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Fraude do ex-presidente da Nasdaq atinge também a Suíça

O império do célebre corretor da Bolsa de Wall Street desabou como um castelo de cartas. Keystone Archive

A maior fraude já cometida em Wall-Street: Bernard Madoff, gestor de fortunas e ex-presidente da Nasdaq, confessou ter volatizado 50 bilhões de dólares através de um sistema de pirâmide, no qual perdedores são grandes investidores em várias partes do mundo.

Também bancos em Genebra e Zurique estão entre as vítimas.

Se o ano já não fosse rico o suficiente em crises e perdas com muitos zeros, agora Wall Street adiciona mais uma gota ao copo a transbordar. Bernard Madoff, 70 anos, famoso corretor americano e ex-presidente do índice tecnológico Nasdaq, foi preso na quinta-feira à noite (11 de dezembro) pelo FBI no seu apartamento em Nova Iorque. Culpa: através de um sistema de pirâmide criado por ele, mais de 50 bilhões de dólares de investidores confiado às suas habilidades de administrador de fortunas foram pulverizados. Se for confirmada a queixa apresentada pelo órgão de fiscalização da bolsa americana SEC, essa será a maior fraude em toda a história de Wall Street.

Bernard Madoff era considerado em Manhattan como um legendário criador de fortunas. Um dos fundos de investimento criados por ele deu, durante várias décadas, rendimentos anuais de 11%, margens consideradas “paradisíacas” pelos analistas. A empresa Bernard Madoff Investment Securities LLC, criada por ele em 1960 com sua própria poupança – economizada como salva-vidas nas praias de Long Island, perto de de New York, e como instalador de chuveiro automático de extinção de incêndio – conseguiu durante muitos anos esconder as perdas e pagar os rendimentos prometidos aos proprietários das fortunas administradas graças ao dinheiro obtido dos novos investidores.

As vítimas da fraude que, segundo o SEC já está adquirindo dimensões “épicas” – são investidores privados, institucionais e alguns dos maiores fundos de hedge do mundo. Somente o gigante dos fundos Tremont Capital, já nas últimas semanas sofrendo fortes retiradas de clientes, deve ter investido milhões de dólares em produtos vendidos por Bernard Madoff.

Prejuízos até na Suíça

Também na Suíça as perdas são consideráveis no que hoje os americanos chamam de “esquema Ponzi” – lembrando o famoso charlatão Charles Ponzi, que nos anos 20 do século passado conseguiu se tornar milionário em apenas 90 dias graças a um sistema de pirâmide, do qual até mesmo Mussolini teria participado. Segundo estimativas do jornal Le Temps, apenas o mercado financeiro em Genebra já estaria contabilizando prejuízos de cinco bilhões de francos, dinheiro de clientes investidos por diversos bancos nos produtos de Madoff.

Dentre as instituições mais atingidas estaria o Union bancaire privée (UBP). O banco privado, que administra 127 bilhões de francos, reconheceu que seus clientes perderam cerca de 1% do total administrado, no esquema Madoff. O New York Times publicou uma carta do UBP, onde sua direção informava parceiros e acionistas sobre perdas individuais. Já o administrador de fundos EIM, sediado em Genebra, declara oficialmente a perda de 2%, cerca de 230 milhões de francos, do dinheiro que administra.

O banco Bénédict Hentsch, também de Genebra, comunicou na sexta-feira ter investido 56 milhões de francos do dinheiro de clientes em fundos de Madoff, o que corresponde a menos de 5% de toda a fortuna administrada. O banco encontra-se em uma situação delicada após ter fusionado com o Fairfield Greenwich Group. O administrador americano de fundos hedge é um das mais conhecidas vítimas do sistema de pirâmide. Segundo um comunicado de imprensa, eles teriam investido mais da metade do seu dinheiro, cerca de 7,5 bilhões de dólares, em fundos de Bernard Madoff. No final de semana o banqueiro Bénédict Hentsch foi aos Estados Unidos para tentar com seus parceiros do Fairfield uma forma de anular a fusão.

Aparentemente também o banco privado zuriquense Neue Privat Bank (NPB) tem produtos da Fairfield no seu portfólio. Segundo o Wall Street Journal, o banco teria reforçado sua parte com uma alavancagem (Leverage) de 3 para 1, um instrumento de aumenta os rendimentos, mas que também pode multiplicar os prejuízos. O NPB não comentou as possíveis perdas. Segundo uma lista do Financial Times, a lista de instituições helvéticas envolvidas nas perdas é completada também pelo Dach-Hedge-Fund RMF, sediado em Pfäffikon (cantão de Zurique).

Investidores no mundo inteiro ainda estão atônitos pelas dimensões dos prejuízos sofridos. Se mesmo grandes atacadistas do mercado como a Fairfield, atuantes há 25 anos no setor de fundos hedge, foram enganadas pelo sistema de pirâmide criado por Madoff, é porque este era extremamente difícil de ser descoberto.

Porém, os alertas não foram poucos. A empresa americana de consultoria Aksia já havia aconselhado, através de uma carta enviada a investidores em dezembro de 2006, que eles não investissem nos produtos vendidos por Madoff. Eles haviam descobertos que a empresa encarregada de controlar as suas contas era composta apenas por três funcionários: um de 78 anos, sua secretária e um contador com um escritório de apenas 20 metros quadrados em Nova Iorque. “Estou chocado pelo fato de investidores terem completamente ignorado os alertas frente aos rendimentos prometidos que eram bons demais para serem reais”, declarou Jim Vos, executivo da Aksia.

Sinais de problema

Um administrador suíço de fundos hedge analisou os fundos Madoff várias vezes nos últimos anos. “Os rendimentos constantes e, apesar das diferentes situações nos mercados, sempre elevados, nos chamaram a atenção e nos convenceram de não colocar nosso dinheiro lá”, declarou ao jornal NZZ am Sonntag. Os alertas gerais não foram, porém, capazes de frear a pessoa que era conhecida como uma legenda de Wall-Street.

Madoff era membro do renomado Palm Beach Country Club na Flórida, onde recrutou um bom número de clientes. “Seja na hora do almoço ou nos jogos de golfe, todos falavam na capacidade de Madoff de ganhar dinheiro e queriam por isso também participar”, revela um membro do clube. Ele era convidado freqüentemente para festas. Por investidores judeus ele era conhecido pelo nome respeitoso de “The Jewish bond” (O certificado judeu).

Além disso, a empresa de Madoff possuía uma licença de primeira categoria para atuar no mercado financeiro, o que os tornava tão regulados como um banco. Ao ser avaliado em 1992 pelas autoridades do SEC, conhecidos até então pela severidade, estas lhe declararam ilibada.

O escândalo – um grande “presente” à Wall Street na passagem de ano – foi desencadeado por um investidor que quis retirar sete bilhões de dólares dos fundos de Madoff, o que provocou problemas de liquidez. Logo depois ele convidou dois dos seus executivos para visitá-lo na residência em Manhattan, onde lhes revelou a verdade. “Estou perdido”, revelam os protocolos de queixa preparados pelo SEC com as palavras de Madoff e “eu não tenho mais nada, tudo era uma grande mentira, de fato um gigantesco sistema de pirâmide”.

Além da queixa, que fará de Madoff o maior fraudador da história americana, ele também está vivendo um drama familiar: os dois executivos convidados para ouvir suas revelações, e que também perderam muito dinheiro com seus negócios, são seus filhos.

swissinfo, baseado em artigo publicado no jornal NZZ

Os fundos vendidos por Bernard Madoff estão sendo chamados atualmente pelos americanos de “esquema Ponzi”, lembrando o famoso charlatão Charles Ponzi, que nos anos 20 do século passado conseguiu se tornar milionário em apenas 90 dias graças a um sistema de pirâmide, do qual até mesmo Mussolini teria participado.

As perdas dos investidores no esquema Madoff são avaliadas atualmente pelos analistas em 50 bilhões de dólares.

Para pagar os elevados rendimentos prometidos, Madoff utilizava o dinheiro obtido com os clientes mais recentes. Ele admitiu às autoridades que todo o dinheiro foi perdido.

O corretor e gestor de fortunas, Bernard Leon Madoff nasceu em 1938 em Nova Iorque. Há 22 anos ele lançou sua própria empresa – Madoff Investment Securities – com um capital inicial de cinco mil dólares, economizados por ele quando trabalhava como salva-vidas nas praias de Long Island e instalador de chuveiro automático de extinção de incêndio.

A empresa teve um forte crescimento pelo papel fundamental que exerceu na construção do índice tecnológico Nasdaq na Bolsa de Valores americana, da qual Madoff foi presidente durante alguns anos.


Ele é proprietário de casas em Roslyn (N. Y), Montauk (N. Y), Manhattan, Palm Beach e França, além de deter um iate de vinte metros de comprimento e também pertencer ao exclusivo clube Palm Beach Country Club.

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