Turquia anula viagem de ministro suíço
O ministro suíço da Economia, Joseph Deiss, não poderá ir à Turquia em setembro, como estava previsto.
Oficialmente, o governo de Ankara alega problemas de agenda mas, na Suíça, sabe-se que as verdadeiras razões são as divergências acerca do genocídio armênio.
Era quase uma visita de rotina. A cada três ou quatro anos, o ministro suíço da Economia ia à Turquia, importante parceiro comercial, acompanhado por um grupo de empresários.
A próxima estava marcada para o início de setembro. Estava mas não vai ocorrer. Oficialmente, o ministro turco da Economia, Kürsad Tüzmen, está com a agenda lotada, como diz a notificação enviada terça-feira à embaixada da Suíça em Ankara. Foi o que repetiu o ministério da Economia, confirmando as informações do Tages Anzeiger , de Zurique, e do Le Temps, de Genebra, sexta-feira.
Mal humor
Na verdade, pode ser uma nova onda de mal humor da Turquia com a Suíça. Duas semanas atrás, a comemoração do Tratado de Lausanne, que fixou as fronteiras da Turquia moderna em 1923, provocou uma nova polêmica.
Um turco de extrema esquerda, Doğu Perinçek, aproveitou a ocasião para negar publicamente o genocídio armênio. Um inquérito contra ele já havia sido aberto no cantão de Vaud, oeste da Suíça, e ele foi convocado dia 23 de julho pela justiça de Winterthour, perto de Zurique. Nessa cidade, corre um outro inquérito pelos mesmos motivos contra o historiador turco Yusuf Halacoglu.
Esses acontecimentos provocaram reações do governo de Ankara e uma intensa atividade diplomática não foi suficiente para acalmar os ânimos.
Sibel Gal, porta-voz da embaixada da Turquia em Berna, explica que não se trata de uma anulação mas que a viagem de Joseph Deiss deve ser organizada “conjuntamente”.
Precisou ainda a swissinfo que o adiamento “não tem nada a ver com o interrogatório de Perincek, líder do Partido dos Trabalhadores da Turquia, mas a um problema de agenda”.
Não é a primeira vez
Incidentes desse tipo já ocorreram anteriormente. A ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, teve uma viagem adiata até março passado. Motivo: em 2003, o Parlamento do cantão de Vaud, reconhecera oficialmente o genocídio armênio durante a Primeira Guerra Mundial.
Questionado sobre os motivos reais da anulação da viagem de Joseph Deiss, o Ministério da Economia responde que “a pergunta deve ser feita à Turquia”, segundo o Tages Anzeiger.
As autoridades turcas criticam as ações da justiça suíça contra seus cidadãos, alegando que elas violam o direito internacional. Os suíços respondem que a separação de poderes é essencial à democracia.
Os inquéritos da justiça suíça foram abertos contra o historiador e o líder político por infração à legislação contra o racismo.
Preservar a memória histórica
Menos diplomáticos, os presidentes das comissões parlamentares de política externa estimam que os interesses econômicos não devem prevalecer sobre os princípios e que “a Suíça não pode ajoelhar-se diante da Turquia”, segundo o jornal zuriquense.
Em 2003, a Câmara dos Deputados reconheceu o genocídio armênio. O governo suíço não fala oficialmente de “genocídio” mas de “deportação em massa” e de “massacres”.
A chefe da diplomacia, Micheline Calmy-Rey, lembrou recentemente que “a Suíça abordou várias veezes a questão armênia e incentivou a Turquia a adotar uma política mais conciliante em relação à Armênia” e a fazer seu trabalho de memória histórica.
swissinfo
A interpretação histórica da morte e da deportação de 800 mil a 1,8 milhão de armênios entre 1915 e 1918 provoca tensões entre a Turquia, a Suíça e vários países europeus.
O genocídio teve reconhecimento parlamentar em vários países como França, Rússia, Itália, Estados Unidos e outros.
O reconhecimento pela ONU foi em 1985, dois anos depois do Parlamento Europeu.
Em 2003, a Câmara suíça dos Deputados reconheceu o genocídio.
O governo suíço não fala oficialmente de “genocídio” mas de “deportação em massa” e de “massacres”.
– A anulação da visita do ministro suíço da Economia, Joseph Deiss, prevista em setembro é sinal de novas tensões entre a Turquia e a Suíça.
– A orígem é a convocação de um político turco pela justiça suíça, por violação da lei suíça contra o racismo.
– Doğu Perinçek negou publicamente na Suíça o genocídio armênio.
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