Sentença histórica contra o banqueiro da máfia
Pela primeira vez desde 1994, uma corte suíça aplica o artigo 260 do Código Penal, definindo a participação a uma organização criminosa.
Através do artigo é condenado um ex-advogado a quatorze anos de reclusão.
Muito esperado, o veredicto de condenação do ex-advogado Francesco Moretti foi dado na segunda-feira à noite. Ele foi lido por Agnese Balestra-Bianchi, presidente do Tribunal de Lugano, após nove horas de debates.
Pálido, vestido de preto como é de costume, o acusado escutou a sentença com cabeça baixa. Um veredicto que condena o italiano de mais de sessenta anos como membro de uma organização criminosa. Para ele, o ex-advogado atuou por várias décadas como banqueiro.
Máfia N’drangheta e Camorra
Nascido na Calábria em 1940, mas estabelecido no cantão do Ticino desde o final dos anos 60, Francesco Moretti lavou, durante a sua carreira criminosa, mais de 50 milhões de dólares que pertenciam à máfia siciliana, a n’drangheta calabresa e a camorra napolitana.
“Não foi um prazer para a nossa corte de ter sido a primeira na Suíça a reconhecer um delito de organização criminosa”, declarou o presidente da Corte. “O pior é que esse crime foi cometido por um advogado, um homem que deveria por princípio respeitar às leis”.
US$ 11,5 milhões para o tráfico do “chefão dos dois mundos”
Francesco Moretti também foi condenado, com agravante, pela lavagem de dinheiro do tráfico. Essa acusação deve-se ao financiamento, em 1993, do tráfico de 5,4 toneladas de cocaína transportadas da Venezuela para a Itália, via Canadá.
No verão de 1993, o advogado esteve pessoalmente na Venezuela, para remeter ao “chefão” siciliano Alfonso Caruana, organizador do transporte da droga, US$ 11,5 milhões. Esse dinheiro pertencia ao caixa da máfia.
Esse tráfico gigantesco foi desmantelado em 1994 e Alfonso Caruana, “o chefão dos dois mundos”, foi condenado a 18 anos de reclusão. A pena é cumprida numa prisão canadense.
Proibição de exercer a profissão
Francesco Moretti foi também proibido de exercer sua profissão de advogado, por um período de cinco anos.
Ao mesmo tempo, os nove milhões de dólares encontrados em agosto de 2000 pela polícia no porão da sua casa em Lugano, além das diversas contas bancárias, foram confiscados pelo Estado. O dinheiro pertencia às máfias. O ex-advogado deverá também restituir 39 mil dólares ao governo pelo ganho ilícito.
Durante o processo, o procurador-geral Bruno Balestra havia pedido 17 anos de reclusão para Moretti. Porém a corte acabou reduzindo a pena para 14 anos.
“Uma mosca na teia de aranha”
Roberto Macconi, advogado de Moretti, descreveu seu cliente como sendo apenas “uma mosca presa numa imensa teia de aranha”. Ele havia pedido uma forte redução da pena e já anunciou que entrará com um pedido de recurso.
Durante o processo, Moretti admitiu que havia lavado as quantias declaradas na Suíça. Ele admitiu que agiu de forma imprudente, porém sem saber que o dinheiro vinha de atividades ilegais das máfias italianas.
Ele acreditava que as somas vinham de atividades turísticas na América do Sul.
Swissinfo, Gemma d’Urso em Lugano
traduzido por Alexander Thoele
– Em 1994 entrou em vigo a lei “Anti-Máfia” na Suíça.
– O novo Código Penal considera crime a participação em organizações criminosas.
– Em Lugano ocorre agora a primeira condenação de um mafioso.
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