James Bond e o país das contas secretas
"Quantum of Solace", que estréia esta semana nos cinemas de 57 países, é dirigido pelo suíço-alemão Marc Foster e tem o zuriquense Anatole Taubmann no papel de vice-vilão.
Esse é o “quantum de swissness” do novo filme de James Bond, em que o ator Daniel Craig reinventa o superespião 007, cuja relação histórica com a Suíça é complicada, como mostra um novo livro.
Há 40 anos, 007 conquistou o pico de Schilthorn (2.970m), cenário do filme A Serviço Secreto de sua Majestade, considerado um dos melhores Bond de todos os tempos.
James Bond trouxe consigo dez mulheres maravilhosas, duas toneladas de filmes virgens, dezenas de toneladas de equipamentos cinematográficos e uma equipe de 200 pessoas.
Durante sete meses (de outubro de 1968 a maio de 1969), o herói do cinema reinou nos Alpes berneses. A filmagem foi um espetáculo, a maior produção realizada na história da Suíça.
Para a sexta aventura do superespião, os moradores de Mürren construíram a imitação de uma torre de igreja e transportaram toneladas de neves para os sets. Até um pedaço de geleira foi detonado.
A mãe e a Bond Girl
James Bond e a Suíça – isso é uma longa história, tão interessante que valeria um filme. O escritor Ian Fleming, o “pai” do agente imortal, deu uma mãe suíça ao seu herói – um espião tão britânico quanto a rainha da Inglaterra, os Beatles ou Robin Hood, com uma boa dose de sangue suíço.
Em seus romances de aventura, Bond sempre volta a lutar na Suíça, e importantes filmes e seqüências de filmes foram rodados no país alpino.
A atriz suíça Ursula Andress, considerada a melhor Bond Girl, e o diretor Marc Foster (que nasceu na Alemanha, mas é também cidadão de Davos) tiverem ou têm papéis determinantes em alguns desses filmes.
Em Quantum of Solace, a conexão suíça é completada pelo ator Anatole Taubmann, num papel secundário de vice-vilão. Logo na primeira parte do filme, ele aparece falando ao telefone com a mãe, naturalmente no incompreensível dialeto suíço-alemão.
“País de frustrados sexuais”
Os detalhes das quatro décadas de relações de 007 com o país das contas secretas são revelados nas 300 páginas do novo livro James Bond und die Schweiz (por enquanto, só em alemão), escrito pelos jornalistas Michael Marti e Peter Wälty, redatores da plataforma eletrônica Newsnetz.
Eles reconstroem, entre outras coisas, os anos que Ian Fleming passou à beira do Lago Léman, onde se destacou menos como autor do que como “protótipo do britânico esnobe”. Mais tarde, a mãe de Bond ganharia o nome da noiva que Fleming teve em sua juventude na Suíça – Monique Panchaud de Bottons.
A imagem que Fleming tinha da Suíça, segundo Marti e Wälty, não era muito positiva. Em uma reportagem para o Sunday Times, ele teria descrito o país como “uma idílica casinha de bonecas, habitada por homens e mulheres sexualmente frustrados. Sua religião é o dinheiro, seu deus, o franco, e os únicos refugiados bem-vindos são os refugiados fiscais.”
Em seus romances, a Suíça serve principalmente de palco para negócios sujos e refúgio de bandidos, como o vilão Blofeld, que inclusive foge para o exterior com passaporte suíço.
Cenário pitoresco
Mas os filmes de James Bond também mostram aspectos positivos da Suíça, sobretudo quando o país serve de cenário pitoresco. Por isso, a maior parte do livro é dedicada às filmagens de 007 Contra Goldfinger (feitas em 1964, em Andermatt e no desfiladeiro de Grimsel) e A Serviço Secreto de sua Majestade (1968-1969, nas montanhas do cantão de Berna).
O livro vem recheado de anedotas contadas por moradores locais sobre os trabalhos de filmagem, em que alguns deles atuaram como figurantes por 50 francos ao dia. Um capítulo é dedicado à “mãe de todas as Bond Girls”, Ursula Andress, nascida em Ostermundigen, próximo à capital Berna, e que hoje tem 72 anos.
Um pouco forçado é o capítulo sobre as raízes helvéticas de Marc Forster e Anatole Taubmann, cuja atuação em Quantum of Solace tem pouco a ver com seu lado suíço. Mesmo assim, o livro desperta a curiosidade por velhos filmes de James Bond e pelos romances de Ian Fleming.
swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)
O novo filme de James Bond foi lançado nos cinemas britânicos na última sexta-feira (31/10) e chegará aos Estados Unidos, o principal mercado mundial, em 14 de novembro.
Espera-se ele supere a marca global de bilheteria de 594 milhões de dólares, alcançada pelo filme anterior, Cassino Royale, há dois anos.
As reações à pré-estréia em Londres não foram só positivas. “Craig (Daniel Craig, no papel principal) faz um cadáver atrativo, mas Bond está morto”, escreveu o Sunday Times.
Os críticos suíços que viram o filme se abstiveram de proferir uma sentença final. Mas vários deles também mencionaram que Marc Forster sacudiu a poeira e rompeu com muitas coisas que faziam parte da fórmula de sucesso dos filmes de James Bond nos últimos 44 anos. “Isso nem sempre é bom”, escreveu o jornal SonntagsZeitung.
O tom geral dos que viram o filme até agora é que 007 tornou-se extremamente violento e deixou de ser um gentlemen.
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