“Futebol é o melhor vetor de integração da Suíça”
Domingo retrasado a seleção suíça Sub-17 tornou-se campeã do mundo na Nigéria. Nada menos do que 13 dos 23 jogadores da seleção campeã são jovens estrngeiros que nasceram na Suíça.
Na entrevista a seguir, Peter Guilliéron, presidente da Associação Suíça de Futebol (ASF), entidade máxima do futebol suíço, diz que essa vitória demonstra o papel essencial do futebol na integração dos estrangeiros.
Peter Gilliéron estava entre os 60 mil espectadores do Estádio Nacional de Abuja domingo retrasado, na pequena delegação suíça. Aos 56 anos, ele viveu ali um dos momentos mais importantes para o futebol suíço nas últimas décadas.
Ao derrotar a Nigéria na final (1 a 0), a seleção suíça Sub-17 deu ao país seu primeiro título mundial. O time que tem 13 jogadores binacionais é, desde então, considerado o símbolo de uma Suíça multicultural que ganha.
Peter Gilliéron, eleito presidente da Associação Suíça de Futebol (ASF) em junho passado, fala dessa vitória e de suas consequências. Fala também dos desafios que deverá enfrentar, a começar pelo da violência endêmica em torno dos grandes acontecimentos esportivos na Suíça.
swissinfo.ch: O que esse título de campeão do mundo vai mudar no futebol suíço?
Peter Gilliéron: A imagem da Suíça em relação em relação outros países do futebol melhorou bastante. Nós trabalhamos bem nos últimos anos, mas foi preciso um título para que as pessoas percebam.
swissinfo.ch: Pode-se dizer que a Suíça é campeã do mundo da formação?
P.G.: Temos certamente um dos melhores sistemas de formação do mundo e é certeza que somos um pouco invejados do estrangeiro. Especialistas de várias federações veem já há um certo tempo observar nosso trabalho. Não guardamos secredo para ninguém.
swissinfo.ch: Os treinadores dizem que entre 17 e 20 anos muitos talentos são perdidos. O que é preciso fazer na transição para o profissionalismo?
P.G. : Esse fenômeno não é ocorre somente na Suíça. Saber jogar futebol é muito importante, mas outros parâmetros também contam. O apoio familiar, a personalidade do jogador, o trabalho do clube etc. Todos esses fatores são primordiais para o sucesso de um jogador. Nós acompanhados esses jovens da melhor maneira possível, mas as influências externas – pais, empresários, clubes – são numerosas.
swissinfo.ch: O caso de Frédéric Veseli, capitão do Sub-17, é sintomático. O Manchester City recusa-se a pagar sequer um centavo ao Lausanne-Sport pela formação do jogador. O que a ASF pode fazer contra isso?
P.G.: As regras são estabelecidas pela FIFA e é somente nesse plano que é possível agir. Do nosso lado, tentamos convencer esses jovens de não sair muito cedo. Temos uma comissão de conselho jurídico, profissional e psicológico para jogadores e pais.
swissinfo.ch: Muitos editorialistas sublinharam que a vitória do Sub-17 na Nigéria era a da Suíça muticultural. O futebol pode mudar a sociedade?
P.G.: Esse fenômeno da integração já existe há anos e só é amplamente discutido agora. O que aconteceu com a seleção nacional na Nigéria, vivemos há muito tempo nos gramados da Suíça. Entre os 250 mil licenciados, 40% não são de nacionalidade suíça. A meu ver, não há um vetor de integração melhor do que o futebol. Há várias décadas, é jogando futebol que os imigrantes se aproximaram mais dos suíços.
swissinfo.ch: O fator socializante do futebol é importante para o senhor?
P.G.: É essencial. O futebol traz muito para a sociedade e não somente em matéria de integração. É uma escola de vida para 130 mil jovens do país. Eles aprendem a ganhar e a perder, a se integrar em uma equipe. Além disso, é benéfico para a saúde. Um título de campeão do mundo permite também reconhecer o justo valor social do futebol.
swissinfo.ch: Falou-se muito do “pacto de Abuja”, um acordo entre os binacionais, que teriam jurado fidelidade à seleção suíça. O senhor acredita nisso?
P.G.: Acredito muito. Fala-se muito de Rakitic ou Petric dois jovens talentos formados na Suíça e que escolheram outras seleções na idade adulta. Mas existem muitos outros como Senderos, Barnetta, Benaglio, Yakin, também de origem estrangeira e que disseram que a Suíça era a pátria deles e sempre jogaram na seleção nacional.
swissinfo.ch: Faz cinco meses que o senhor é presidente da ‘ASF. Qual o diagnóstico geral que o senhor faz do futebol suíço?
P.G.: Acho que é preciso ser fundamentalmente pessimista para dizer que o futebol suíço não vai bem. Estamos classificados para o Mundial da África do Sul e acabamos de ser campeões do mundo Sub-17. O futebol feminino também vai bem. Mas é claro que não vamos negar que existem problemas, como a falta de voluntários nos clubes e a violência em torno de eventos esportivos. Esse fenômeno, que aliás é de toda a sociedade, é levado muito a sério.
swissinfo.ch: Com esse problema sério da violência, vemos a acumulação de medidas repressivas. A última ideia é fichar os torcedores. Não estamos infringindo as liberdades individuais?
P.G.: Você está enganado. Não se trata de fichar torcedores, mas de atribuir-lhes um cartão “fair-play”, para que possam viajar tranquilamente para acompanhar seu clube. É uma espécie de carteira de identidade destinada a 99% dos torcedores que se comportam bem. Não vejo onde estejam ameaçados os direitos individuais. Esse sistema é praticado com sucesso há muito tempo na Inglaterra.
Também é preciso uma verdadeira vontade dos clubes e da polícia para combater essa violência. Por vezes, eles não tem a mão suficientemente pesada com essa minoria que cria problemas.
Samuel Jaberg, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)
Presidente.Peter Gilliéron foi eleito presidente da Associação Suíça e Futebol (ASF), entidade máxima do futebol suíço, dia 13 de maio 2009. Ele sucede a Ralf Zloczower, que ocupou o cargo desde 2001,.
Jurista. Nasceu em Brescia, Itália, onde passou os primeiros 13 anos de vida. É jurista de formação e trabalhou como advogado na Secretaria Federal de Seguros Sociais e na União Comercial de Queijo.
Futebol. Peter Gilliéron conhece perfeitamente o funcionamento da ASF porque foi secretário-geral da entidade desde 1993. Desde 1998, é membro de várias comissões da UEFA, União Europeia de Futebol.
Hooliganismo. A violência nos estádios surgiu na Suíça nos anos 1980. O futebol e o hóquei no gelo são os dois esportes coletivos mais populares na Suíça e onde existe mais violência.
Número. Em seu relatório 2008, a polícia federal (fedpol) afirma que existem quase 1500 pessoas com risco de violência, entre eles 250 hooligans, com riscos considerados altos. Cerca de 500 pessoas são classificadas como provocadoras de problemas.
Propostas. Muitas medidas foram adotadas para a Eurocopa 2008, disputada na Suíça e na Áustria. Na semana passada, os secretários estaduais de Justiça e Polícia decidiram reforçar essas medidas. A partir de 2011, todos os torcedores que viajam para acompanhar seus clubes deverão ter uma “identidade de torcedor” (fancart), câmeras de alta definição serão instaladas nos estádios, todos os lugares serão sentados e a venda de bebidas alcoólicas será terminantemente proibida.
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