Vôos da CIA passaram por Genebra
A Anistia Internacional (AI) divulgou ontem um relatório em que acusa a CIA de usar aeronaves privadas e companhias de fachada para manter em segredo o transporte de suspeitos de terrorismo para países onde seriam interrogados.
Nove dos vôos da CIA teriam passado pela Suíça.
O relatório publicado hoje (5 de abril) pela Anistia Internacional (AI) e intitulado “Estados Unidos da América sob o radar: vôos secretos para a tortura e o desaparecimento” lista dezenas de destinos em todo o mundo, de onde esses vôos decolavam ou pousavam, além de aeronaves privadas com permissão para pousar em bases militares dos Estados Unidos no exterior.
A nova denúncia ocorre meses após as primeiras acusações de que a CIA havia transportado prisioneiros para países onde poderiam ser torturados durante interrogatórios. Washington admite que algumas vezes faz as transferências fora dos procedimentos normais de extradição, mas nega que transporte presos para países onde há tortura.
A AI tem registros de aproximadamente mil vôos diretamente ligados à CIA, a maioria dos quais sobre o espaço aéreo europeu — vôos que seriam operados permanentemente pela agência através de companhias de fachada. Há ainda registros de 600 outros usados pelo menos temporariamente.
A Suíça na rota da CIA
Segundo o relatório da AI, a Suíça também estaria no roteiro do transporte clandestino prisioneiros. Sem poder apresentar provas concretas, a organização não-governamental especula sobre o número de vôos que teriam atravessado o país ou de pousos em cidades como Genebra e Zurique. Um avião, batizado inoficialmente de “Guantánamo-Express”, teria pousado três vezes em Genebra. Segundo ela, a aeronave teria feito 114 vezes o percurso à prisão de Guantánamo.
Um Boeing 737, visto várias vezes por ativistas da AI no Afeganistão, foi observado pelo menos três vezes em Genebra. Segundo o relatório, outra aeronave teria pousado duas vezes em Zurique e duas em Genebra. Ela seria o mesma que teria transportado o clérigo muçulmano Abu Omar para o Egito, depois de ter sido seqüestrado em plena luz do dia por agentes da CIA em Milão.
Uma comissão do Parlamento federal helvético afirmou em fevereiro que há indícios de violação do espaço aéreo suíço no caso Omar. Porém as autoridades americanas asseguraram que nenhum aeroporto ou espaço aéreo foi utilizado no transporte de presos.
Enquanto o Ministério Público suíço continua a investigar o caso, o Departamento Federal de Aviação (BAZL, na sigla em alemão) confirmou hoje as informações publicadas pela AI, mas acrescentou uma nova informação: o mesmo avião que teria transportado Abu Omar pousou seis vezes na Suíça e não quatro, como já era de conhecimento público.
A aeronave, já conhecida pelas autoridades helvéticas, é um jato do tipo Gulfstream com a matrícula N85VM. O mesmo avião também teria pousado no dia 12 de fevereiro de 2001 no aeroporto de Zurique e 16 de setembro de 2001 no aeroporto de Genebra. A revelação foi feitas jornalistas pelo porta-voz do BAZL, Anton Kohler.
– Do ponto de vista legal não houve nenhum problema com os vôos – ressaltou Kohler.
Impossível saber quantos foram presos
Entre as dezenas de destinos em todo o mundo estão cinco aeroportos espanhóis: Palma de Maiorca, Rainha Sofia (Tenerifa do Sul), Málaga, Barcelona e Los Rodeos (Tenerifa do Norte).
Segundo o relatório, os donos do jato que teria transportado o egípcio Abu Omar admitiram ter alugado à CIA a aeronave, que em oito ocasiões também fez escala em aeroportos espanhóis, entre 2001 e 2005.
– O governo americano tentou burlar a proibição a tortura e outros maus-tratos de muitas formas. As últimas provas mostram que está manipulando acordos comerciais para transferir pessoas em violação à lei internacional — disse a secretária-geral da AI, Irene Khan.
O segredo em torno das operações “torna impossível saber quantas pessoas foram presas ou seqüestradas, transferidas para outros países, mantidas em prisões secretas ou torturadas na guerra ao terror”, diz o relatório.
O Parlamento Europeu continua as investigações relacionadas ao transporte clandestino de prisioneiros pela CIA. O senador suíço Dick Marty é o encarregado de apresentar um relatório sobre a questão.
swissinfo com agências
Segundo o relatório da AI a Suíça estaria no roteiro dos vôos clandestinos da CIA para o transporte de prisioneiros.
Um dos aviões utilizados é um jato Gulfstream de matrícula N85VM, que já foi visto quatro vezes em aeroportos helvéticos pela AI.
O Departamento Federal de Aviação confirmou a presença do avião e acrescentou mais dois pousos.
As autoridades americanas confirmam o transporte de presos fora dos procedimentos normais de extradição, mas negam que levando essas pessoas para países onde há tortura.
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