Ministro quer liderar luta contra a corrupção no esporte
A Suíça deve se tornar um modelo no combate à corrupção no esporte, declarou Ueli Maurer, ministro suíço Da Defesa e do esporte.
Mas uma complexa situação regulamentar e jurídica deve continuar atrasando seus planos durante um bom tempo, comentou Maurer terça-feira (23), durante o encontro anual das federações esportivas internacionais com sede no cantão de Vaud (oeste).
“É claro que a Suíça é obrigada a fazer algo para combater a corrupção. Temos muitas federações internacionais com sede na Suíça e queremos também dar o exemplo para a resolução desse problema”, disse Maurer à swissinfo.ch, na reunião realizada em Lausanne.
No final de outubro, com o escândalo das acusações de corrupção na FIFA, que tem sua sede em Zurique, Maurer mandou que o Ministério do Esporte reexaminasse a questão da corrupção no esporte e verificasse o atual quadro jurídico das federações esportivas, que os críticos consideram muito vago e obsoleto. Um relatório está previsto para meados de 2011.
“Mas não vai ser fácil resolver esse problema, pois temos as federações com suas regras, as leis nacionais e internacionais e os problemas globais. Pode demorar dois ou três anos antes de uma decisão”, disse o ministro.
A Suíça abriga cerca de 50 organizações esportivas internacionais, incluindo a FIFA, sua congênere europeia, a UEFA, e o Comitê Olímpico Internacional (COI). A estes organismos são concedidos benefícios fiscais e facilidades jurídicas que possibilitam a administração de seus interesses sem intervenção exterior. As entidades esportivas sem fins lucrativos estão, por exemplo, isentas das leis suíças contra corrupção – revistas em 2006.
Jean-Claude Mermoud, responsável pela pasta do esporte do cantão de Vaud (oeste), disse que o atual quadro jurídico precisa, definitivamente, ser reforçado e aplicado corretamente.
“Mas a primeira responsabilidade recai sobre as federações, por isso precisamos de uma lei que controle as que estão sediadas aqui”, acrescentou.
Mermoud disse que questões como governança e trasparência já melhoraram bastante graças à troca de informações entre os organismos esportivos.
Reputação
No caso da Federação Internacional de Futebol, Maurer disse que compete à organização aplicar as regras internas para combater a corrupção e que “não cabe à Suíça resolver os erros da Fifa”.
O ministro não concorda que a imagem da Suíça tenha sido afetada pelo escândalo da Fifa, no qual seis funcionários, incluindo dois membros do comitê executivo, foram suspensos e multados após uma investigação interna por causa de corrupção.
Mas Daniel Kaufmann, ex-diretor de governança e anticorrupção do Banco Mundial, acha que a reputação da Suíça foi posta em jogo.
“A Suíça tem permitido que a Fifa e outros organismos esportivos internacionais operem sem qualquer transparência”, disse. “Se nada mudar, a Suíça pode ser vista por muitos como oferecendo um ‘porto seguro’ para as organizações esportivas não-transparentes e mal administradas, como no caso dos bancos, até há pouco tempo”.
Jean-Loup Chappelet, especialista em gestão de organizações esportivas na Suíça, disse que estava preocupado com o impacto dos escândalos esportivos.
“É bom ter a Fifa e o COI sediados aqui, contanto que eles se comportem bem. Mas se a opinião pública começar a achar que somos o covil das organizações não regulamentadas, aí então é um problema”.
Wada como exemplo
Chappelet acha que a governança das organizações esportivas internacionais na Suíça deve ser melhorada.
Desde 2002 ele vem fazendo pressão pela a criação de um órgão independente de combate à corrupção nos esportes, semelhante à Wada (Agência Mundial Anti-Doping), para combater de forma eficaz esse fenômeno.
Essa ideia parece estar ganhando força política.
No domingo, o Presidente da UEFA, Michel Platini, propôs a criação de uma força internacional de polícia esportiva para ajudar no combate à corrupção e manipulações de resultados no futebol. Em outubro, o Secretário-Geral da Wada, David Howman, sugeriu que fosse criado um órgão anticorrupção para os ministros do esporte dos países do Commonwealth, e em setembro os ministros do esporte da Europa, reunidos em Baku, Azerbaijão, aprovaram por unanimidade uma resolução solicitando ao Conselho da Europa que estabelecesse uma estrutura desse tipo.
Maurer disse que uma estrutura como a Wada para a luta contra a corrupção seria uma opção possível, mas questionou se ela seria realmente capaz de resolver problemas como lavagem de dinheiro ou apostas.
Maior sinergia
Na reunião de Lausanne, políticos e funcionários do cantão de Vaud e do COI também apresentaram seus planos para a criação de um centro esportivo internacional na região para melhorar as sinergias entre as federações esportivas e as autoridades locais.
Os planos incluem a criação de uma secretaria e de uma academia de esportes na cidade. Uma formação especializada e cursos superiores de esporte também serão desenvolvidos em colaboração com a Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL) e a Universidade de Lausanne.
Em 2007, uma comissão de gestão do cantão publicou um relatório que criticava a coordenação entre os vários organismos esportivos estabelecidos no cantão como “fraca”.
“Em vista dos problemas sócioeconômicos em jogo e da presença do COI, a boa governança é certamente desejável”, declararam na época as autoridades do governo cantonal.
Cerca de 50 federações e organizações esportivas internacionais estão sediadas atualmente na Suíça. O primeiro a se instalar foi o Comitê Olímpico Internacional (COI), em Lausanne desde 1915.
A capital do Cantão de Vaud, Lausanne, abriga cerca de 20 delas. Além do COI, que inclui o Tribunal Arbitral do Esporte (CAS), também estão sediados na cidade a UEFA e os organismos mundiais que regem Ginástica (FIG), Ciclismo (UCI) e Vôlei (FIVB).
Entre as organizações com sede em outras partes da Suíça, estão os órgãos dirigentes do futebol, a Fifa (Zurique), basquete (Genebra), handebol (Basel), esqui (Oberhofen, cantão de Berna) e hóquei no gelo (Zurique).
A Suíça é atraente por vários motivos: sua localização geográfica, mão de obra altamente qualificada, estabilidade política, neutralidade, segurança, qualidade de vida, além de um regime fiscal atrativo e um código legal favorável.
Um estudo publicado em 2007 mostra que esses órgãos esportivos trazem para a economia local 1.400 postos de trabalho e 196 milhões de dólares por ano.
(Adaptação: Fernando Hirschy)
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