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Uma suíça do estrangeiro com os índios Sioux

Isabel Stadnick (de cabelos louros) com seus três filhos Pascal Mora

Isabel Stadnick sempre sonhou em viver com os índios nos Estados Unidos. Desde 1989 ela vive na reserva de Pine Ridge, no estado de Dakota do Sul.

Lá ela criou sua família e administra uma escola, onde a cultura e a língua dos índios Sioux da tribo dos Oglalas Lakotas são transmitidas às novas gerações.

Nascida no Brasil, Isabel Stadnick sempre sonhou em viver no outro extremo do continente americano, na verdade, com os índios dos Estados Unidos.

“Não foram os filmes de faroeste que me fizeram interessar pelo tema, mas sim a minha intuição. Eu sempre tive esse sonho, que começou quando era bem criança. A cultura indígena está muito forte no meu centro de interesses”, declara a suíça, que estudou teatro e chegou a atuar em alguns palcos na Basileia.

Em 1989, uma agência suíça de viagens para estudantes propôs um roteiro no “país dos Sioux”. São os índios que vivem em um vasto território de planícies, vales e montanhas, que se estende do Nebraska ao Dakota do Norte, de Minnesota a Wyoming passando por Dakota do Sul.

Amor à primeira vista

“Era o que eu esperei toda a minha vida”, diz Isabel Stadnick. Juntamente com outros estudantes, ela desembarcou em Denver em junho de 1989. O guia que veio buscar o grupo no aeroporto era um índio da reserva de Pine Ridge.

Foi amor à primeira vista para a jovem. E para Robert Stadnick, e para o famoso “país” dos Sioux, um grupo composto por três tribos: os Dakota, Nakota e Lakota.

Ela se casou com Robert dois meses depois. Eles tiveram um filho e duas filhas. São crianças que os índios de Pine Ridge apelidaram de “swíndios”, pois eles são suíços e lakota, ao mesmo tempo. Já Isabel não é membro da tribo, mas sua paixão pelos Lakota e a dedicação à sua causa fazem dela uma “swíndia” de honra.

Em 1994, seu marido abriu uma escola maternal em Pine Ridge. Três anos depois ele faleceu. Isabel assumiu então a escola, que combina a cultura e a língua lakota com o método “Waldorf”. Esse método de ensino se inspira na antroposofia, uma corrente de pensamento criada pelo filósofo Rudolf Steiner, falecido na Suíça em 1925.

Muitos preconceitos

“Os pais queriam uma escola que respondesse às necessidades das crianças da reserva. Eles chegaram a pensar no método Montessori e outros também, mas concluíram que Waldorf era o método mais próximo da maneira como os lakota são educados, o que essa etnia chama de ‘aprender com a cabeça, a mão e o coração'”, explica Isabel Stadnick.

As crianças de Pine Ridge enfrentam desafios extraordinários. Eles são americanos, mas vivem à margem da sociedade. Sua reserva está distante de tudo, geograficamente, economicamente e culturalmente. Rapid City, a única cidade da região, está distante 200 quilômetros. “Eu sempre fico chocada quando vou para lá, pois é realmente outro mundo”, observa a suíça.

O governador de Dakota do sul proclamou 2010 como ano de reconciliação entre brancos e índios, mas Isabel Stadnick ressalta que “um fosso enorme persiste e ainda há muitos preconceitos, não apenas do lado dos brancos, mas também dos índios.”

A reserva de Pine Ridge detém o recorde de pobreza dos Estados Unidos. “Inúmeros são os lakotas que não dispõem de eletricidade, telefone ou água corrente.”

Nem fácil ou romântico

Na reserva, a mortalidade infantil é cinco vezes superior à média nacional. A taxa de abandono da escola é de quase 70%. O desemprego é de 80%. A taxa de suicídio é duas vezes maior do que a média nacional, o quádruplo entre os adolescentes. A esperança de vida é de apenas 49 anos.

A instalação de Isabel Stadnick em Pine Ridge não foi idílica. Seus pais se opuseram. “Era muito longe da Suíça e eles tinham um pouco de medo em relação à vida em um reserva”. Ela mesma ressalta que o país índio é “muito diferente do que a gente imagina e do que se lê nos livros.”

Porém Isabel Stadnick decidiu traçar o seu próprio caminho na vida. “Não foi fácil ou romântico”, admite. Além do choque cultural e o choque em relação às condições de vida, ela também enfrentou o desafio da paisagem e do clima.

“É difícil descrever em algumas frases”, revela a suíça. “É preciso estar por aqui durante todo o ano para compreender. Os invernos são muito rigorosos. É preciso se virar e algumas pessoas não são capazes de fazê-lo.”

A fortuna de Kevin Costner

Essa região, que foi filmada pelo ator e cineasta americano Kevin Costner no filme “Dança com lobos” em 1990. “Eu adorei esse filme, pois Kevin Costner tinha engajado os habitantes da reserva para atuar nele. Depois disso, muita gente ficou infeliz, pois o filme acabou fazendo a fortuna do Costner, mas ele foi embora como chegou”, lembra-se Stadnick.

Em Pine Ridge, a suíça encontrou, porém, valores com que ela se identifica. “A cultura lakota é rica e baseada na espiritualidade. Para os lakotas, as cerimônias rituais como as saunas fazem parte das coisas mais importantes da vida. É a diferença com a Suíça, onde os critérios para medir uma pessoa são o que ela possui e a sua capacidade de subir os degraus de uma carreira”, explica.

“Eu amo a Suíça, mas é em Pine Ridge que eu me sinto em casa”, conclui Isabel Stadnick.

Basileia – Nascida em 10 de fevereiro de 1957 no Rio de Janeiro, de pais suíços. Ela cresceu na Basiléia (noroeste).

Casamento – em 1989, ela parte aos Estados Unidos e casa-se com o guia lakota Robert Stadnick da reserva de Pine Ridge.

Três – o casal tem três filhos: Célestine, Caroline e Clarence.

Suíça – viúva em 1997, Isabel e seus filhos se instalam na Suíça, mas passam regularmente temporadas em Pine Ridge.

Retorno – 2008. A família Stadnick retorna à Pine Ridge,

Livro – 2009. Publicação na Suíça da sua autobiografia intitulada “Wanna Waki” (Eu retorno ao lar).

Fundada pela família Stadnick e outros habitantes de Pine Ridge em 1994, ela se inspira na antroposofia e na cultura lakota.

Bilíngue – ela inclui escola maternal e cantina. O ensino é feito em inglês e língua lakota.

Escolaridade gratuita – De 18 a 20 crianças por ano. Cerca de 300 desde a abertura da escola.

Orçamento – 215 mil dólares por ano escolar 2010-2011.

Em 2011 – a escola irá oferecer um curso preparatório e prevê, então, um orçamento geral de 290 mil dólares.

Financiamento – 3 fundações e 60 doadores americanos garantem 40% do orçamento. O resto vem de doadores europeus, dos quais 445 suíços.

Adaptação: Alexander Thoele

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