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O mictório que conquista os usuários

"A Criação de Adão" de Michelangelo decora um dos mictórios Urimat. swissinfo.ch

Uma pequena empresa suíça especializada na produção de mictórios faz sucesso graças a uma invenção capaz de economizar bilhões de litros de água potável por ano.

Descarga é a palavra incorreta para descrever o mictório que não utiliza água, óleos ou produtos químicos e que ainda reivindica ser livre de qualquer odor.

A ONU definiu 2008 como o ano internacional do saneamento básico. O objetivo da organização internacional é destacar o fato de que um terço da população mundial não tem acesso a abastecimento de água ou serviços de esgotos sanitários.

Em tempos em que a escassez crescente da água se transformou em um problema de escala mundial, a idéia patenteada da Urimat, uma pequena empresa suíça localizada em Feldbach, no lago de Zurique, está provando ser um sucesso.

Torcedores de futebol têm a chance de testá-la durante a Eurocopa 2008, quando utilizam os novos mictórios do Estádio de St. Jakob.

“O coração do sistema é um sifão captor de odores que funciona da seguinte forma: quando a urina entra na parte interior do cilindro, ela aciona uma bóia hidrostática que fecha o sifão na parte superior”, explica Marcel Näpfler, diretor da empresa.

Porém um mictório seco não cheira? “Essa é obviamente a primeira pergunta que as pessoas nos fazem. De fato, quando discutimos o surgimento do cheiro, ele é sempre baseado em bactérias. Se não existe água (e bactérias), então não existe odor”, responde.

Mudança de mentalidade

“É uma mudança de mentalidade. Nas nossas cabeças achamos que água significa limpeza. Mas o mictório é exatamente o oposto”, explica.

Näpfler conta que quando a empresa começou a produzir esse tipo de mijadouros há dez anos, não era fácil convencer as pessoas do bom funcionamento do sistema. Porém a preocupação crescente em controlar o consumo de água levou as pessoas a ter curiosidade pelo novo modelo. E funcionou, pois Urimat ganhou nos últimos anos uma série de prêmios em todo o mundo pela sua contribuição ao meio-ambiente.

“Sempre foi a nossa idéia oferecer um mictório seco, mas que fosse ecológico. Ecologia é uma das nossas principais metas”, lança Näpfler. “Conhecemos sistemas no mercado que têm o mesmo efeito – economizar água – mas utilizando produtos químicos ou líquidos. Urimat é uma solução 100% ecológica”.

O mictório é produzido em “Makrolon”, o nome de marca para um policarbonato “high-tech” desenvolvido pela empresa Bayer e moldado através de um complexo processo de injeção.

Higiene

Näpfler afirma que sua empresa é a única no mundo que produz esse tipo de produto, com uma vantagem em termos de higiene. “Makrolon é um material sintético energético, o que faz com que a urina não refrigere como ocorre nas privadas de cerâmica e não deixa sair nenhuma mancha ou resíduos. Não existe nenhuma borda afiada onde as bactérias podem se alojar”.

A instalação do equipamento é mais fácil do que os mictórios convencionais, pois os produtos Urimat pesam apenas quatro quilos. Não é necessário nenhum suporte para segurá-lo. Ele também consegue resistir atos de vandalismo, o que não ocorre com os produtos concorrentes.

Depois da questão do cheiro, talvez a mais óbvia seja saber como limpar esse tipo de mictório “high-tech”. “A limpeza é, provavelmente, a segunda questão que mais recebemos. O mijadouro trabalha sem água, mas não significa que você não tem necessidade de limpá-lo”.

“Temos um conceito de limpeza que é baseado em um agente de limpeza micro-orgânico. Trata-se de um micro-organismo que é pulverizado dentro do mictório e que facilita extremamente o trabalho de limpar, é rápido e bem efetivo”, detalha.

Quando água e sua escassez se tornam cada vez mais um tema de debate, o interesse nos produtos da companhia aumentou.

Comerciais

Uma característica original e patenteada é também uma forma de comercial que pode ser feita no mictório através de uma placa informativa integrada como um cartaz publicitário. Afinal, a Urimat ressalta que os mictórios detêm a atenção dos homens por pelo menos 40 segundos.

Um dos modelos oferecidos tem um sensor integrado que ilumina a placa enquanto o mijadouro está sendo utilizado. Esses produtos estão sendo bastante utilizados nos restaurantes de beira de estrada na Alemanha e Suíça. Em outras palavras, os mictórios ainda podem gerar renda quando o espaço de propaganda é alugado para outras empresas.

Governos, incluindo os do México, Coréia do Sul e Austrália, também já utilizaram o espaço publicitário para informar às pessoas que esse tipo de mictório economiza água. A mensagem foi a seguinte: “Nós nos preocupamos com o meio-ambiente”.

Não foram poucas as piadas sobre os mictórios da Urimat quando eles foram lançados no mercado. Porém a situação mudou, sobretudo pelo fato de estarmos há três anos na Década Internacional da Água declarada pela ONU.

“Hoje ninguém faz graça com o tema, pois economizar água é algo de muito positivo. Não somos vendedores de mictórios. Estamos oferecendo, sim, uma solução que ajuda a poupar esse valioso líquido”, conclui Näpfler.

swissinfo, Robert Brookes

A empresa Urimat, que já existe há dez anos, emprega atualmente 50 funcionários. Destes, 15 trabalham na Suíça e 35 na Alemanha.

Ela tem aproximadamente 40 mil clientes em mais de 20 países.

No site da empresa, é possível verificar em tempo real a quantidade de água que já foi economizada nos mictórios produzidos por ela.

Um mictório comum gasta entre três a seis litros de água potável a cada vez que é utilizado.

Estima-se que um restaurante normal pode economizar entre 600 e 1000 francos (US$ 577 e 962) por ano na conta de água se substituir os mictórios comuns – que podem consumir até 100 mil litros de água – pelos produtos da Urimat.

A McDonald’s da Suíça declara que economiza por volta de 28 milhões de litros de água a cada ano graças à Urimat.

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