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Um ônibus para combater o flagelo da aids

Diego Benaglio, goleiro do Wolfsburg e da seleção suíça, encontrou-se com jovens sul-africanos no começo do ano. swissinfo

Na província do Cabo Oriental, como no restante da África do Sul, a aids (sida) é uma calamidade. Segundo dados oficiais, 5,7 milhões de pessoas são portadoras do HIV no país da Copa 2010.

Pintado com as cores da Copa do Mundo de Futebol, o fun-bus vai ao encontro de alunos pobres em Port Elizabeth, com o objetivo de sensibilizá-los sobre os perigos e a necessidade de se protegerem contra a doença.

Dos mil alunos matriculados na Escola Primária Charles Duna (Charles Duna Primary School) do township de New Brighton, trinta são soropositivos. Há dois anos, uma epidemia de tuberculose – que atinge principalmente os aidéticos – deixou “vários mortos no estabelecimento”, diz Sume Nombuleto, diretora da escola.

Segundo censo oficial, na África do Sul, um dos países mais afetados pela epidemia, 5,7 milhões de pessoas estão contaminadas pelo vírus HIV, o que corresponde a quase 12% da população total. No levantamento de enfermos entre 15 e 49 anos, as estatísticas da ONU chegam a 18%.

Para Suma Nombulelo, mulher de temperamento enérgico, a aids é apenas uma entre muitas outras preocupações. Para ela, por exemplo, é mais importante e urgente resolver os problemas alimentares e de abastecimento de água na escola.

Prevenção pelo esporte

Dois dos três sanitários do estabelecimento foram fechados. Duas torneiras do lado de fora estão sob permanente vigilância de um professor para evitar desperdício do precioso líquido.

“Isto ocorre com frequência porque o sistema de abastecimento não foi trocado desde 1995, ano que marca oficialmente o fim dos regimes de educação diferenciados para negros e brancos. A municipalidade e o Ministério da Educação não têm assumido responsabilidade pelo problema e tudo fica na mesma.

Essa escassez ocorre em má hora. Uma grande parte dos alunos da Charles Duna Primary transpira muito durante os jogos de futebol, ao lado da escola. Os alunos de 5 a 14 anos, reunidos em torno de uma bola, seja de futebol, de rúgbi ou de críquete, os três esportes mais populares do país, são observados por cerca de quinze jovens benfeitores europeus, passageiros do fun-bus que desperta curiosidade da criançada do township.

Em um dos cantos do Centro de Esportes, onde há mais pedras que grama, Nwbana, Siwe e Ntosh, três funcionários de Umzingisi, parceira local da ONG Imbewu, de Neuchâtel (oeste suíço), procuram, através de exercícios, estimular o espírito de equipe e de estima pessoal entre jovens que carecem de referências.

Ignorância na cúpula

Depois do esporte, o tempo é totalmente dedicado à prevenção. Aos alunos reunidos na sala de aula, Ntosh pergunta primeiro em inglês e depois em Xhosa: “Quantas pessoas são portadoras do vírus da aids na África do Sul?” Aparentemente, a lição dada 15 dias antes foi bem memorizada, pois a maioria responde sem pestanejar: uma em cada oito pessoas. Uma média nacional preocupante mas que, ainda assim, se situa bem abaixo da realidade no township de New Brighton.

Em seguida, para gravar bem a mensagem, os 50 alunos repetem, em coro, a palavra comdom (camisinha), único meio eficaz de lutar contra a pandemia. Os exercícios práticos do uso de preservativos são ensinados pormenorizadamente aos alunos maiores de 14 anos.

Essa elementar mensagem encontra, porém, dificuldade para se propagar em um país cujo presidente, além de polígamo, deu margem, recentemente, a mais polêmicas por ter tido um filho – o vigésimo – com a filha de um de seus amigos. Em 2006, quando era o chefe do Comitê Nacional de Luta contra a Aids, o presidente Jacob Zuma contou que apenas tomou um banho depois de relações sexuais sem camisinha com uma mulher, para “diminuir o risco” de contrair o vírus da aids.

Uma reconversão

Eleito no ano passado, sucedendo a Thabo Mbeki (1999-2009), cujo ministro da Saúde insistia muito mais na necessidade de uma alimentação rica em frutas e legumes do que no uso de antirretrovirais, Jacob Zuma tem manifestado vontade de lutar contra o flagelo. Desde abril passado, todos os bebês de menos de um ano portadores do vírus devem receber um tratamento, bem como as gestantes serem atendidas mais cedo, para prevenir, ao darem a luz, a transmissão de HIV ao filho.

O objetivo do governo é reduzir pela metade o número de novas contaminações até o fim de 2010. Mas hoje quase um milhão de sul-africanos não têm acesso aos antirretrovirais (ARV). Dos 30 soropositivos da Charles Duna Primary, somente dez são tratados com AZT, coquetel de medicamentos fornecido, por enquanto, apenas às pessoas com defesas imunológicas muito baixas.

A distribuição de camisinha funciona bem, segundo os responsáveis de Umzingise. Os esforços, principalmente realizados pelas ONGs, visam a juventude, uma geração que não foi devastada moralmente durante mais de quatro décadas de apartheid.

Martelando as mensagem de prevenção em todas as escolas pobres da Província, Nwbane, Siwe e Ntosh esperam mudar pouco a pouco a mentalidade da população. Mas a ignorância, o consumo de álcool e drogas, a prostituição, a promiscuidade e os estupros em série constituem graves obstáculos para uma rápida erradicação da enfermidade.

A África do Sul, assolada por altos índices de desemprego (mais de 70% em New Brighton), e pelas sombrias perspectivas socioeconômicas, terá dificuldade em atingir seu objetivo.

Samuel Jaberg, swissinfo.ch
(Tradução de J.Gabriel Barbosa)

Quarenta e três por cento da população sul-africana vivem com menos de dois dólares por dia.

A taxa oficial de desemprego atinge 24,5% da população. Na realidade, ultrapassa os 40%.

Duzentas e sessenta mil vagas foram oficialmente perdidas em 2009, principalmente entre os jovens negros do setor informal.

Treze milhões de sul-africanos se beneficiam de salário-desemprego.

Desde 1995, a renda mensal média dos negros aumentou 37,3%. A dos brancos, 83,5%.
Segundo o Banco Mundial, 13% da população vivem em condições de “primeiro mundo” e 50%, as de um país em desenvolvimento.
Trinta e sete por cento da população não têm acesso a água potável e energia elétrica e 25% nem mesmo à educação primária.

A expectativa de vida caiu 10 anos na última década e não passa dos 50 anos. E 18,1% da população na faixa etária de 15 a 49 anos é soropositiva.

Situada na costa sul do continente africano e chamada, com razão, de “cidade do vento”, Port Elizabeth – município que faz parte, desde 2001, da metrópole Nelson Mandela Bay – é a quinta maior cidade do país. Ela conta com 1,3 milhão de habitantes, dos quais quase 800 mil vivem nos townships, situados no nordeste da cidade, para onde negros e mestiços foram removidos durante o apartheid.

Cidade portuária, ela é a capital sul-africana da indústria automobilística, que emprega dezenas de milhares de pessoas. Atingida pela crise do setor automobilístico, a cidade procura diversificar sua base econômica, principalmente através do desenvolvimento do turismo.

É uma das cidades que sediará a primeira Copa do Mundo de Futebol em solo africano, de 11 de junho a 11 de julho. A equipe da Suíça vai disputar ali seu segundo jogo, contra o Chile, no dia 21. O novo estádio – o Nelson Mandela Bay Stadium – que custou mais de 300 milhões de francos suíços, tem capacidade para 48 mil torcedores.

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