Suíça é novamente criticada pela Turquia
O ministro turco das Relações Exteriores critica a Suíça pela detenção temporária para interrogatório de um nacionalista turco.
Doğu Perinçek, chefe do Partido turco dos Trabalhadores, é objeto de duas queixas na justiça suíça por negacionismo do genocício armênio durante manistestações na Suíça.
Domingo, o nacionalista turco Doğu Perinçek reiterou a negação do genocídio armênio, falando do “propalado genocídio armênio”. Seu discurso ocorreu durante as comemorações do 82° aniversário do Tratado de Lausanne, oeste da Suíça, diante de cerca de dois mil cidadãos turcos. No mesmo dia, em outra parte da cidade, 300 curdos participaram de uma manifestação de protesto.
Questionado pela agência noticiosa suíça ATS, Doğu Perinçek criticiou novamente “a mentira internacional” do genocício armênio. Na Suíça, existem duas queixas contra ele por violação da lei penal contra o racismo.
Interrogado pela Justiça
A justiça do Cantão de Vaud (oeste) abriu um inquérito depois da queixa da Associação Suíça-Armênia acerca do discurso pronunciado pela primeira vez, em maio, em Lausanne.
Neste final de semana, o Ministério Público de Winterthour, segunda maior cidade do Cantão de Zurique, abriu outro inquérito contra o nacionalista turco depois de Doğu Perinçek também ter negado o genocídio armênio, sexta-feira, em coletiva à imprensa, perto de Zurique.
Sábado, ele foi interrogado por mais de duas horas pelo juiz de instrução de Winterthour.
Ankara considera inaceitável
O fato foi considerado “inaceitável” e “absolutamente contrário ao princípio da liberdade de opinião”, pelo ministro turco das Relações Exteriores, Abdullah Gül, citada pela agência noticiosa alemã DPA.
“Não podemos aceitar um tal comportamento frente a um líder político turco”, declarou ainda o ministro ao jornal turco Hürriyet. “Ainda menos partindo de um país como a Suíça!”, acrescentou. Em junho, o ministro turco da Economia anulara sua viagem à Suíça também devido tensões acerca do genocídio armênio.
Segunda feir, o Ministério Suíço das Relações Exteriores (DFAE) disse ter tomado nota das diferentes declarações divulgadas pela imprensa, segundo o port-voz Ivo Sieber. Ele não quis comentar as declarações e disse apenas que “aplicamos o princípio da separação de poderes”.
Mandato para comparecer
Através de um comunicado, o deputado federal ecologista Ueli Leuenberger pede que o governo suíço “intervenha firmemente junto às autoridades turcas”, incitando-os a cessar os atos de provocação na Suíça.
A Justiça do Cantão de Vaud também queria aproveitar da presença de Doğu Perinçek em Lausanne, domingo, e emitiu um mandato para que ele comparecesse para interrogatório. O nacionalista turco alegou que não tinha tempo e será ouvido posteriormente, de acordo com Gislaine Carron, porta-voz da polícia de Lausanne.
Tratado de Lausanne
Toda essa movimentação judiciária não impediu a manifestação turca organizada domingo perto de um grande hotel onde ocorreram, na época, as negociações do Tratado de Lausanne.
Os curdos, maiores pededores do Tratado, manifestaram-se em frente a outro edificio, no centro de Lausanne, onde o Tratado de Lausanne foi assinado em 24 de julho de 1923. Os discursos dos curdos denunciaram o Tratado que “ultrajou a esperança de liberdade” das minorias da Turquia.
Essas celebrações tinham como pano de fundo as negociações adesão da Turquia à União Européia que devem começar em outubro. Os curdos esperam ter seus direitos nacionais melhor reconhecidos. Por outro lado, certos nacionalistas turcos temem que o governo faça muitas concessões na questão das minorias.
As duas manifestações foram isoladas pela polícia e ocorreram sem incidentes.
swissinfo com agências
O Tratado de Lausanne foi assinado em 24 de julho de 1923 entre as potências européias e a Grande Assembléia Nacional turca.
O texto definiu as fronteiras da nova República Turca, fundada por Mustafa Kemal Ataturk.
Os judeus, os gregos e armênios foram considerados minorias.
No entanto, o povo kurdo não foi reconhecido como tal.
A tensões entre a Suíça e Turquia voltaram à tona. Ankara criticou a detenção e interrogatório de um político turco suspeito de ter violado a lei penal contra o racismo.
Em manifestações na Suíça, Doğu Perinçek negou que o genocídio armênio tenha existido.
A interpretação histórica da morte de 800 mil a 1,8 milhão de armênios entre 1915 e 1918 cria tensões há anos entre Berna e Ankara.
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