Suíços fizeram festa no circuito de Monza
Milhares de pessoas foram ao autódromo da cidade de Monza para o Grande Prêmio de F-1. Uma romaria de apaixonados por motores, aerodinâmica e tecnologia de ponta ocuparam as ruas e as calçadas das imediações do parque onde está localizado o famoso circuito.
Os suíços também marcam presença no circuito tradicional do circo da F1.
Os fãs da velocidade vieram de todas as partes do mundo. Para os suíços é uma ótima desculpa para atravessar os Alpes o quanto antes, e dar um passeio na Itália. E eles não faltam ao chamado, desde os tempos do piloto ferrarista Clay Regazzoni, vencedor do GP de Monza, em 1975, guiando uma mítica Ferrari.
A foto e a assinatura dele estão logo na entrada do parque, numa das vias de acesso ao autódromo. Ao lado de ídolos como Ayrton Senna, Emerson Fittipaldi, Jackie Stewart, somente para citar alguns, estão as imagens do piloto suíço de Mendrisio. E se faz a fila para admirar aqueles que arriscavam a vida voando baixo nas retas e curvas de Monza, um dos circuitos mais prestigiados e famosos do mundo.
No templo da velocidade, tudo escorre rápido, menos ao redor, com trânsito de pessoas e pedestres andando em marcha lenta, muito lenta. Um engarrafamento de carros e um formigueiro de gente occupa todo ano cada metro de asfalto e calçada. Mesmo com todas as placas de indicações, orientar-se é um desafio e tanto.
Invasão pacífica
Antes mesmo da abertura das sessões de treinos livres de sexta-feira, a área reservada para o acampamento, já tinha sido ocupada por trailers, carros, motos, bicicletas, patins e ônibus. Uma legião estrangeira, formada na sua maioria por suíços, alemães e italianos, além de torcedores desde a Finlândia à Espanha, da Holanda à França, se tornaram vizinhos por três dias ou mais.
O mar de barracas de camping lembra uma colônia de férias. Algumas são muito criativas e sofisticadas, e possuem varanda, jardim, plantas e até mesmo uma pequena horta. Famílias inteiras, com os amigos, participam desta verdadeira festa de confraternização e fazem do Gp Village um autêntico condomínio de amantes da F-1. E ninguém passa fome…um vizinho ali faz uma macarronada, o outro acende a churrasqueira, um terceiro prepara uma salada especial e se convidam…o combustível desta turma é cerveja, água e vinho.
“Muitas vezes parecemos fazer parte de uma grande família, é muito legal e divertido”, diz Kristen, de St-Gallen. Ela se referia a este grupo de admiradores dos carros e pilotos que se desloca atrás do “circo” pela Europa e, em muitos casos, nas provas em outros continentes. Ela transporta a casa nas costas, ou melhor, ela dirige a casa, no real sentido da palavra. O ônibus pintado com as cores da bandeira da Suíça é completamente mobiliado. Tem uma pequena cozinha, uma sala, uma cama de casal nos fundos e se o frio chegar antes da hora, uma estufa, aos pés da escada junto a porta de entrada.
Banheiros químicos e chuveiros fazem parte da instalação sanitária prevista pelos organizadores. Assim como um centro médico, localizado numa das extremidades do camping. Um bar, bastante movimentado, fornece os gêneros alimentícios de primeira e última necessidades. O lugar virou ponto de encontro de quem não vê a hora do tempo passar em boa compania, trazida de casa ou encontrada ali mesmo.
O vai e vem de pessoas de todas as idades, vestidas com as camisas das escuderias não cessa um instante. E para a noite cada um decorou o próprio espaço como melhor pode…luzinhas coloridas aqui, bandeirinhas ali, lâmpadas de neon lá…dá para imaginar que as noites no Gp Village são animadas-dentro do respeito dos horários de silêncio.
Camarote improvisado
Os suíços não deixam faltar nada. Do famoso canivete com mil e uma funções, à rede para descansar, dos tampões de ouvido à piscina inflável, tudo com um preciso e pontual bom humor. Ao final, os lugares privados se reduzem a poucos metros quadrados. E pensando nisso e, já sendo íntimos do local, muitos helvéticos chegaram com alguns dias de antecedência para conseguir um lugar melhor.
A intuição valeu a pena. Boa parte dos traileres estacionados diante da grade que separa o acampamento da pista, bem em frente ao trecho final da reta de saída da curva Biasson – aonde os carros atingem quase 300 quilômetros por hora para reduzir e fazer uma segunda variante a baixa velocidade. Com escadas e plataformas de madeira eles construíram um verdadeiro camarote com vista para o asfalto da pista. E de binóculos não perdem um detalhe do que ocorre nos trechos um pouco mais distantes.
A brusca redução de marchas e as freadas fazem os carros cuspir fogo pelo tubo de escapamento e inunda o ar com cheiro de combustível, isso sem falar no ronco dos motores. Para os espectadores é o paraiso sobre a Terra, traduzido em iluminação, perfume e música. “Este lugar aqui é muito bonito, estamos bem, vivemos a emoção de perto”, disse o suíço Robert Righini enquanto armava a bandeira num varal improvisado entre as árvores que cercam o trailer.
O camping esvazia durante os treinos e vira um acampamento fantasm, mas nos intervalos ele volta e encher como num passe de mágica. Muitos com fome, com sede ou… sono e tem gente preguiçosa, até porque conseguiu um lugar na primeira fila, pole position entre os acampados-remediados. Este é o caso da familia Eberle, de Freidorf. Seis pessoas sorriem à toa pois dormem, comem, e assistem à passagem dos carros da janela e do teto do trailer estacionado a menos de cinco metros da pista.
Pilotos suíços
“Torcemos pelo Sebastian Buemi, da Toro Rosso, quem sabe poderá vencer a prova”, diz a senhora Eberle. E todos na mesa do almoço sorriem com ar de aprovação, sem muita convicção. Mas no fim do dia, o piloto suíço terminaria com o sexto melhor tempo no primeiro dia de sessão dos treinos livres. No retrovisor ele deixou os concorrentes como Raikkonen, Fisichella e do líder do campionato mundial, Button.
Talvez, o velho Clay, falecido num acidente automobilístico em 2006, tenha um substituto à altura em fase de maturação. Sebastian Buemi, 20 anos, nascido em Aigle, supreendeu na estreia na Fórmula 1. No Grande Prêmio da Australia ele chegou em sétimo lugar e marcou dois pontos. Antes dele, apenas Clay Regazzoni tinha debutado assim, no distante Grande Prêmio da Holanda, em 1970.
Os suíços também têm um outro motivo para acompanhar de perto a F-1. Eles podem contar com a velocidade e o talento de Romain Grosjean, de Genebra, susbtituto do brasileiro Nelsinho Piquet, demitido da Renault. Pela segunda vez, na história do circo, a Suíça tem dois pilotos alinhados no grid de largada.
Sebastian Buemi e Romain Grosjean, no século 21, repetem a dobradinha helvética de Clay Regazzoni e Marc Surer, concorrentes na temporada de 1980.
Guilherme Aquino, Monza, swissinfo.ch
O legendário circuito de Monza foi construído em 1922 e passou por varias modificações do seu traçado original ao longo das décadas, acompanhando a evoluçãoo da indústria automobilística.
A autódromo foi palco anual de importantes competições do automobilismo e do motociclismo desde o começo. Interrupções aconteceram apenas durante os anos da Segunda Guerra Mundial, as atividades foram retomadas apenas em 1948.
O único piloto suíço a vencer em Monza foi Clay Regazzoni, em 1975, pela Ferrari. Na ocasião, a pista foi invadida pelos torcedores.
O autóromo fica dentro do parque de Monza. Os protestos dos moradores e dos ambientalistas crescem quando se aproximam as competições.
O parque de Monza existe desde 1805, tem cinco portões de entrada e 685 hectares de área.
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