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Por que 40% dos leitores deixam de acompanhar as notícias

Uma mulher lendo jornais em um bar
O interesse geral por notícias tem diminuído na Suíça nos últimos anos. Keystone

Um número recorde de pessoas deixou de se interessar pelas notícias. Quais são as razões para a fraqueza da mídia: fadiga, desinteresse ou o uso crescente da inteligência artificial (IA)? O último estudo do Instituto Reuters revela o estado atual da imprensa e mostra como ela é vista na Suíça, no Brasil e em outros países.

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O Estudo de Mídias Digitais 2024Link externo, publicado pelo Instituto Reuters da Universidade de Oxford nesta semana, entrevistou 100 mil pessoas em 47 países, e revela o estado atual da mídia.

Uma das principais conclusões deste ano é que o desinteresse pelas notícias atingiu níveis recordes. Quase quatro em cada dez (39%) pessoas em todo o mundo disseram que – às vezes ou frequentemente – evitam ler notícias. Isso representa um aumento em relação aos 29% registrados em 2017.

“Tivemos uma pandemia e também guerras. Assim, é uma reação normal que as pessoas deixem de acompanhar as notícias, seja para proteger sua saúde mental ou simplesmente por estarem concentradas em outros temas”, declarou o principal autor do estudo, Nic Newman, ao portal inglês BBC. “Algumas pessoas se sentem cada vez mais sobrecarregadas e confusas com a quantidade de notícias. Já outras se sentem cansadas com a política”, acrescentou.

Na Suíça, 36% dos entrevistadosLink externo disseram que se abstêm de consumir notícias pelo menos parte do tempo (3% em comparação com o estudo do ano passado). Isso representa um aumento de 10% em comparação com antes da pandemia de Covid-19.

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O interesse geral por notícias vem diminuindo na Suíça nos últimos anos. Em 2024, 48% dos entrevistados disseram estar muito interessados em notícias. Isso foi dois pontos percentuais a mais do que em 2023, mas 11% a menos do que em 2016.

“A chamada privação de notícias (quase não consumir notícias na vida cotidiana) aumentou na Suíça. Mas, ao mesmo tempo, o grupo de consumidores intensivos não aumentou”, disse Linards Udris, pesquisador da Universidade de Zurique que contribuiu para o estudo, no site Persönlich.comLink externo.

A proporção de “avessos às notícias” é maior entre as mulheres (39%) do que entre os homens (33%). O estudo mostra que muitas mulheres não se sentem suficientemente representadas na mídia, de acordo com Udris. “Muitas mulheres não se sentem abordadas pelos temas e pelo tipo de reportagem. Elas preferem receber notícias diretamente dos amigos”, disse.

Confiança na mídia

Enquanto isso, a confiança geral nas notícias permanece estável em 40%, uma proporção 4% menor do que no auge da pandemia, segundo o estudo.

Na Suíça, a confiança nas notícias foi um pouco maior: 41%. Mesmo assim, são nove pontos percentuais abaixo dos valores de 2016. A Sociedade Suíça de Radiodifusão e Televisão (SRG SSR) e seus canais regionais SRF e RTS continuam sendo as marcas mais usadas e confiáveis, seguidas pelos jornais NZZ, Tages-Anzeiger e Le Temps. A SRG é a empresa controladora da SWI swissinfo.ch.

Outro desafio enfrentado pelos jornais é a relutância geral do público em pagar por assinaturas. Depois de algum crescimento durante a pandemia, apenas 17% dos entrevistados em 20 países disseram que pagavam para receber notícias nas plataformas, um número que se manteve inalterado nos últimos três anos, segundo o estudo. O número da Suíça também foi de 17%.

É provável que uma proporção significativa de assinantes de notícias também esteja pagando taxas com desconto devido a promoções. Na Suíça, 47% pagam menos do que o preço total por suas assinaturas.

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Globalmente, o estudo constatou que o público de fontes tradicionais de notícias como televisão e mídia impressa diminuiu na última década. Já os jovens preferem receber notícias via internet ou por meio das plataformas de mídia social. O vídeo está se tornando uma fonte mais importante, especialmente entre os grupos mais jovens.

Na Suíça, quase três quartos das pessoas (74%) disseram que recebem suas notícias através da internet, em comparação com 51% para a televisão e apenas 34% para a mídia impressa. O número de leitores de jornais impressos caiu em quase 50% na última década.

Cerca de 37% dos suíços recebem notícias exclusivamente através das mídias sociais, uma queda de dez pontos percentuais em relação a 2016. As plataformas mais importantes para notícias são WhatsApp (25%), seguido pelo YouTube (23%), Facebook (20%) e Instagram (17%), com os números permanecendo estáveis.

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Em todo o mundo, o uso de notícias está aumentando no Instagram, Telegram e TikTok, enquanto diminui o consumo nas plataformas mais antigas como YouTube e Facebook, mostra o estudo. “Os jovens, em particular, parecem se sentir mais envolvidos por essas ofertas”, disse Udris. Nessas plataformas, as pessoas dizem que não consomem necessariamente notícias da mídia profissional, mas de personalidades ou influenciadores.

Impacto da inteligência artificial

O uso e o impacto da inteligência artificial (IA) nas organizações de mídia também é uma questão atual. Redações de todo o mundo já trabalham com tecnologias de IA, já que empresas como Google e OpenAI criam ferramentas que podem oferecer resumos de informações e desviar o tráfego dos sites de notícias.

O estudo constatou uma crescente e generalizada desconfiança do público sobre como a IA pode ser usada em reportagens, especialmente para temas sensíveis como política ou guerra. “Há mais conforto com o uso da IA em tarefas de bastidores como transcrição e tradução, apoiando e não substituindo jornalistas”, acrescentaram os autores.

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Na Suíça, foram formuladas diretrizes para todo o setor. Muitos jornais e plataformas nomearam chefes de IA, criaram departamentos especializados ou lançaram processos para implementar as novas tecnologias no seu processo de produção.

Mas em um estudo de 2023Link externo, entrevistados na Suíça ressaltaram que não pagariam por notícias geradas por IA, acreditando que seu uso permite a redução de custos para as empresas.

+ Liberdade de imprensa piora na Suíça

O estudo da Reuters deste ano também destaca o problema da desinformação na Internet. A preocupação em diferenciar informações reais das falsas na internet aumentou três pontos percentuais no ano passado, com cerca de seis em cada dez (59%) dizendo que pensam na questão. Esse número foi maior na África do Sul e nos EUA, com 81% e 72%, respectivamente, já que ambos os países realizam eleições este ano, segundo o estudo da Reuters.

Edição: Balz Rigendinger/ts

Adaptação: Alexander Thoele

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