iraniana),
Melvil poupaud, (ator francês), Lionel Baier (diretor suíço) e Joshua Safdie (diretor americano).
O prêmio dado a um cineasta pelo conjunto da sua obra será entregue, em 2010, duas vezes.
Em primeiro lugar, a Alain Tanner, um dos maiores cineastas suíços, autor de vinte e cinco filmes dos quais se destacam “Charles mort ou vif”, “Les Années lumières” ou “Dans la ville blanche”.
Em segundo, ao chinês Jia Zhang-ke, nascido em 1970 e autor de nove longas-metragens, dos quais “Plateform”, “Still life” e “The world”.
O prêmio “Raimondo Rezzonico”, entregue a produtores independentes, será dado em 2010 ao israelense Menahem Golan (Godard, Altman, Schroeder, Chuck Norris…).
A atriz Chiara Mastroianni receberá um prêmio de excelência pelo seu trabalho.
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