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Nova Friburgo condenada a novas tragédias

Raphael Fessler, da AFNF, e o geólogo Olivier Lateltin na "Place de Nova Friburgo". Vincent Murith/La Liberté

Uma das cidades mais afetadas pelo temporal que destruiu a Região Serrana do Rio, Nova Friburgo corre um sério risco de novas catástrofes.

Situada em um “funil” geográfico, a cidade parece condenada às enchentes e deslizamentos de terra. A estimativa foi apresentada pelo geólogo suíço Olivier Lateltin, membro da equipe de peritos enviada pelo governo suíço ao Brasil, em uma conferência de imprensa realizada na quarta-feira (02) na cidade de Friburgo, na Suíça.





















O encontro foi organizado na “Praça Nova Friburgo”, em memória às vítimas da catástrofe que assolou a “cidade irmã” no Brasil. O apelo histórico é recorrente quando se fala de Nova Friburgo na Suíça. Apesar dos quase 200 anos de história que separam a cidade serrana do país de origem de seus fundadores, os laços de amizade entre o povo tropical e o alpino se mantêm intactos.

Atrás da lembrança histórica, a vontade explícita de comover a solidariedade dos suíços com os “primos” brasileiros. Assim, a Associação Fribourg – Nova Friburgo (AFNF), instigadora da coleta de fundos em prol de Nova Friburgo, apresentou o primeiro balanço da campanha de solidariedade e alguns planos de ação concreta no Brasil.

Na ocasião, um geólogo – membro do corpo suíço de ajuda humanitária, enviado a pedido da presidenta da Suíça Micheline Calmy-Rey – relatou os detalhes da missão no Brasil e sua percepção como perito em deslizamentos de terra.

SOS Nova Friburgo

Menos de 24 horas após o terrível dilúvio que se abateu na Rgião Serrana do estado do Rio, a AFNF lançava uma operação chamada “SOS Nova Friburgo”, sem saber a amplitude da catástrofe. O estado de Friburgo, seus municípios, paróquias, empresas, instituições e particulares participaram da campanha, recolhendo até o momento 170 mil francos. A associação espera chegar até o final de fevereiro aos 250 mil.

A entidade pretende analisar cada projeto de ajuda com o apoio de uma comissão de especialistas técnicos e um sistema de controle financeiro extremamente exigente que garanta o acompanhamento das ações no perímetro do município de Nova Friburgo, onde os suíços de Friburgo pretendem concentrar seus esforços.

Uma parte dos dons será usada para reforçar a nível local a prevenção e a preparação contra catástrofes naturais. A AFNF pretende, assim, investir na formação de engenheiros brasileiros encarregados da prevenção no município. A associação sugeriu os cursos de especialização em deslizamentos de terra e inundações da Universidade de Genebra, sob tutela das Nações Unidas.

Capacidade de reação rápida

“Os brasileiros não são nada fatalistas e querem recomeçar o mais rápido possível”, declarou à swissinfo.ch Olivier Lateltin, um dos peritos suíços que visitaram a região, lembrando que os serviços básicos estão todos nas mãos de empresas privadas que não pretendem ficar no prejuízo por muito tempo.

Na opinião do geólogo, a fase de reconstrução deve ser bem rápida, devido aos interesses em jogo. No entanto, como a cidade apresenta uma morfologia afunilada, as construções deveriam se situar longe da beira do rio, que transborda com frequência, e das encostas, que deslizam com facilidade, não restando muitas alternativas na região.

O suíço ficou alarmado com o imenso número de casas destruídas, 10 mil segundo suas estimações, “o que corresponderia aos estragos causados por um terremoto de magnitude 7”. Indagado sobre o estado atual da cidade, o perito comentou que os supermercados do centro – que foi inundado até o primeiro andar – reabriram 4 dias depois da enchente. “Uma capacidade de reação muito interessante”, disse.

Atenção passageira

O observador enviado pela Suíça constatou a grande solidariedade que mobilizou todo o país e os recursos federais empregados na região, principalmente a forte presença das forças armadas. Na sua opinião, o Brasil parece dispor de recursos financeiros suficientes para ajudar a região e por isso dificilmente pedirá ajuda externa.

Com base em sua experiência em outras catástrofes, Olivier Lateltin, lembrou que as forças armadas costumam passar dois meses nos locais atingidos, desempenhando um papel central na área médica, entre outras. “Assim que os militares deixarem a região, a municipalidade se sentirá desamparada: primeiro há um grande interesse e depois um imenso vazio”, disse. Para o especialista suíço, a ajuda da associação será essencial nesse momento, apoiando o governo local e os particulares.

Prevenção é a solução

“Foi um choque para Nova Friburgo, um choque para o Rio de Janeiro, mas também um choque para o governo brasileiro que não tinha experiência em catástrofes naturais desse tamanho”, disse.

Se referindo à Suíça, Lateltin lembrou que às vezes é necessário um “grande choque” para que os governos mudem a legislação. Segundo ele, a Suíça precisou ser inteiramente inundada em 1987 para desenvolver as leis sobre florestas e o sistema de águas, promovendo mais a prevenção.

Provavelmente o mesmo deve ocorrer no Brasil, com mudanças legislativas em todos os níveis de governo. Com base nos estudos já realizados na região, o geólogo pôde observar que as mudanças climáticas estão afetando a quantidade das precipitações e a frequência das catástrofes. Segundo ele, a prevenção é a única solução possível a longo prazo.

“Os políticos têm memória de mandato de cinco anos, a Terra de milênios”.

A Secretaria Municipal de Assistência, Desenvolvimento Social e Trabalho de Nova Friburgo informou que no início de fevereiro haviam:

949 famílias cadastradas nos abrigos oficiais.

909 famílias cadastradas nos abrigos solidários.

104 famílias cadastradas em áreas de demolição/risco.

400 famílias em áreas de risco.

O Corpo Suíço de Ajuda Humanitária (CSA) é composto por cerca de 700 voluntários dispostos a partir em missões em todo o mundo.

A equipe reúne especialistas em diversas áreas (medicina de emergência, reconstrução, logística, comunicação, informação e documentação).

O CSA executa suas missões muitas vezes em colaboração com outras organizações similares, incluindo a Cruz Vermelha suíça e o CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha), sediado em Genebra.

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