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O mito do lado norte do Eiger

Visão mortal: a face norte do Eiger. swiss-image

A mortal face norte da montanha Eiger, uma mais legendárias na Suíça, tem um status especial entre alpinistas no mundo todo, e isso não apenas pelos perigos que podem enfrentar.

Embora o seu pico tenha sido conquistado pela primeira vez por um irlandês em 1848, vários anos se passaram até que alguém ousasse escalá-lo pela face norte, uma gigantesca muralha de 1.800 metros acima do vale. Uma exposição no Museu Alpino Suíço se dedica ao tema do mito do Eiger.

O ponto alto da febre do Eiger foi na década de 1930, quando foram realizadas as primeiras tentativas de se conquistar o pico da montanha através da sua face norte, aventura que abriu uma nova era no alpinismo. Alemães, austríacos e italianos haviam se lançado no desafio.

Após uma sucessão de fracassos trágicos e intenso debate público sobre a ética das tentativas de uma escalada tão perigosa, uma equipe formada por dois alemães e dois austríacos, lideradas pelo alpinista Anderl Heckmair conseguiram o impossível em 1938.

Provavelmente era inevitável, mas a realização desportiva acabou sendo envolvida com a política da época. A imagem de alemães e austríacos, unidos na conquista do desafio, poucos meses apenas após o “Anschluss”, a unificação dos dois países, era costurada perfeitamente para a máquina de propaganda do regime nazista.

“Dos quatro alpinistas, é possível dizer que Heinrich Harrer era membro do NSDAP, o partido nazista, antes mesmo da escalada do Eiger. Ele também carregava uma suástica consigo durante a subida”, declara Barbara Gerber, curadora da exposição.

Após a fantástica conquista, os quatro escaladores foram convidados para uma recepção em Breslau, cidade que pertenceu à Alemanha e que hoje se chama “Wroclaw” e é polonesa, onde foram pessoalmente congratulados por Hitler.

“Os nazistas publicaram um livro sobre a épica escalada. Posteriormente houve uma controvérsia sobre o texto, pois não se sabia o que os alpinistas haviam escrito e o que havia sido adornado pelos editores”, afirma.

Custo em vidas

O interesse público retornou nos anos 1960, quando novas trilhas foram criadas na montanha. E quanto mais pessoas morriam tentando escalar a montanha, mais intenso era o debate sobre a moral e ética do alpinismo.

“As opiniões são controversas sobre a questão se os alpinistas devam assumir riscos ou não. A polêmica continua hoje com essas tentativas de se bater recordes de escalada”, ressalta a curadora.

As alpinistas que escalam do Eiger através da sua face norte têm de vencer obstáculos mortais conhecidos por nomes como “Calça de Gelo”, “Bivaque Mortal”, “Saliência Quebradiça” e a “Travessia dos Deuses”. Até então, 65 pessoas já morreram na face norte da montanha.

Em 1957, um alpinista italiano morreu na montanha e as equipes de resgate não foram capazes de alcançar o seu corpo. Por dois anos ele ficou pendurado em um local inacessível, servindo também como símbolo macabro do “Vale da Morte”.

O alerta tem feito pouco para dissuadir os montanhistas. Hoje, a geração de alpinistas extremos procura bater novos recordes e desafios ainda maiores. Gerber compartilha do ceticismo de muitos observadores.

“No ano passado, o alpinista suíço Ueli Steck havia batido o recorde de escalada da face norte através da trilha de Heckmair em apenas três horas e 45 minutos. Para muitas pessoas parecia ser o máximo em termos de velocidade. O recorde, que parecia imbatível, foi quebrado por ele próprio ao diminuir essa marca em mais de uma hora. É quase impossível de acreditar”.

Queda de pedras

A escalada através da face norte é mais tentada durante o inverno por uma questão de segurança. Um grande problema é a queda de pedras.

“No verão, quando a face norte não está congelada, o risco de pedras caindo é muito maior do que no verão, já que o gelo segura as rochas”, explica Gerber.

No passado haviam mais escaladas no verão, pois não existia ainda equipamento adequado para o inverno.

A primeira pessoa a conquistar o pico do Eiger há 150 anos foi o irlandês Charles Barrington, que na época tinha apenas 24. Ele chegou ao topo através do flanco oeste.

Barrington era jóquei de profissão e alpinista ocasional, que fazia sua primeira visita aos Alpes. Na época ele procurava um pico que ainda não havia sido conquistado. Em 1858, ele chegou ao topo do Eiger com a ajuda dos guias de montanha Christian Almer e Peter Bohren, para consternação das suas famílias.

“Quando saímos de Grindelwald em direção ao Eiger, eu me surpreendi de ver as famílias dos guias em um estado de distração no momento da ascensão. Duas senhoras saíram das casas e me acusaram de estar colocando a vida dos guias em perigo”, escreveu Barrington em uma carta vinte e quatro anos depois da subida.

O jovem aventureiro diminuiu um pouco do seu sucesso pelas condições físicas. “Eu não estava tão em forma como o meu velho cavalo Sir Robert Peel que, de tão rápido ao ganhar o Grande Prêmio Irlandês, nem me deixeou ver a metade da corrida”.
 

A atual exposição “Aposta e Audácia” no Museu Alpino Suíço conta a história do desafio de escalar o Eiger, desde a sua conquista há 150 anos.

Um livro escrito por Reiner Rettner sobre os escaladores alemães do Eiger nos anos 1930 foi publicado paralelamente à exposição: “Eiger – triunfo e tragédia de 1932 e 1938” apresenta também novas evidências de fontes contemporâneas sobre as conexões com o Nazismo.

A gigantesca parede de 1.800 metros, a face norte do Eiger, na região turística de Grindelwald, cantão de Berna, tem a fama de ser um dos locais mais perigosos de alpinismo no mundo. Os escaladores costumam enfrentar no local mau tempo, ventos fortes e queda de blocos de pedra ou gelo. A face norte está sempre encoberta pela sombra.

Para escalar até o pico do Eiger por esse lado, o alpinista deve estar bem preparado. A trilha se alterna entre pedra e gelo.

A face norte permaneceu não conquistada até 1938. Foi quando os alemães Anderl Heckmair e Ludwig Vorg, acompanhado pelos austríacos Heinrich Harrer e Fritz Kasparek, venceram esse desafio.

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