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Vilarejo alpino planeja cobrar taxa de entrada para turistas

Vilarejo suíço
Lauterbrunnen é um dos destinos mais icônicos da Suíça, com seu cenário espetacular, locais como as Cataratas de Staubbach e o charme alpino. Alamy Stock Photo/Credit: Ian Rutherford / Alamy Stock Photo

De Machu Picchu a Veneza, o turismo excessivo em locais “imperdíveis” é um problema global que tem causas complexas. Lauterbrunnen, com sua paisagem alpina cheia de cachoeiras e penhascos “instagramáveis”, também sofre com esse problema. O vilarejo está agora considerando seguir o exemplo de Veneza com a cobrança de diárias dos visitantes.

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Lauterbrunnen, um vilarejo localizado nos Alpes bernenses, é cenário de cartão postal. A localização em um vale exuberante, os penhascos altos, os picos nevados, as Cataratas Staubbach de 300 metros e o charme dos Alpes fizeram desse lugarejo um destino popular, especialmente nas redes sociais.

A desvantagem disso é que a localidade de 2.400 habitantes sofre agora com ruas, estacionamentos e transporte público congestionados, estradas cheias de lixo e aluguéis mais altos. “Nós nos sentimos como funcionários de um parque de diversões”, confessou Markus Tschanz, o pároco local, ao canal de televisão SRF no ano passado.

Cansadas de tantos turistas, as autoridades municipais criaram um grupo de trabalho em busca de soluções para conter o turismo excessivo. Uma das medidas que estão sendo consideradas é seguir o exemplo de Veneza e passar a cobrar dos visitantes de 5 a 10 francos suíços por dia, informouLink externo o jornal Berner Zeitung dessa semana.

No último mês, Veneza se tornou a primeira cidade do mundo a introduzir um sistema de pagamento para turistas, em um esforço para conter as multidões que lotam os canais durante a alta temporada. A medida vem sendo testada durante 29 dias.

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A versão de Lauterbrunnen dessa cobrança poderia ser introduzida através de um aplicativo, a ser baixado nos smartphones dos interessados nesse “day use”, explicou o prefeito Karl Näpflin. Qualquer pessoa que chegasse à localidade de carro, para passar o dia, teria que pagar a taxa de entrada. “As exceções seriam os hóspedes que tivessem feito uma reserva em um hotel, estivessem participando de uma excursão ou chegassem de transporte público”, completou.

Fiscalizações aleatórias seriam realizadas no vilarejo para garantir que o pagamento da taxa de fato ocorra. Entretanto, uma medida tão drástica como essa não será introduzida neste verão, pois ainda serão necessários maiores esclarecimentos, observou o jornal.

“De difícil implementação”

Muitas outras cidades turísticas estão observando Veneza, para ver se e como essa medida funciona, afirma Fabian Weber, pesquisador especializado em turismo da Universidade de Artes e Ciências Aplicadas de Lucerna.

Embora seja “compreensível” que essa solução esteja sendo considerada, Weber não tem certeza se ela deverá ser de fácil introdução. “É muito desafiador implementar esse tipo de taxa de entrada em um espaço público, como um vilarejo ou um vale. Não temos muita experiência e não sabemos se funciona”, diz.

Cada vez mais pessoas visitam a Suíça, sobretudo após o fim da pandemia de Covid-19, Em 2023 os números bateram um recorde: 41,8 milhões de pernoites em todo o país. O ano corrente continuou na mesma linha, em grande parte impulsionado por visitantes estrangeiros.

O verão passado foi especialmente movimentado, com inúmeros turistas dos Estados Unidos, China, Coreia do Sul, Índia e Reino Unido.

Embora quase todas as regiões turísticas tenham registrado um aumento no número de pernoites no verão passado, a região central dos Alpes bernenses, com seus famosos picos e lagos, teve o maior aumentoLink externo (+434.000 / +13,2%).

“Suponho que tal medida não teria provavelmente um impacto muito grande sobre o número de turistas. Mas, pelo menos, seria possível arrecadar recursos para investir em medidas voltadas para administrar melhor os fluxos dos visitantes, a capacidade local, e compensar os danos. Até o momento, a maioria das taxas de turismo não restringe realmente os números, mas traz certa flexibilidade quando se trata de administrar a evolução do turismo”, acrescenta.

Outros pontos turísticos na Suíça

Lauterbrunnen não é a única região suíça que está tentando controlar as ondas de turistas. O vilarejo de Iseltwald, situado à beira do lago no Oberland Bernês, foi paralisado há alguns anos em função de um fluxo inesperado de fãs de uma série exibida na plataforma Netflix. O vilarejo suíço, que aparece nessa série popular sul-coreana, decidiu cobrar uma taxa dos visitantes – um valor de 5 francos suíços para tirar selfies à beira do lago – e também controlar o tráfego, a fim de evitar o excesso de pessoas.

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Casa de hóspedes Appenzell cliff-face

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Cantão suíço propõe limitar turismo de massa

Este conteúdo foi publicado em Appenzell Inner-Rhodes, com suas montanhas e trilhas espetaculares, é extremamente popular entre os turistas – muito popular, dizem os políticos locais.

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O cantão Appenzell Rodes interior, no nordeste da Suíça, com suas trilhas para caminhadas e locações espetaculares, tais como a pousada Äscher-Wildkirchli, em Alpstein, que se tornou mundialmente famosa depois de aparecer na capa de um livro da National Geographic em 2018, também está tendo que lidar com essa questão. No sul da Suíça, o Vale Verzasca, no cantão do Ticino, com suas águas azul-turquesa, testemunhou uma explosãoLink externo no número de visitantes, sobretudo por causa de sua popularidade no Instagram.

“Verzasca continua muito popular. Especialmente nos fins de semana, quando os turistas chegam da Lombardia para passar um dia”, afirmou o prefeito de Verzasca, Ivo Bordoli. Depois do vídeo As Maldivas de Milão, que viralizou em 2017, as autoridades locais introduziram o estacionamento pago. Antes, as vagas eram gratuitas. Agora estão estudando a possibilidade de uma cota de tráfego.

Nos últimos anos, Lucerna, na Suíça central, também vem enfrentando dificuldades com o grande número ônibus de turismo, especialmente aqueles com visitantes da China. Durante a pandemia, o volume de turistas estrangeiros caiu, mas os viajantes individuais começaram a retornar e a expectativa é de que os grupos de ônibus voltem com força.

“Espero que a situação se torne novamente controlável, pois já estão lutando para lidar com o grande volume de ônibus novamente”, afirmou Jürg Stettler, diretor do Instituto de Turismo da Universidade de Artes e Ciências Aplicadas de Lucerna. “O número de grupos de turistas vai com certeza aumentar. A questão é saber em que ritmo isso vai acontecer”, completou.

Aumento global do turismo

Em 2024, o turismo global deve se recuperar completamente da pandemia de Covid-19. A Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas espera que este seja um ano recorde para a chegada de visitantes internacionais em todo o planeta. Portanto, é provável que as consequências negativas do excesso de turismo continuem sendo um tema em debate.

As causas do turismo global excessivo, ou seja, as causas da chegada de muitos turistas em um só lugar ao mesmo tempo, são complexas. Esse fenômeno envolve o enorme crescimento da classe média na Índia e na China, tarifas aéreas baratas e a expansão das plataformas online de reservas.

No entanto, como declarou Sina HardakerLink externo, geógrafa especializada em Economia da Universidade Julius Maximilian, de Würzburg, à revista Horizontes Suíços, “plataformas como a Airbnb não estão apenas aumentando a capacidade de acomodação, mas também mudando a morfologia de uma cidade. Em outras palavras, elas estão mudando a forma como uma cidade se desenvolve e se estrutura”.

O advento das redes sociais também criou uma geração obcecada por tirar selfies em frente a importantes obras de arte e arquitetura ou às belezas naturais do mundo.

Conteúdo externo

“Lauterbrunnen tem definitivamente um problema de turismo excessivo, mas isso não é resultado do êxito do vilarejo, mas de sua cachoeira ‘instagramável'”, pontua Stettler.

O vale já recebe um grande número de pessoas que passam por lá para conhecer os Alpes e as geleiras próximas. “Agora, além disso, você tem esse turismo de ‘tirar fotografia no cenário da cachoeira”, completa Stettler.

Mas enquanto o planeta aquece lentamente, os Alpes suíços correm o risco de serem inundados por um número ainda maior de turistas com seus celulares, em busca de um clima mais ameno?

É provável, acredita Stettler, “O número de visitantes na primavera, verão e outono vai aumentar, devido ao impacto das mudanças climáticas, mas os números no inverno vão diminuir em decorrência das condições da neve”, prevê.

Pontos turísticos específicos que estão enfrentando problemas de excesso de turismo no verão, como as regiões de Jungfrau e Titlis, Zermatt e Lucerna, por exemplo, já se encontram sob pressão, finaliza Stettler.

Adaptação: Soraia Vilela

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Debate
Moderador: Veronica DeVore

Como os destinos populares devem lidar com o turismo de massa?

Lugares como Veneza ou Barcelona e destinos nos Alpes suíços estão enfrentando dificuldades com o fluxo de turistas. O que fazer?

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