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Suíços presos no Brasil podem ser soltos em breve

Pátio interno do banco Clariden Leu em Zurique. Keystone

Termina hoje o prazo estipulado para a prisão temporária dos dois funcionários de bancos suíços presos no Brasil durante uma operação policial.

Detidos há dez dias sob a acusação de envolvimento num esquema de remessa ilegal de dinheiro para a Suíça, Luc Marc Depensaz e Reto Buzzi poderão ganhar a liberdade a qualquer momento.

Termina à meia-noite desta quarta-feira (14/11), horário de Brasília, o prazo estipulado para a prisão temporária dos dois funcionários de bancos suíços presos no Brasil durante a Operação Kaspar 2, realizada pela Polícia Federal.

Detidos há dez dias pela Justiça brasileira, sob a acusação de envolvimento num esquema de remessa ilegal de dinheiro para a Suíça, Luc Marc Depensaz (funcionário do UBS) e Reto Buzzi (funcionário do Clariden Leu) poderão ganhar a liberdade a qualquer momento, já que a prisão temporária de ambos não poderá mais ser renovada.

A outra possibilidade é que os dois funcionários suíços tenham sua prisão temporária transformada em prisão preventiva pela Justiça, o que tornará indefinido o tempo de permanência deles no Brasil. Por isso, o destino imediato de Depensaz e Buzzi está nas mãos do juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, que cuida do caso.

Relaxamento das prisões

No último sábado (10), um dia após o término do primeiro período de cinco dias de prisão temporária das 20 pessoas inicialmente detidas pela Operação Kaspar 2 (o total subiu para 22), Sanctis determinou que oito presos fossem libertados. Para os outros 14 detidos, entre eles os dois suíços, foi prorrogada a prisão temporária por mais cinco dias, prazo máximo permitido pela lei brasileira.

A Justiça não divulgou o motivo do relaxamento das prisões, e a Polícia Federal se limitou a informar que as oito pessoas soltas responderão em liberdade a processos por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, sonegação de impostos e remessa ilegal de divisas para o exterior.

Devido a esse precedente, a expectativa é grande pela soltura das pessoas ainda detidas. Nos casos de Reto Buzzi e Luc Marc Depensaz, a possibilidade de relaxamento da prisão foi reforçada depois que a Polícia Federal constatou que Marc Henry Dizerens, também cidadão suíço e funcionário do UBS, não está mais no Brasil. Apontado como envolvido no esquema ilegal, Dizerens é considerado foragido pela Justiça brasileira.

Questionada pela reportagem de swissinfo, a assessoria de imprensa da Polícia Federal confirmou que a liberdade dos suíços pode estar próxima: “Existia a possibilidade de se chegar ao Dizerens por intermédio do Depensaz, mas as informações dão conta de que o primeiro já se encontra na Suíça. Assim sendo, é possível que tenhamos novidades já na madrugada de quinta-feira (15)”.

Quebra de sigilo

A velocidade dos acontecimentos, no entanto, pode contribuir para permanência de Luc Marc Depensaz e Reto Buzzi na prisão. As investigações preliminares da Polícia Federal, comandadas pelo delegado Renato Saadi, estão próximas da conclusão. O juiz Fausto de Sanctis determinou a quebra do sigilo fiscal dos 19 brasileiros envolvidos, além do bloqueio de suas contas bancárias, o que deve intensificar a coleta de evidências contra os participantes do esquema.

Em caso de soltura dos dois suíços, não se sabe ainda quem irá recebê-los. O banco UBS Pactual, filial do UBS no Brasil, afirma que Depensaz é funcionário da matriz na Suíça, não tendo qualquer ligação com a empresa no país. Por sua vez, a filial brasileira do Crédit Suisse, banco que controla o Clariden Leu, limita-se a informar que “a questão está sendo tratada pela matriz em Zurique”.

Kaspar 1 e 2

A Operação Kaspar teve início em março deste ano, depois que a Polícia Federal estabeleceu a conexão entre alguns doleiros brasileiros que estavam sendo investigados há meses e o banco Crédit Suisse. O escritório do banco suíço em São Paulo, segundo as investigações, estava sendo usado pelos doleiros como plataforma para a remessa ilegal de divisas para o exterior.

Em sua primeira fase, a Operação Kaspar chegou a efetuar a prisão temporária de um diretor do Crédit Suisse, Peter Schaffner, detido no aeroporto internacional de São Paulo quando se preparava para deixar o Brasil após uma visita ao país.

Logo depois desse episódio, segundo as investigações, o esquema mudou e deixou de usar os escritórios dos bancos, passando a priorizar a vinda de gerentes e demais funcionários ao Brasil para tratar diretamente com os clientes. Foi aí que a PF organizou a Operação Kaspar 2, concluída na semana passada.

swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro

De acordo com os dados já revelados pela Polícia Federal no Brasil, somente clientes de alto poder aquisitivo ou empresas consolidadas se valiam do esquema de remessa ilegal de dinheiro para a Suíça que envolvia funcionários dos bancos UBS e Clariden Leu e foi desbaratado na Operação Kaspar 2.

Entre as empresas mais conhecidas que se beneficiaram do esquema e tiveram o nome revelado estão a Le Postiche (líder no mercado de malas e bolsas), a Gold (líder no mercado de chaves e cadeados), a Amazon PC (fabricante de computadores) e a Ornare (fabricante de móveis).

As outras empresas citadas pela PF são: Aquarius Consultoria Financeira; Egger & Egger Consultoria Empresarial; Feller Engenharia; Indústrias e Confecções Leal; Participe Empreendimentos Imobiliários; São Paulo Express; Zampese Máquinas.

Em nota enviada à imprensa, a Le Postiche confirmou que diversos documentos foram apreendidos em sua sede por agentes da Polícia Federal, mas ressaltou que nenhum executivo ou funcionário da empresa foi preso na Operação Kaspar 2. A Ornare informa apenas que “está se inteirando do caso” e que “irá se pronunciar em momento oportuno”.

A Amazon PC nega que um dos presos, supostamente seu diretor, tenha “qualquer vínculo financeiro, societário ou trabalhista” com a empresa. A Gold ainda não se manifestou publicamente.

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