Genebra foi centro de fraudes de Madoff
Há vários indícios de que a segunda maior cidade suíça foi um dos centros das operações do ex-presidente da Nasdap, Bernard Madoff, acusado de fraudar Wall Street em 50 bilhões de dólares.
A lista das vítimas da pirâmide financeira de Maddof aumenta diariamente. Clientes de pequenos bancos e também do UBS, bem como o Comitê Olímpico Internacional estão entre os atingidos na Suíça.
Segundo o porta-voz da Comissão Federal de Bancos (CFB), Alain Bichsel, os bancos helvéticos não foram diretamente atingidos pela fraude. “Até agora, não temos indícios de que bancos suíços tenham concedido créditos aos fundos de Madoff.”
Mas para alguns clientes afortunados, há muito dinheiro em jogo. Até o último final de semana, foram contabilizados cerca de 6 bilhões de dólares que teriam caído na armadilha de Madoff através de bancos suíços.
Na última sexta-feira, o Comitê Olímpico Internacional (COI), sediado em Lausanne, admitiu ao Wall Street Journal que poderá ter um rombo de 5 milhões de dólares por conta de aplicações no mesmo valor feitas no fundo fraudulento de Madoff.
Clientes do UBS atingidos
No sábado (20/12), foi revelado que um fundo do UBS, chamado Luxalpha e avaliado em 1,4 bilhão de dólares, também investiu em papéis de Madoff. A porta-voz do UBS, Tatiana Togni, não quis revelar quanto dinheiro está em jogo. Ela ressaltou, porém, que o UBS criou esta estrutura de fundo por desejo de clientes muito ricos. “O Bernard Madoff Investment Securities não constava na lista de produtos recomendados para investimentos diretos.”
Segundo informações do jornal NZZ, de Zurique, torna-se cada vez mais evidente que Genebra foi um importante centro de operações entre Madoff e investidores. Até o Banco Cantonal (estadual) de St-Gallen teria colocado em risco 50 milhões de dólares através de sua subsidiária genebrina Hyposwiss.
Outro exemplo: o banco espanhol Santander afundou mais de 3 bilhões de dólares de seus clientes em papéis de Madoff através da Optimal Investment Services, sediada em Genebra.
Genebra: um dos focos da fraude
Jornais suíços estimam que apenas em Genebra o prejuízo para bancos e empresas de gestão de fortunas possa chegar a US$ 5 bilhões. O Union bancaire privée (UBP), que administra 115 bilhões de dólares, reconheceu que seus clientes perderam cerca de 1% do total administrado no esquema Madoff.
O jornal Le Temps revelou que a administradora de forzunas Notz & Stucki, de Genebra, expôs 750 milhões de dólares (de um total de ativos de US$ 15 bilhões) aos riscos do esquma Madoff.
Já o grupo EFG Internacional admitiu que 402 milhões de dólares de seus clientes estão expostos indiretamente ao “perigo” do Bernard Madoff Investment Securities (US$ 127 milhões de ativos do próprio banco estariam implicados no risco).
Na última edição da revista L’Hebdo, o diretor-geral do Banque Piguet (controlado majoritariamente pelo Banco Cantonal de Vaud), Claude Piguet, confirmou que menos de 45 milhões de dólares (menos de 1% do dinheiro sob sua gestão) correm risco com a fraude do ex-presidente da Nasdaq.
O administrador de fundos EIM, sediado em Genebra, declarou oficialmente a perda de cerca de 210 milhões de dólares, 2% do dinheiro que administra. O respeitável banco Bénédict Hentsch, também de Genebra, comunicou na sexta-feira ter investido 47 milhões de dólares do dinheiro de clientes em fundos de Madoff, o que corresponde a menos de 5% de toda a fortuna administrada.
O Bénédict Hentsch pode ser uma das chaves para entender como Madoff conseguiu arrecadar tanto dinheiro em Genebra. O banco privado fusionou-se em setembro passado com o administrador norte-americano de fundos de hedge Fairfield Greenwich Group, principal vítima do esquema Madoff, com perdas de 7,5 bilhões de dólares. No último final de semana, o banqueiro Bénédict Hentsch conseguiu desfazer essa fusão.
Conexão brasileira
Há três meses, Hentsch havia dito ao jornal NZZ am Sonntag que a inusitada fusão servia para oferecer aos clientes o “acesso aos melhores fundos de hedge”. Por esse motivo, também outros administradores de fortunas buscaram contato com o Fairfield. “O fundador do Fairfield, Walter Noel, e Hentsch conheceram-se no Brasil e não à beira do Lago de Genebra”, informo o diário NZZ, na edição de domingo (21/12). Noel é casado com a brasileira Mônica, irmã do carioca de origem suíça Alex Haegler.
O contato com outros bancos teria ocorrido através do genro de Walter Noel, Philip Toub, que casou com Alix Andrea Noel em 1997. Segundo o jornal New York Times, Toub é filho de uma família de empresários de Lausanne. Os três genros de Walter Noel, com raízes colombianas, suíças e italianas, teriam forçado a venda mundial dos produtos de Madoff.
Outro aspecto curioso destacado pelo NZZ é o vínculo entre o Santander e o Union Bancaire Privée (UBP). “O banqueiro Paul Saurel é membro do conselho de administração das duas instituições e também do Banco Santander (Suisse). O UBP não quis comentar se isso tem alguma relação com as aplicações em papéis de Madoff nas duas instituições.”
Pelo fato de vários bancos suíços terem sido indiretamente atingidos, cogita-se uma ação conjunta para proteger os interesses dos clientes. O banco Reichmuth & Co., de Lucerna, que teve aproximadamente US$ 327 milhões – o equivalente a 3,5% de seus ativos sob gestão – afetados pela fraude de Madoff, contratou advogados em Zurique, Nova York, na Irlanda, em Luxemburgo e nas Ilhas Virgens (EUA) para cuidar do caso.
“Conforme informações da imprensa há muitos prejudicados na Suíça. Por esse motivo, avaliamos uma união de forças, isto é, uma ação coordenada com outros atingidos”, informa o Reichmuth & Co em um comunicado.
swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências e imprensa)
Nos EUA, os fundos vendidos por Bernard Madoff estão sendo chamados atualmente de “esquema Ponzi”, lembrando o famoso charlatão Charles Ponzi, que nos anos 20 do século passado conseguiu se tornar milionário em apenas 90 dias graças a um sistema de pirâmide, do qual até mesmo Mussolini teria participado.
As perdas dos investidores no esquema Madoff são avaliadas atualmente pelos analistas em 50 bilhões de dólares.
Para pagar os elevados rendimentos prometidos, Madoff utilizava o dinheiro obtido com os clientes mais recentes. Preso no dia 11 de dezembro, ele admitiu às autoridades que todo o dinheiro foi perdido.
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