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Uma arquiteta suíça a serviço do “rei futebol”

O estádio Green Point, na Cidade do Cabo: um dos três que Michèle Rüegg ajudou a planejar. Keystone

Michèle Rüegg foi co-responsável pelo projeto de construção de três estádios da Copa do Mundo na África do Sul. Desde o início do ano, vive no Rio de Janeiro, já envolvida nos preparativos para o Mundial 2014.

Em conversa com swissinfo.ch, a arquiteta suíça fala sobre suas experiências no trabalho e no cotidiano em países distantes. E aponta algumas peculiaridades dos sul-africanos.

O escritório de arquitetura gmp, de Hamburgo (Alemanha), para o qual Michèle Rüegg trabalha, ganhou em janeiro de 2005 a concorrência para construir o novo estádio de Port Elizabeth, onde a Suíça enfrenta o Chile em 21 de junho.

Um ano mais tarde, ganhou também a concorrência pública para a construção de outros dois estádios da Copa do Mundo 2010 – em Durban e na Cidade do Cabo.

Antes de Rüegg se mudar em outubro de 2006 para a Cidade do Cabo para coordenar um novo escritório de arquitetos da gmp, foram realizados vários workshops na Alemanha e África do Sul para a elaboração do projeto.

“Assim nós pudemos tocar o planejamento dos projetos a partir da Alemanha e, ao mesmo tempo, conhecer melhor os nossos parceiros de planeamento local da África do Sul “, diz Rüegg.

Os workshops tratavam exclusivamente dos projetos e não, por exemplo, sobre como é viver e trabalhar na África do Sul. Isso os arquitetos só aprenderam pouco a pouco.

Todo começo é difícil

Rüegg teve seu primeiro desafio logo no início. “O meu batismo de fogo foi, em apenas duas semanas e meia, montar uma infraestrutura de escritório totalmente funcional”, lembra.

Enquanto na Alemanha ela sabia a quem se dirigir em cada circunstância, na África do Sul teve de reunir todas as informações – por exemplo, onde comprar os telefones e os computadores – e aprender a lidar os hábitos locais.

“Conseguir fazer isso em tão pouco tempo em um país estrangeiro, foi um aprendizado intenso para conhecer o novo ambiente”, diz ela.

Durante o processo de construção, houve sempre novos desafios a superar. A construção do arco de 100 metros de altura no estádio de Durban foi particularmente difícil, assim como a instalação da estrutura do teto dos estádios da Cidade do Cabo e de Durban.

Desafio duplo

“A coisa mais importante foi, apesar de todos os problemas que ocorrem em um grande canteiro de obras, não perder de vista a imagem do estádio pronto”, diz Rüegg.

Mas o maior desafio, conta, veio com o nascimento de seu filho, porque ela teve de combinar a vida profissional com uma vida privada completamente mudada.

“Mas isso não tem a ver com a África do Sul. É provável que qualquer mulher profissionalmente ativa que tenha filhos se confronte com isso”, diz a arquiteta, que é mãe há um ano.

Peculiaridades sul-africanas

Durante sua estadia na África do Sul, Michèle Rüegg conheceu algumas peculiaridades do país. No trabalho, notou que tinha de falar diretamente com as pessoas. “Há inúmeras reuniões intensas com muitos participantes, mas nem sempre elas são bem estruturadas”, diz ela.

Isso também tem a ver com o fato de a África do Sul ser uma “sociedade do consenso”, como diz Rüegg. “Todos são convidados a se manifestar, e todos devem opinar na busca de soluções”. Isto foi, por vezes, um obstáculo, porque atrasava muito o processo de planejamento.

Como características típicas do sul-africano, ela aponta a alegria de viver, a naturalidade e o pragmatismo das pessoas. A relação com a natureza lhes é muito importante.

O que incomodou Rüegg foi a sensação de precisar estar sempre atenta. “Caminha-se de forma mais vigilante pelas ruas do que se faria na Alemanha ou na Suíça”, explica, lembrando que a África do Sul tem um dos mais elevados índices de criminalidade do mundo.

“Eu não podia circular tão livremente pela cidade porque, em determinados horários, simplesmente não era seguro andar pelas ruas.”

O poder do futebol

Desde que a arquiteta começou a trabalhar na construção dos estádios da Copa, ela percebeu que “a população negra da África do Sul adora futebol. Os brancos, no início, não tinham qualquer identificação com este esporte, porque estavam fixados em rugby e críquete.”

Mas isso mudou. “Quanto mais se aproxima a Copa do Mundo, maior é o entusiasmo que se faz sentir em todos os grupos sociais”, diz Rüegg. “Isso me agrada muito no futebol, ele une as pessoas.”

A Copa 2014 no Brasil

O trabalho de Rüegg na África do Sul terminou no final de 2009, com a entrega das chaves dos novos estádios. Enquanto acontecem os últimos preparativos para o Mundial 2010, ela já trabalha em novos projetos de estádios para a Copa no Brasil.

Desde o começo deste ano, mora com a família no Rio de Janeiro. Também lá ela vai coordenar o escritório da gmp, envolvido na construção de um novo estádio (em Manaus) e na reforma de outros três: Mané Garrincha (Brasília), Mineirão (Belo Horizionte) e Morumbi (São Paulo).

Mas Rüegg ainda tem uma viagem planejada à África do Sul. “Esperamos poder assistir ao primeiro jogo no estádio da Cidade do Cabo: França contra Uruguai”. É a segunda partida da Copa, em 11 de junho, após a de abertura entre a África do Sul e o México, no Soccer City, em Joanesburgo.

Sandra Grizelj, swissinfo.ch
(Adaptação: Geraldo Hoffmann)

Michèle Rüegg nasceu em 1970, em Zurique.

Estudou Arquitetura Escola Politécnica Federal de Zurique, concluindo o curso em 1998.

Em Harvard, fez uma pós-graduação em história e teoria da arquitetura.

De novembro de 2006 a dezembro de 2009, dirigiu o escritório de arquitetura gmp na Cidade do Cabo.

Desde fevereiro de 2010, Rüegg vive com sua família no Rio de Janeiro.

A gmp projetou um novo estádio e a reforma/ampliação de outros três para a Copa 2014 no Brasil.

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