Jovem açougueiro é novo “rei” da luta suíça
No maior evento esportivo do ano na Suíça, o jovem açougueiro e aprendiz de carpinteiro Kilian Wenger, de 20 anos, foi coroado novo rei da luta suíça, considerado o esporte nacional do país alpino.
Cerca de 250 mil pessoas visitaram neste final de semana a 88ª Festa Federal de Luta Suíça e Jogos Alpestres, em Frauenfeld, no cantão de Turgóvia (nordeste). A presidente suíça destacou as virtudes dos lutadores.
Quem viajava neste final de semana pela autoestrada 7, entre o Lago de Constança e Zurique, via no lado direito, na altura de Frauenfeld, uma extensa área agrícola (70 hectares, segundo os organizadores) transformada em um gigantesco estacionamento de carros.
Era o primeiro sinal visível à distância da Festa Federal de Luta Suíça e Jogos Alpestres, realizada a cada três anos em um local diferente e que, com um orçamento de 20 milhões de francos, transformou-se no maior evento esportivo deste ano no país.
Milhares de trailers e barraquinhas de acampamento, bem como inúmeras barracas de alimentação e de souvernirs completavam o cenário ao redor da Arena de Turgóvia, o palco principal das lutas entre “os maus”, como são carinhosamente chamados os musculosos atletas.
A arena, com sete ringues e arquibancadas desmontáveis com capacidade para 47.500 pessoas, foi especialmente „construída“ para o evento. E esteve lotada nos três dias de festa – de sexta a domingo. Nenhum estádio de futebol na Suíça tem capacidade para tanto público.
A luta pela coroa
O que estava em jogo em Frauenfeld era a coroa de rei da luta suíça, uma luta um pouco parecida com o sumô japonês, só que na versão suíça o atleta tenta derrubar o adversário de costas num ringue coberto de serragem.
No total, 281 lutadores suaram a camisa pela coroa – no domingo, a temperatura na arena superou os 30 graus. Ao final das primeiras quatro rodadas, no sábado, Kilian Wenger, de 1,90 m e 100 kg, já liderava o placar. Mas ele tinha um osso duro pela frente. No primeiro duelo deste domingo, derrotou o tricampeão e defensor do título Jörg Abderhalden, abrindo o caminho para o triunfo.
Nas rodadas seguintes, o jovem açougueiro e aprendiz de carpinteiro oriundo do vale de Diemtigtal, nos Alpes de Berna, derrubou um adversário após o outro, e na penúltima luta abriu uma vantagem de 1,75 ponto, o que já lhe garantia a vitória antecipada do torneio.
Mas, para ganhar a coroa de rei, segundo a regra, precisava vencer ou pelo menos empatar o último duelo – e ele derrotou o experiente Martin Grab. Com oito vitórias em oito lutas, feito que nenhum lutador havia realizado desde 1980, Wenger destronou o tricampeão Abderhalden, que ficou em segundo lugar.
“Golfe rural” e lançamento de pedra
Foi a primeira vez nos últmos 18 anos que um atleta do cantão de Berna venceu o título nacional de luta suíça. O antecessor de Wenger como “rei” oriundo deste estado foi Silvio Rüfenacht, que triunfou em 1992, em Olten (centroeste).
Desde então, a festa federal fora dominada por atletas do nordeste do país: Thomas Sutter (1995), Jörg Abderhalden (1998, 2004 e 2007) e Arnold Forrer (2001). Os nomes dos doze “reis da luta suíça” ainda vivos estavam gravados numa galeria no caminho de acesso à Arena da Turgóvia. Havia uma vaga para o vencedor de hoje.
Além dos duelos entre “os homens mais fortes do país”, 420 atletas disputaram competições de hornussen (uma espécie de golfe rural) e 85 mediram forças no lançamento de pedra. Nesta disciplina, o campeão Peter Michel, de Interlaken, lançou uma pedra de 83,5 kg a uma distância de 3,69 metros.
Tradição com grande valor simbólico
Mas a Festa Federal de Luta Suíça e Jogos Alpestres não se resume às inusitadas competições desses três tradicionais esportes suíços, que rendem prêmios no valor de 750 mil francos. Outras tradições nacionais, como a música do corne dos Alpes e dos enormes sinos de vacas ou o yodel, o canto suíço, também não podem faltar (sem falar da comida e dos trajes típicos).
Mostras disso foram o desfile de abertura, na sexta-feira, do centro da cidade de Frauenfeld ao local da festa, e a cerimônia oficial da manhã deste domingo – um colorido show musical, que incluiu desfile das delagações com porta-bandeiras e um discurso da presidente suíça, Doris Leuthard.
“Os lutadores mostram empenho total e dureza, mas seguem as regras do fair play”, disse Leuthard. “Esse espírito que reina na Festa de Luta Suíça e Jogos Alpestres ajudou a forjar a Suíça e continuará ajudando o país no futuro”, acrescentou.
“Os schwinger (denominação alemã dos atletas da luta suíça) cultivam uma maravilhosa tradição com grande valor simbólico. O esporte provoca emoções e assim gera tradição suíça. Isso é muito importante em tempos em que a globalização causa alienação”, disse Leuthard.
Os organizadores, apoiados pelo exército e por 3.400 voluntários, não pouparam esforços para que não só os lutadores pudessem sonhar com a coroa de rei e sim para que também os visitantes se sentissem como prometia uma música composta especialmente para a festa: “Aqui todo mundo é rei”.
“Não tenho dúvida de que o esforço valeu a pena. A realização de um evento dessa dimensão tornou Frauenfeld e a Turgóvia, que fica um pouco distante das grandes rotas turísticas, mais conhecidos no país”, disse o presidente do Comitê Organizador, Urs Schneider.
Geraldo Hoffmann, Frauenfeld, swissinfo.ch
A Festa Federal de Luta e dos Jogos Alpestres ocorre de três em três anos. A edição 2010 ocorreu de 20 a 22 de agosto em Frauenfeld, cantão de Turgóvia (nordeste).
Participaram atletas das cinco associações regionais melhor classificadas nos torneios cantonais de montanha. No total, 281 atletas participaram dos dois dias de competição, entre eles 27 da parte francesa da Suíça e seis do estrangeiro.
O orçamento da edição 2010 foi de 20 milhões de francos, o que constitui o maior evento esportivo da Suíça. A arena construída para o evento tem capacidade para 47.500 espectadores. Todos os ingressos foram vendidos com antecedência. As competições foram transmitidas ao vivo pela televisão pública suíça.
Cerca de 250 mil pessoas visitaram a festa, segundo os organizadores. Elas consumiram, entre outras coisas, 200 mil litros de cerveja, 300 mil litros de água mineral e 130 mil salsichas grelhadas.
Considerada como o esporte national suíço, a luta suíça é praticada pelo menos desde o século 17 por agricultores de montanha.
A luta suíça é disputada em combates curtos chamados passes de 10 a 12 minutos. A final dura 16 minutos.
Os duelos ocorrem em ringues circulares cobertos de serragem. Os lutadores vestem por cima da roupa um grande calção de lona preso por uma cinta; é nesse calção que os lutadores se agarram.
O vencedor é o que consegue derrubar o adversário de costas e encostar os ombros no chão, sem largar o calção.
Em caso de empate, um juri avalia o desempenho dos dois lutadores atribuindo notas de 8,5 a 10 para determinar quem serão os adversários para o próximo combate.
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