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Imigrantes portugueses festejam Fátima em Einsiedeln

Procissão com a imagem de Nossa Senhora de Fátima em frente ao mosteiro de Einsiedeln. swissinfo.ch

Cerca de nove mil imigrantes lusófonos - a absoluta maioria portugueses - participaram neste domingo de uma peregrinação nacional ao mosteiro de Einsiedeln, no cantão de Schwyz, no centro da Suíça.

O evento, o maior do gênero entre os estrangeiros que vivem na Suíça, serve também de ponto de encontro anual para os imigrantes portugueses no país.

Numa mistura entre procura da fé, convívio e encontro entre portugueses radicados no estrangeiro, inúmeros carros e ônibus (autocarros) vieram de todas as regiões da Suíça. Associações e paróquias portuguesas organizaram lotações para facilitar a viagem. Pela primeira vez, também mais de 500 motocicletas (motards) participaram do evento.

Houve até início de congestionamento na entrada do povoado de apenas 13.700 habitantes. Quem chegou de trem e seguiu pela rua principal de Einsiedeln até a praça do mosteiro, notou logo que a população local estava preparada para a invasão lusófona. Alguns restaurantes anunciavam pratos típicos portugueses e exibiam cardápios na língua de Camões.

A celebração religiosa durou cerca de duas horas. Por volta das 11h30, uma procissão deu uma volta pela praça e levou a imagem de Nossa Senhora de Fátima para dentro da basílica, onde foi celebrada uma missa solene. Por falta de espaço, muitos fiéis ficaram do lado de fora – e não havia telão.

A romaria não serve apenas para rezar. À tarde, entre as 14h30 e 19h, ainda houve um festival cultural no centro comunitário de Einsiedeln. Vários grupos folclóricos e de dança mostraram exemplos de como procuram preservar na Suíça as tradições trazidas das diferentes regiões de Portugal.

Ponto de encontro

Einsiedeln tem fama internacional desde a Idade Média por marcar uma das etapas do Caminho de Santiago de Compostela. O mosteiro beneditino incorpora uma magnífica igreja barroca, no interior da qual se encontra a capela de Nossa Senhora dos Eremitas, uma Virgem negra, principal atração do povoado.

Segundo Aloísio Araújo, padre da comunidade portuguesa de Lausanne, essa é a maior peregrinação de estrangeiros na Suíça. “Todos os anos participam entre 8 e 10 mil pessoas”. Com aproximadamente 200 mil pessoas, os portugueses formam o terceiro maior grupo de imigrantes no país, depois dos italianos e alemães.

Araújo, um dos 19 padres portugueses na Suíça, aponta três motivos que levam seus conterrâneos imigrantes a Einsiedeln: a devoção à Nossa Senhora de Fátima, o encontro com amigos e conhecidos de outras regiões do país e o cultivo das tradições culturais.

Há 18 anos, sempre no domingo de Pentecostes, a peregrinação da Virgem Negra é feita com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, por causa do grande número de portugueses que participa da celebração.

Fé também migra

“Esta é uma peregrinação que tem muito sentido para o povo português e para o espaço cultural da lusofonia. Nas orações tivemos presentes também pessoas do Brasil, de Cabo Verde, Angola e Moçambique. É assim que temos feito todos os anos este grande encontro mariano da língua portuguesa”, diz o padre Bártolo, delegado nacional para a Pastoral Católica da Comunidade Lusófona na Suíça.

Bártolo, capelão em Zurique, está retornando a Portugal depois de 15 anos à frente da Missão Católica Portuguesa na Suíça. Na opinião dele, “a fé também migra. O povo português e brasileiro tem uma forte devoção mariana. Portanto, tudo o que temos lá também temos aqui”.

Ele não acredita que o fato de os portugueses permanecerem entre si nas atividades religiosas e de lazer facilite a criação de guetos. “Temos uma situação bem diferente das correntes migratórias dos anos 60 ou 80. Hoje está tudo mais diluído. Estamos mais próximos uns dos outros. As comunidades portuguesa e brasileira estão muito bem integradas na sociedade helvética”, afirma.

Essa opinião é partilhada também por Aurélia Arcanjo Helfer, brasileira que participa da comunidade católica lusófona de Berna. “A integração é possível, sim, através da vida religiosa”, diz.

Isso funciona “quando a fé realmente é vivida no amor ao próximo”, acrescenta. “Nós prestamos desde assistência psicológica a auxílio burocrático aos imigrantes. Quando não podemos ajudar, encaminhamos para as autoridades competentes”, explica a tradutora intercultural que veio de Recife e vive há oito anos na Suíça.

Maria da Conceição, portuguesa de Vila Real (Trás os Montes), há 17 anos na Suíça, diz ter orgulho de participar da igreja e de passar esse costume aos filhos. “Às vezes, os suíços dizem que temos de nos esforçar um cadinho mais para entendermos a língua deles – e eles têm razão. Mas eu me sinto bem integrada”, diz.

“Relação maternal”

Talvez mais do que os suíços, os portugueses ainda consiguam passar a tradição religiosa aos filhos. As missas em português lotam todos os domingos. Só em Genebra, mais de 2.500 crianças portuguesas frequentam a catequese. No cantão do Vaud, onde vivem cerca de 40 mil portugueses, são outras 1.500, segundo o padre Aloísio Araújo.

Na opinião de Maria da Conceição, a relação dos portugueses com Nossa Senhora de Fátima é algo quase maternal. “Em Einsiedeln, há uma capelinha dedicada a ela. Nós viemos venerar a nossa mãe. E onde ela estiver, estaremos nós”, diz.

Distante mais de dois mil quilômetros do Santuário de Fátima, Einsiedeln não é o único lugar em que os portugueses radicados na Suíça celebram sua fé em Nossa Senhora. No início de maio, muitos deles participaram da 43ª peregrinação à Nossa Senhora de Fátima do Mont Roland, na região do Jura, nordeste de França, que todos os anos reúne entre 15 e 20 mil fiéis.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch

O turismo religioso mundial movimenta entre 300 e 330 milhões de pessoas por ano, gerando receitas de 15 a 18 bilhões de euros.

Em Portugal envolve cerca de sete milhões de pessoas/ano e, embora não haja estatística oficial, deve corresponder a cerca de 10% do movimento turístico total, gerando receitas anuais de 700 milhões de euros.

Fátima é o principal destino, com cerca de cinco milhões de visitantes por ano. Na Europa, o santuário português é superado por Lourdes (França), com seis milhões de visitantes/ano, e seguido por Santiago de Compostela (Espanha), com cerca de 4 milhões.

Einsiedeln é o principal destino do turismo religioso na Suíça. Em 2007, recebeu 400 mil peregrinos.

Fontes: Lusa e kath.net

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