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Mercado de apostas é “séria ameaça” ao esporte

Casas de apostas esportivas têm uma imagem cada vez mais arranhada. Keystone

Participantes de um congresso em Zurique vêem o bilionário mercado das apostas como crescente ameaça à integridade do esporte. A Fifa quer mais árbitros profissionais para enfrentar o problema.

Segundo a empresa suíça Sportradar, que trabalha para a Fifa e a Uefa, há manipulações em todos os países europeus. Somente nos últimos dois anos, 25 jogos da Copa da Uefa teriam sido “influenciados”.

Durante um congresso sobre “Apostas Esportivas – Simbioses e Perigos”, nesta segunda-feira (10/11), em Zurique, o presidente da Fifa, Josef Blatter, disse que considera os jogos de sorte e as apostas “algo controvertido. Para o futebol, essas manipulações são uma séria ameaça”.

Ele propôs como importante medida para enfrentar o problema, a introdução de mais árbitros profissionais. “Precisamos proteger aqueles que podem ser alvo de tais métodos”, disse Blatter.

A Fifa criou há dois anos um sistema de alerta contra manipulações de resultados. Após uma fase de testes bem-sucedida na Copa 2006 na Alemanha, a empresa Early Warning System GmbH (EWS) vigia, em nome da Fifa, todos os jogos das Eliminatórias à Copa 2010 na África do Sul.

Essa firma, encarregada de detectar movimentações estranhas no mercado de apostas, coopera com loterias privadas e estatais, agentes de apostas eletrônicas, bolsas de apostas e associações do setor. Havendo uma suspeita fundamentada de manipulação, ela alerta a Fifa.

Apostas de 1 bilhão de dólares por dia



A EWS não atua apenas no futebol. Este ano, por exemplo, ela vigiou as 302 competições da Olimpíada de Pequim para o Comitê Olímpico Internacional. No futuro, a empresa pretende oferecer seus serviços também a entidades esportivas nacionais.

Segundo o diretor de estratégias da EWS, o alemão Wolfgang Feldner, o mercado mundial de apostas movimenta um volume bruto de cerca de 350 bilhões de dólares por ano. Ele alertou que existem muitas possibilidades de encobrir manipulações.

O exemplo clássico de manipulação, em que o favorito perde o jogo, foi ampliado por muitas variantes, visto que se pode apostar em todos os detalhes possíveis. Além disso, jogos individuais, como é o caso no tênis, são mais fáceis de ser “influenciados”, relatou o perito.

Feldner disse que não há como eliminar completamente a possibilidade de fraude. Entre as possíveis soluções, ele citou a regulamentação do mercado de apostas, transparência e cooperação com as autoridades.

Lavagem de dinheiro



Segundo Carsten Koerl, diretor executivo da Sportradar AG, agência sediada em Zuzwil (estado de St-Gallen, nordeste da Suíça) e especializada em detectar ilegalidades no mercado de apostas, somente nos últimos dois anos, 25 partidas classificatórias e da primeira fase da Copa da Uefa foram manipuladas.

Koerl contou que, na Turquia, até jogos de crianças com menos de oito anos já foram manipulados. “Para combater esse tipo de crime organizado internacional, que também serve à lavagem de dinheiro, é necessária uma legislação européia contra a manipulação de jogos”, disse Koerl, que coopera com 250 casas de apostas em todo o mundo.

“Usa-se e abusa-se de nós”, disse Josef Blatter sobre a situação com a qual a Fifa é confrontada freqüentemente. Ele rebateu veementemente os rumores de que as partidas do Brasil contra Gana e da Inglaterra contra o Equador pelas oitavas-de-final da Copa 2006 tenham sido manipuladas. “Não há um único indício sobre isso”, disse.

swissinfo com agências

Vinte e cinco jogos organizados nos últimos dois anos pela União Européia de Futebol (Uefa) estão sendo investigados por suspeita de que seus resultados foram manipulados.

Segundo Detlev Zenglein, analista da EWS, a manipulação de jogos e as apostas ilegais são uma ameaça maior ao futebol do que o doping. “Bastam rumores sobre manipulações para acabar com o entusiasmo pelo esporte”, disse Zenglein, no congresso em Zurique.

No livro Como manipular uma partida de futebol, lançado na Europa em setembro passado, o jornalista canadense Declan Hill, denunciou que todas as esferas do futebol são ameaçadas pelas máfias do jogo e pela corrupção.

Ele citou vários exemplos, desde o jogo das oitavas-de-final da Copa 2006 entre Brasil e Gana a uma partida de juniores entre dois pequenos clubes escoceses. A Fifa nega que tenha ocorrido manipulação de resultados na Copa do Mundo na Alemanha.

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