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O jornal em que qualquer cidadão é notícia

Fabian Kopp com o último exemplar do Simmental Zeitung nas mãos. swissinfo.ch

Em um pequeno jornal nos Alpes bernenses todos os jornalistas são voluntários. Porém o Simmental Zeitung é um sucesso entre os leitores.

Tanto impresso, em versão eletrônica ou no Facebook, o jornal mostra que uma das soluções à crise da mídia é falar dos acontecimentos de bairro.

A foto impressa na última página do mais recente número do jornal Simmental Zeitung exibe um grupo de crianças durante uma apresentação de teatro infantil. As cores amareladas e os olhos vermelhos mostram que a imagem foi feita por amadores. “A qualidade da foto está péssima, mas o importante é que as pessoas possam se reconhecer nela”, admite Fabian Kopp.

O editor vai ao ponto para explicar a filosofia do seu negócio. “O objetivo é que cada habitante do vale saia pelo menos uma vez no jornal. Assim não apenas ele faz uma assinatura, mas também seus amigos e vizinhos. Afinal de contas, quem pode aparecer no New York Times?”, brinca Kopp na pequena redação, colada ao lado da sala com as máquinas de impressão, no bucólico vilarejo de Zweisimmen.

O jovem engenheiro herdou há poucos anos do seu pai a pequena gráfica com oito empregados. Dela sai todas as quintas-feiras o jornal Simmental Zeitung e que, como o nome diz, cobre uma região de vales nos Alpes bernenses que inclui 13 comunas (municípios), distante apenas uma hora da capital Berna.

Mais da metade dos sete mil e trezentos exemplares semanais vai para lares locais. “A nossa cobertura é de 80%”, afirma o editor. Cerca de 40% é lido por assinantes em outras partes da Suíça e uma pequena porcentagem no exterior. “São pessoas originárias da nossa região e que se mudaram por razões profissionais ou familiares, mas que querem se manter atualizadas das coisas que acontecem aqui.”

Redatores voluntários 

Ao contrário dos grandes jornais, o Simmental Zeitung não tem recursos para pagar jornalistas profissionais. A maior parte das reportagens e textos é escrita por uma equipe flutuante de sete redatores voluntários, todos habitantes da região do Simmental. “Eles são as nossas antenas em cada um dos vales, o que nos permite ter uma comunicação direta com a população”, explica Kopp.

Essa tradição não mudou mesmo quando, em comum acordo com seu pai, o jovem editor modificou em março de 2009 o nome do jornal de “Obersimmentaler”, editado regularmente desde 1970, para Simmental Zeitung. A razão foi a de atender um público maior da região, que se sentia alijada de cobertura jornalística.

Para profissionalizar o trabalho, Kopp não apenas trouxe um moderno sistema computadorizado de edição de jornais, mas também contratou a tempo parcial um redator-chefe. “O Ernst Hodel já foi prefeito, gastrônomo e hoje está aposentado. Ele conhece todo mundo no vale e adora escrever”, diz.

Juntos os dois selecionam os textos enviados pelos jornalistas voluntários. Em grande parte o material trata de temas ligados ao cotidiano dos habitantes. Manchetes como “Passeio dos aposentados à montanha Hornberg”, “Uma ação diferente do corpo de bombeiros voluntários” ou “Derrota de 2:4 do EDO Corner”, um time local de futebol, na editoria de esporte, mostra o tipo de cobertura feita pela publicação.

“Muitas vezes são os membros dos clubes locais que nos enviam as suas novidades”, ressalta Kopp, lembrando que não costuma modificar o material, mesmo se o estilo não corresponde aos padrões normais de jornalismo. “Ninguém gosta de ver seu texto reescrito, mas não há problema em colocar vez ou outra um subtítulo quando o texto está grande ou fazer um título mais chamativo.”

Jornalismo crítico 

Ser um jornal regional não significa ser acrítico. “Teleférico de Gstaad no seu maldito sétimo ano”, a manchete de capa do último número do Simmental Zeitung, publicado em 15 de setembro, é uma reportagem crítica sobre a situação financeira da empresa. “Ao contrário de simplesmente publicar o press-release deles, revelamos que eles só não tiveram prejuízo, pois dinheiro foi injetado para cobrir buracos”, revela o editor.

Outra história marcante foi a cobertura sobre o planejado fechamento do hospital da região. Ao criticar a decisão dos proprietários, que planejavam construir outro hospital em um local mais distante, o Simmental Zeitung chegou até a ser condenado pelo Conselho de Imprensa da Suíça, um órgão independente para soluções de disputas no setor.

Kopp se apressa em defender o trabalho dos seus jornalistas. “Escrevemos quase cem artigos sobre o tema, revelando as inverdades que eram ditas, mas também dando voz aos defensores do projeto como a empresa”. Porém confessa que não havia como refutar o motivo da condenação. “O conselho disse que não publicávamos o lado contrário no mesmo número, mas isso é difícil para nós como um pequeno jornal semanal”, defende-se.

Pequeno, mas moderno 

A condenação no Conselho de Imprensa não teve consequências para o Simmental Zeitung, pois é um órgão consultivo. Porém o editor preocupa-se mais com a neutralidade do noticiário. “Em si, não somos uma publicação negativa, pois o objetivo é falar do que acontece de bom na região”, lembra, apresentando o último caderno especial, repleto de fotos coloridas, dedicado a Kilian Wenger, o atual campeão de luta suíça, um jovem originado de um vale local e considerado por muitos como o herói do Simmental. Esse aspecto do jornal é considerado por Kopp como o ponto forte do seu produto. “As pessoas se veem no jornal”.

Para sobreviver, o Simmental Zeitung depende dos anunciantes locais. “São pequenos comerciantes ou particulares, no caso dos anúncios de óbito, para quem o preço dos grandes jornais não é acessível”. Já os assinantes também são poupados: uma assinatura anual do jornal custa apenas 49 francos, o que inclui não apenas o jornal, mas também uma versão eletrônica “e-paper”, que pode ser baixada do site.

Para um jornal regional, a internet também não é um mundo desconhecido. “Fazemos como os grandes jornais, publicando apenas uma parte do conteúdo na rede, mas todo dia pelo menos um artigo. As matérias mais interessantes ficam para a versão impressa”, afirma Kopp. Para complementar, ele também incluiu o Simmental Zeitung na rede social Facebook, onde já conta com 93 amigos.

Atualmente, o editor não se queixa da situação econômica. “A crise que atingiu a maior parte da imprensa na Suíça não nos afetou, mas conseguimos até aumentar o número de leitores”, analisa Kopp. Ele considera que o futuro do setor será dividido entre os grandes títulos e a imprensa regional. “Pois os grandes jornais e revistas não se preocupam com o cotidiano das pessoas no Simmental.”

Furos 

E mesmo sendo tão pequeno, o Simmental Zeitung já conseguiu até dar grandes furos na imprensa nacional. Um deles ocorreu durante uma avalanche no vale de Diemtigen, alguns quilômetros distante da redação do jornal, onde sete esquiadores morreram durante uma avalanche em 3 de janeiro de 2010. “Nosso editor-chefe foi ao local e, ao contrário dos jornalistas enviados pela imprensa nacional, ele conhecia todo mundo e pode escrever sobre a história dos membros da equipe de salvação que morreram tentando ajudar os outros”.

E o último saiu até no Berner Zeitung, um dos jornais mais importantes do cantão de Berna: a compra do castelo de Blankenburg, uma “joia” da região, por um investidor financeiro com raízes locais, para construir um hotel e local de casamentos para a população local. “Nós estamos realmente próximos da noticia”, conta orgulhoso Fabian Kopp.

Em abril de 2010 a Secretaria Federal de Comunicação (Bakom, na sigla em alemão) encomendou cinco estudos sobre a situação da mídia na Suíça.

Das conclusões tiradas, após a publicação, uma delas diz que “os jornais regionais dão uma forte contribuição à estrutura federativa da Suíça e são fundamentais para a identidade regional do país”. Outro ponto: “Através do noticiário, eles cumprem não apenas uma função político-democrática, mas também de integração.”

Das críticas feitas, uma delas diz que “os jornais nacionais e regionais não estão cumprindo suas funções de controle e crítica”. “O noticiário regional tem um tom neutro e, certas vezes, até positivo.”

Tanto os políticos como os jornalistas questionados no estudo consideram que a Suíça vive atualmente uma perda na qualidade jornalística nas mídias regionais. Uma das razões é a perda de espaço e diversidade.

Se em 2000 ainda existiam 45 regionais independentes, tanto do ponto de vista econômico como redacional, em 2009 eram apenas 32.

As cinco maiores editoras na Suíça cobrem 91% do mercado de jornais diários vendidos e gratuitos.

Os cinco estudos podem ser lidos no link abaixo.

20 Minuten (jornal gratuito): 1.379.000 leitores diários

Blick am Abend (jornal gratuito): 635.000

Blick: 622.000

Tages-Anzeiger: 508.000

Parte francesa

20 minutes (jornal gratuito): 461.000

24 Heures: 223.000

Tribune de Genève: 138.000

Parte italiana:

Corriere del Ticino: 125.000

Dos jornais semanais, o mais lido è Coop-Zeitung, com 2.682.000 leitores. O segundo é o Migros-Magazin, com 2.349.000 leitores.

Fonte: Wemf em 06/09/2011

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