Guia de montanha falece aos 104 anos
Legendário guia de montanhas Ulrich Inderbinen falece aos 104 anos. Em vida, o suíço chegou a escalar 371 vezes o Matterhorn.
Primeira escalada nessa montanha de 4.478 metros, uma das mais impressionantes do país, ocorreu em 1921.
O anúncio do falecimento foi publicado na terça-feira (15 de junho). Nele, a família anunciava aos amigos e admiradores que Ulrich Inderbinen, nascido em 1900, já não pertencia mais a essa existência.
Essa notícia não entristeceu apenas os habitantes de Zermatt, mas também suíços e montanhistas do mundo inteiro. Tendo completado 104 anos de idade, Ulrich Inderbinen era não apenas um dos montanhistas mais idosos do mundo, mas também uma “lenda das montanhas”.
Com seus oito irmãos, ele cresceu numa família pobre que vivia em Zermatt, um pequeno povoado nessa região montanhosa do cantão do Valais. Aos cinco anos de idade, Inderbinen já trabalhava como vaqueiro. Seu primeiro salário chegou aos treze, como pastor de cabras. Depois o suíço ainda exerceu profissões como trabalhador na construção civil, alfaiate e eletricista.
Com 90 anos no cume da montanha
Porém a verdadeira paixão de Ulrich Inderbinen eram as montanhas, essas falhas geológicas que tanto marcam o relevo da Suíça. Por isso, nada mais lógico do que começar a escalá-las. Sua carreira alpina começou em 1920, depois da compra do primeiro par de esquis. Um ano depois, Inderbinen subiu no Matterhorn, a impressionante montanha, cujo topo está a 4.478 metros acima do mar.
Em 1925, ele concluiu a formação da escola de guias de montanha. O curso era composto de três dias de treinamento ao ar-livre e cinco dias de teoria das práticas de escalada e segurança. Apesar de estar formado, a profissão só pode ser exercida plenamente a partir de 1960, quando essa região montanhosa do cantão do Valais foi descoberta pelos turistas.
Ulrich Inderbinen virou manchete na imprensa internacional em 1990 durante as comemorações do 125o ano da primeira escalada do Matterhorn: nesse dia ele subiu pela 371o vez a montanha, acompanhado pelo político suíço e apaixonado montanhista Adolf Ogi, que na época ainda era ministro de Estado. Detalhe: Inderbinen tinha 90 anos na sua última escalada.
Ao alcançar essa idade avançada, o suíço ainda continuou a passear nas montanhas. Quando completou 100 anos de idade, o povoado de Zermatt organizou uma exposição sobre sua vida.
Filosofia de vida positiva
Nos mais de 70 anos de carreira como guia de montanhas, Ulrich Inderbinen fez apenas uma vez uma pausa de dez dias, depois de ferir-se no ombro.
“Minha boa saúde devo a maneira positiva como eu levo a minha vida, ao amor à natureza e também à minha profissão. Como criança eu aprendi que precisamos de muito pouco para ser feliz e a ter menos exigências. Também aprendi a acreditar no trabalho duro”, revelou Inderbinen na sua biografia, publicada em 1996.
“Estresse e pressa eu não conheço. Eu vivo como se estivesse subindo montanhas: através de passos lentos e bem pensados. Sou conhecido pelos meus colegas como aquela pessoa que não gosta de parar, antes de alcançar o objetivo”.
Ao 96 anos, o fervoroso católico pôde realizar um sonho: uma viagem à Roma, onde Ulrich Inderbinen foi abençoado pessoalmente pelo Papa João Paulo II.
Apesar da sua fama mundial, o suíço continuou apegado às suas origens. Ele não possuía nem automóvel, bicicleta e, nas poucas férias que teve, nunca conseguiu ver o mar. “Eu sou a única pessoa em Zermatt que não tem telefone”, dizia com orgulho Inderbinen.
Na segunda-feira à noite, o escalador centenário faleceu dormindo.
swissinfo com agências
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