Trilha para exercitar o corpo e a cabeça
Para as pessoas que gostam de combinar caminhadas com aprendizado, a Suíça oferece centenas de trilhas de descoberta. Elas cobrem praticamente todos os assuntos imagináveis.
Árvores e flores, história industrial, agricultura, a estrutura do sistema solar, contos locais de fadas – há sempre uma ideia para qualquer gosto.
Algumas dão explicações profundas sobre uma determinada região, enquanto outras falam de assuntos específicos. Em todo caso, o objetivo principal é simplesmente incentivar as famílias a botar o pé na estrada.
swissinfo.ch foi testar uma das mais recentes novidades: uma trilha geológica em torno das montanhas nas fronteiras entre o cantão de Berna e de Friburgo. Seu propósito é, de fato, bastante sério.
A cadeia de montanhas conhecida pelo nome de “Gastlosen” lembra o dorso de um dinossauro. São aproximadamente 15 quilômetros de picos irregulares e entrecortados, que atraem andarilhos e montanhistas de todas as partes do mundo.
Essa cadeia também está na lista das formações geológicas de importância nacional. A nova trilha construída foi projetada para explicar por que seus picos são tão interessantes.
A trilha é fruto da colaboração entre o Instituto de Geologia da Universidade de Friburgo e a Associação Cantonal das Seguradoras de Imóveis (Ecab, na sigla em francês).
“Na Ecab apoiamos tudo relacionado à educação popular sobre temas geológicos”, explica Pierre Ecoffey, diretor da Ecab e também ele próprio geólogo diplomado.
“Essa trilha tem muita importância no treinamento dos futuros geólogos. Nela não são explicadas somente as pedras, mas também os problemas relacionados aos deslizamentos de terra. Por isso também existe o aspecto de prevenção.”
Preparação longa e construção rápida
A ideia foi proposta pela primeira vez em 1995, mas depois de uma breve fase de preparação, o projeto acabou ficando arquivado por muitos anos. Até que Luc Braillard, doutor de geologia na universidade, o “ressuscitou” através da colaboração de um dos seus estudantes, Daniel Rebetez.
Sabendo que a Ecab estaria disposta a financiar o projeto, ele criou uma pequena associação para concretizar esse sonho.
Como os estudantes de geologia no primeiro ano de curso são sempre levados à área, Braillard sabia qual seria a trilha para mostrar as mais interessantes rochas.
Por um golpe de sorte, o estudante Daniel Rebetez conseguiu completar seus estudos do bacharelado com três meses do serviço civil – a alternativa ao serviço militar, obrigatório para todos os cidadãos suíços – tempo que aproveitou para construir fisicamente a trilha.
Um segundo voluntário, também cumprindo o serviço civil, ajudou durante um mês a realizar um trecho particularmente difícil da trilha, no qual foi necessário empregar um equipamento especializado para estabilizá-la.
O apoio foi dado, e também financiado, pelo cantão, que enviou dois grupos de 30 estagiários na área de salvamento por dois dias, cada um deles. Para eles foi uma chance de aplicar seus conhecimentos concretamente, permitindo que todos se beneficiassem do projeto.
Membros da associação vinham ajudar Rebetez sempre que possível. Porém sua principal contribuição foi editar uma brochura com explicações detalhadas sobre a trilha. A receita das vendas deve gerar um lucro modesto, que será aplicado na manutenção da trilha.
Seguradoras
Se a trilha geológica seria impensável sem a intervenção de vários entusiastas, o apoio financeiro por parte da Ecab também foi vital para a realização. Ao contrário do que parece, não é incomum para seguradoras apoiar a criação de trilhas de descoberta, como explica Vera Schädler, da Associação Suíça de Seguradoras à swissinfo.ch
Nos últimos nove anos, essa associação ajudou a realizar nove trilhas em todas as partes da Suíça para ensinar aos visitantes a importância de proteger as florestas nas montanhas.
“Florestas intactas protegem as pessoas que vivem nas regiões montanhosas de catástrofes naturais como avalanches, quedas de pedras, deslizamentos de terra e inundações. Porém muita gente não tem ideia do importante papel que elas cumprem”, diz Schädler.
“As seguradoras privadas querem fazer uma contribuição ativa para o trabalho de prevenção e conscientizar também as pessoas das suas responsabilidades”, acrescenta.
Para transmitir essa mensagem, as trilhas foram projetadas também para divertir. Nelas as informações são apresentadas de tal forma, que os visitantes podem escolher até que ponto eles querem se aprofundar nos temas oferecidos.
Oferta
Embora essas trilhas sejam chamadas de “trilhas de descoberta” ou “trilhas de aprendizado”, elas complementam as outras que não são consideradas tão sérias como as “trilhas divertidas” no Appenzell (região montanhosa ao leste da Suíça) e em outros lugares, onde piadas no dialeto local foram inscritas em cartazes fixados ao longo dos caminhos.
A Suíça Turismo, organização que abriga todas as secretarias de turismo do país, as qualifica de interesse “familiar”, ao invés de algo voltado para verdadeiros montanhistas.
“Em geral elas complementam o que já é oferecido. São poucas que poderiam atrair as pessoas por si só”, ressalta Rafael Enzler, chefe de marketing na Suíça Turismo.
Seja como for, Jean-Marie Buchs, chefe da secretaria de turismo da região do Jaun, onde estão localizados os picos do Gastlosen, está confiante que os visitantes irão gostar da nova trilha.
“Essa é uma atração adicional para nós. Muita gente se interessa realmente por esse tipo de tema”, afirma.
Julia Slater, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)
Como não existe uma organização das trilhas de descoberta, não há uma lista abrangente disponível.
Algumas delas, como as trilhas geológicas ou de descoberta da história industrial, estão vinculadas ao local onde foram construídas.
Outras, como as trilhas agrícolas ou de história natural, são mais gerais, mas sempre ligadas à própria região.
Algumas como planetário ou as trilhas “divertidas” podem ser construídas em qualquer lugar.
A Academia Suíça de Ciência lista 172 trilhas geológicas no seu site (ver links).
Outro tema popular é o sistema solar: modelos em escala dos planetas dispostos ao longo da trilha em uma escala de 1 para um bilhão.
As florestas do país oferecem também um grande número de trilhas com informações sobre as árvores que lá crescem.
Uma das trilhas mais incomuns é a “Klangweg” (Trilha do Tom, na região de Toggenburg, ao leste da suíça, onde os excursionistas podem experimentar os instrumentos musicais únicos e construídos especialmente para a trilha.
Essa trilha tem aproximadamente cinco quilômetros de extensão.
Ela é acessível através de transporte público até o vilarejo de Jaun (Bellegarde, em francês). A caminhada dura cerca de uma hora.
A trilha começa a uma altura de 1.350 metros e seu ponto mais alto é de 1.800 metros acima do nível do mar.
A trilha tem 12 paradas, nas quais as explicações podem ser lidas na brochura de acompanhamento ou em um livreto mais detalhado.
Algumas das atrações:
– As conseqüências de alguns deslizamentos de terra.
– As chamadas “couches rouges” (camadas vermelhas): um depósito de sedimentos ricos em hematita, responsável pela coloração vermelha da terra.
– Estratos de radiolarite, terrenos sedimentares formados há milhares de ano no continente africano e elevados tectonicamente até os Alpes. Essas pedras eram utilizadas para fazer pontas de flechas e outros instrumentos de pedra entre 9.500 e 5.000 antes de Cristo.
– Colônias de fósseis de mexilhão.
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