Portugueses estão mal integrados na Suíça
Terceiro maior grupo de estrangeiros na Suíça, os portugueses estão raramente nas manchetes dos jornais. Freqüentemente vivem entre eles, se integram pouco e conhecem mal a língua local.
Difícil de acreditar ao ouvir o seu nome, mas Ruth é portuguesa. Ela vem todas as segundas-feiras à piscina de Zurich-Altstetten com suas duas filhas e conversa bastante com outras pessoas ao final do curso de natação. Em português e em francês.
Andreia é portuguesa. Mas é em inglês perfeito que se exprime para se comunicar em Zurique.
As duas mulheres não são exceções, ao contrário. Segundo um estudo publicado em janeiro pela Central de Integração da cidade de Zurique, os portugueses são os estrageiros que sabem menos o alemão.
Mais de 41% dos portugueses de 20 anos ou mais não falam alemão em casa nem no trabalho. Em comparação, essa proporção é de 23% entre os ex-iogoslavos e albaneses, de 25% entre os italianos e de quase 29% entre os espanhóis.
A diferença é notável com outras nacionalidades: mulheres e homens portugueses têm os mesmos resultados, enquanto nas outras comunidades de imigrantes as mulheres em geral sabem menos a língua local do que seus maridos.
“Foi a boa supresa de nossa enquete”, afirma Christof Meier, resposável da Central de Integração de Zurique. Cerca de 80% das mulheres portuguesas trabalham e a taxa de desemprego é baixa.
Grupos de trabalho na Embaixada
Antonio da Cunha, professor de geografia na Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL) e presidente da Federação das Associações Portuguesas da Suíça, afirma que a situação não é diferente na Suíça Romanda (região de língua francesa), onde residem três quartos dos portugueses da Suíça. “Um estudo realizado em Lausanne nos anos 90 fez as mesmas constatações do relatório de Zurique”, lembra.
“As deficiências das crianças portuguesas na escola são um tema de discussão recorrente, explica o geógrafo, a tal ponto que a embaixada forma regularmente grupos de trabalho para melhorar a situação.”
Segundo Antonio da Cunha, a complexidade e a seletividade do sistema escolar suíço é uma das causas. “Mas a origem social freqüentemente desfavorável também explica os problemas escolares.”
O mito do regresso
Antonio da Cunha precisa que o mito do retorno ao país ainda é muito presente na comunidade. “Quando questionados, eles dizem sempre que estão na Suíça por dois ou três anos e que eles fazem economias para regressar ao país.”
Em Zurique, Christof Meier cita outro fator: membros da União Européia, os portugueses não vêem urgência em obter o passaporte suíço. As pessoas da ex-Iogoslávia, por exemplo, são muito motivadas porque ser suíço é sinônimo de melhora e a naturalização supõe um mínimo de conhecimento da língua local.
Christof Meier explica ainda que “a maioria dos portugueses trabalha na construção, onde a língua mais corrente é o italiano. Muitos portugueses conhecem um pouco do suíço-alemão, mas não têm a menor idéia de alemão.”
Segundo Antonio da Cunha, a comunidade portuguesa vive “relativamente fechada nela mesmo, principalmente na Suíça alemã onde a imigração é mais recente.”
Christof Meier acrescenta: “eles se ajudam muito mutualmente, o que é positivo. Mas com isso, eles não precisam dos outros.”
Sensibilizar, motivar
“Não falo como lingüista, mas creio que para um português o alemão é mais difícil de aprender do que o francês”, acrescenta Antonio da Cunha. Ruth afirma: “tenho muitas amigas que abandonaram o curso de alemão. Creio que é uma língua mais difícil para nós.”
Os responsáveis da integração em Zurique entraram em contato com os responsávels das associações portuguesas para discutir os resultados do estudo. Os portugueses (e os albaneses) serão os convidados do próximo “Festival da Formação”, em setembro.
A Federação dirigida por Antonio da Cunha, por sua vez, vai lançar uma campanha de sensibilização dos pais. Um dos aspectos importantes seria também estimular a participação dos professores de português na informação dos pais.
“Eles poderiam facilitar a compreensão do sistema escolar”. É o que espera o professor do EFPL, que contesta as acusações de discriminação do sistema suíço: “os suíços, às vezes, fazem mais do que os portugueses para ajudar nossas crianças…”
swissinfo, Ariane Gigon, Zurique
O estudo sobre os conhecimentos lingüísticos na cidade de Zurique concluiu que 13 mil pessoas (3,8% da população) não fala nenhuma das quatro línguas nacionais nem o inglês. Por isso têm dificuldade na vida cotidiana.
As pessoas com menos conhecimento de alemão são as mulheres, as pessoas idosas e os portugueses.
Mais de 41% dos portugueses com 20 anos ou mais não falam alemão em casa nem no trabalho.
Mais de 75% dos pais portugueses não estudaram além da escola obrigatória. É a taxa mais alta entre as comunidades estrangeiras.
Metade dos pais portugueses afirma que quer criar os filhos como em Portugal. É a mais alta proporção entre as nacionalidades de imigrantes. Os pais portugueses também participam menos que os outros nas atividades escolares e nas possibilidades de formação para os pais.
Os portugueses começaram a chegar à Suíça no início dos anos 80 na Suíça francesa e nos anos 90 na Suíça alemã.
Com 174.200 pessoas, os portugueses constituem o 3° grupo de estrangeiros na Suíça, depois dos italianos (293.300, 18,9%) e dos sérvios-montenegrinos (191.500, 12,3%). Os alemães (174.000) formam estatisticamente a mesma proporção dos portugueses (11,2% dos estrangeiros).
Fonte: Divisão Federal de Estatística, dados de 2006.
A SSR SRG Idée Suisse – Sociedade Suiça de Radiodifusão e Televisão – da qual swissinfo faz parte, organiza de 7 a 13 de abril uma semana dedicada à integração dos estrangeiros. Sob o título «Wir anderen – nous autres – noi altri – nus auters», nas quatro línguas nacionais, haverá uma série de reportagens, documentários e ficções durante toda a semana. Swissinfo também participa dessa semana especial, em nove línguas.
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