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Mediador suíço explica contatos com as Farc

Gontard: alvo de críticas do governo da Colômbia. pascal frautschi

Jean-Pierre Gontard, que há anos mantém os contatos oficiais da Suíça com dirigentes das Farc e com o governo colombiano, explicou, em entrevista à televisão suíça TSR, como ocorrem essas negociações.

Foi uma entrevista exclusiva e rara à TSR, canal do grupo de mídia SRG (Sociedade Suíça de Radiodifusão) ao qual pertence também swissinfo, que fez um resumo das declarações do mediador.

A Suíça faz parte do grupo de países facilitadores (junto com a França e a Espanha) que há anos trabalha por uma solução humanitária para todos os reféns das Farc – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Desde o início, em 1998, Jean-Pierre Gontard foi o representante suíço nessas negociações.

“Eu conhecia um pouco da Colômbia e tinha experiência de conflitos porque trabalhei bastante tempo para a Cruz Vermelha Internacional e em projetos de desenvolvimento em países em guerra”, explicou Gontard no início da entrevista ao programa “Mise au Point”, transmitida no domingo à noite (06/07).

Os primeiros contatos das Farc foram com o governo suíço e depois com ele, afirmou Gontard. Ele então foi convidado para ir à Colômbia em um grupo de uma dezena de pessoas, explicou. Dois dias depois lhe disseram que, se quisesse ficar mais uns dias, poderia encontrar o fundador e então comandante das Farc, Manuel Marulanda, que morreu em maio último provavelmente de ataque cardíaco.

Gontard esteve na Colômbia ainda na semana passada e falou com o atual comandante das Farc, Alfonso Cano. Quando se preparava para ir ao aeroporto de Bogotá e voltar para a Suíça, um dos seus seguranças disse-lhe que ligasse a televisão porque algo deveria lhe interessar. Era a libertação de Ingrid Bettancourt e de outros 14 reféns, explicou Gontard na entrevista.

Confiança



“Ganha-se a confiança sendo discreto, e eles sabiam que essa era uma maneira de trabalhar dos suíços em situações de conflito; sendo perseverantes e demonstrando que também confiamos neles. O fato de aceitar um encontro em condições difíceis demonstra que não temos medo e que confiamos neles”, explicou Jean-Pierre Gontard.

Desde então ele manteve 22 encontros com as Farc e o mesmo número com membros do governo colombiano. Ele explicou ainda que o governo colombiano foi informado de todos os encontros com as Farc.

Gontard garante que participou de uma negociação, sempre em nome do governo suíço, para a libertação de mais de 300 militares detidos pelas Farc. “Eu não esqueci isso e as famílias deles também não. Elas sabem que, em grande parte, isso foi devido à Suíça.” O mediador conseguiu ainda a libertação de dois funcionários da Novartis, em 2001.

Libertação dos outros reféns

Depois da morte, em março passado, de Raúl Reyes, tido como o número dois das Farc, Gontard disse que não pôde voltar à Colômbia durante quatro meses, até o contato de alguns dias atrás com Alfonso Cano.

O objetivo agora é a libertação dos outros 24 reféns “políticos”, (três civis e 21 soldados e policiais), alguns detidos há mais de dez anos.

“Não se pode imaginar que o alto comando das Farc não esteja atualmente discutindo sua estratégia e talvez a revisão de alguns elementos porque foi um golpe muito forte do governo”, analisou Gontard.

“A vontade de retomar o contato com os três países amigos (França, Espanha e Suíça) me parece duradoura. Os próximos contatos talvez demorem um pouco, mas espero que nosso trabalho ainda não esteja terminado”, afirmou.

Quanto às acusações do governo colombiano de que ele teria simpatia pelas Farc, Gontard respondeu que, em todo processo de negociação, mediadores ou emissários sempre correm o risco de ser acusados de favorecer um lado ou outro. “É um risco conhecido que tentamos reduzir, mas não é nada de catastrófico”.

swissinfo, Geraldo Hoffmann e Claudinê Gonçalves

Jean-Pierre Gontard é diretor do Instituto Universitário de Estudos do Desenvolvimento (IUDE), de Genebra.

No IUDE, nos anos de 1970, teve cerca de 200 alunos colombianos, entre eles o filho de Alfonso Cano, atual chefe das Farc, segundo informa o jornal El Tiempo, da Colômbia.

Gontard trabalhou durante muitos anos para a Cruz Vermelha Internacional na África, no Oriente Médio e na Ásia (Biafra, Angola, Vietnã, Ruanda, Haiti).

Também realizou numerosas missões e consultorias para governos, organizações internacionais e ONGs.

Seu trabalho concentra-se em conflitos internos e, principalmente, nas relações entre subdesenvolvimento e violência.

Ele atua como conselheiro externo do Ministério das Relações Exteriores da Suíça, ultimamente na África e na América Latina, especialmente na Colômbia.

Poliglota, Gontard fala perfeitamente castellano, com a pronúncia típica da América Latina.

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