Para 70 mil suíços, a internet é uma “droga”
Cerca de 70 mil suíços estão viciados na internet e 110 mil correm o risco de cair nessa dependência. O perigo é maior para os jovens.
É o que mostra um estudo do Instituto Suíço de Prevenção ao Alcoolismo e a outras Toxicomanias (Ispa), que compara os chamados “cyberviciados” com os consumidores de drogas.
Segundo pesquisas de opinião pública, 64% dos suíços acessam a internet regularmente (51,4% diariamente). Em 1997, esse percentual era de apenas 6,8%.
Na faixa etária de 14 a 29 anos, o percentual de internautas hoje chega a 84%. Entre as pessoas com mais de 50 anos, apenas 41% usam a web regularmente. Mais homens (73%) do que mulheres (56%) usam serviços de internet, embora a cota feminina aumente rapidamente.
Com base em dados de 2006, o Ispa estima que 70 mil pessoas na Suíça sejam dependentes da internet e 110 corram o risco de cair nessa dependência. Os autores dizem que essa é uma “estimativa conservadora”.
Eles apontam como sintomas de dependência “um desejo forte de usar a internet, a perda de controle sobre o uso, o aumento do tempo de uso, o interesse apenas pela internet, sinais de síndrome de abstinência (nervosismo) e a continuação do uso apesar da consciência das conseqüências negativas”.
Segundo os autores, não é preciso que todos esses sintomas sejam visíveis para que exista a dependência. Eles consideram problemático considerar apenas o tempo de uso. Um estudo concluiu que os dependentes de internet, em média, passam 35 horas por semana na rede.
Mas pode haver cyberviciados que passam menos tempo à frente do computador. Ao mesmo tempo, há jovens que, durante certa fase, mostram um comportamento excessivo em diferentes áreas, mas depois superam isso.
Semelhanças com drogados
Os peritos apontam semelhanças e diferenças entre o vício das drogas e a dependência da internet. “Em termos de sintomas, critérios de diagnóstico e doenças colaterais, a dependência da internet é comparável à dependência de substâncias psicotrópicas. Em ambos os casos, o uso excessivo modifica o centro de recompensa do cérebro”, segundo o relatório do Ispa.
Isso leva a um estado em que as situações de recompensa do cotidiano não são mais suficientes. Os atingidos reagem de forma nervosa e agressiva durante a abstinência. Freqüentemente, os cyberviciados subestimam o problema, evitam falar sobre o assunto e só modificam seu comportamento quando alertados por pessoas que lhes são próximas.
O Ispa indica três áreas com potencial para viciar: jogos online (atingem principalmente jovens do sexo masculino), comunicação eletrônica e chats (aqui o risco é maior para mulheres), bem como o acesso a sites pornográficos.
Embora não existam riscos decorrentes de toxidade ou uma dependência física, como ocorre com o álcool ou com outras drogas, o uso excessivo da internet implica alguns riscos.
Isolamento
Os cyberviciados colocam em risco principalmente suas relações sociais, visto que passam cada vez mais tempo num mundo virtual e se afastam do mundo real. “Quanto mais tempo se passa na internet, menos tempo sobra para outras atividades”, observa o estudo.
O “uso patológico da internet” também pode ter conseqüências negativas para o desempenho profissional e escolar. Também determinados conteúdos podem influenciar negativamente o desenvolvimento social e psicossexual dos jovens, alertam os peritos.
Algumas formas de uso podem até causar problemas financeiros. Além disso, podem ocorrer danos à condição física, mudança do ritmo de sono e de alimentação, dores de cabeça ou dificuldades de visão.
Uso controlado
Ainda são raras as pesquisas sobre a prevenção ao uso excessivo da internet. “Diante do fato de que a rede é indispensável em muitas profissões e também oferece muitas possibilidades de uso positivo no lazer, é evidente que a meta da prevenção tem de ser uso controlado e complementar e não a abstinência”, escrevem os especialista suíços.
Como o risco é maior para os jovens, os pais devem ajudar os filhos a desenvolver formas de uso adequadas, recomenda o Ispa. Regras de uso, como um controle do tempo e do tipo de jogos admitidos, bem como atividades reais (e não virtuais) de lazer podem ser úteis. “É importante melhorar a competência midiádica das pessoas de referência das crianças”, observa do estudo.
swissinfo, Geraldo Hoffmann (com Ispa e agências)
Sintomas de dependência da internet:
– Forte desejo para usar a internet
– Perda de controle sobre o tempo gasto online
– Sinais de síndrome de abstinência (nervosismo)
– Redução dos contatos sociais próximos
– Problemas de desempenho no trabalho ou na escola
– Continuação do uso excessivo, apesar de perceber que isso é prejudicial
Fonte: Ispa
De acordo com dados atuais da empresa de pesquisa de mercado ComScore, atualmente há 824 milhões de usuários de internet no mundo, o que representa um crescimento de 10% em relação a 2007.
A Ásia tem o maior número de internautas (300 milhões), seguida pela Europa (233 milhões) e pela América do Norte (184 milhões).
A América Latina tem 59 milhões e a África 40 milhões de usuários.
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