Zurique: roubo ou seqüestro de obras de arte?
As quatro obras impressionistas roubadas em Zurique são invendáveis no mercado de arte. Perito acredita que se trata de "artnapping".
Polícia cria força-tarefa para prender os autores do maior roubo de arte da história da Suíça. Especialistas prevêem grandes dificuldades para os ladrões.
Três dias após o espetacular roubo de quatro quadros impressionistas da coleção Bührle, em Zurique, as obras de arte e os ladrões continuam sumidos. A polícia criou uma força-tarefa integrada por peritos em arte para apurar o caso.
A polícia de Zurique informou nesta quarta-feira (13/02) que está analisando dezenas de pistas fornecidas pela população no país e no exterior. A Interpol também participa das investigações. Peritos prevêem que os ladrões terão dificuldades para vender os quadros ou exigir um resgate.
“Não se descarta que o assalto à coleção Bührle foi um seqüestro obras de de arte (artnapping) e que virá um pedido de resgate”, disse à swissinfo Yves Fischer, diretor da Divisão de Transferência de Bens Culturais da Secretaria Federal de Cultura da Suíça.
Segundo ele, muitas vezes, essa é a única possibilidade de lucrar com o roubo, “porque essa categoria de obras é invendável no mercado internacional de arte”.
Fischer baseia sua avaliação no fato de que as obras roubadas são registradas em diferentes bancos de dados policiais. As autoridades suíças comunicaram o roubo à Interpol e à Central Européia para Apuração de Delitos contra a Arte. Se os marchands comprassem essas obras cometeriam um crime. “Há muitos mecanismos de controle”, disse.
Sobra o mercado negro, um cliente rico que quer determinadas pinturas famosas a qualquer preço, ou o artnapping (uma adaptação da palavra inglesa para seqüestro, kidnapping).
Fischer praticamente descarta que o roubo de Zurique tenha ocorrido por encomenda. “Essa hipótese raramente se confirmou na prática até hoje.”
Já aconteceu de obra ser usada como uma espécie de moeda no mercado negro. “Houve um caso na América Latina em que obras de arte foram trocadas por drogas e armas.”
Artnapping?
Oitenta por cento dos roubos de arte nunca são esclarecidos. Muitas obras roubadas são achadas em locais anônimos, como toilettes ou paradas de ônibus.
Peritos partem do princípio de que em alguns casos as seguradoras ou donos de galerias pagam o resgate, também chamado de “recompensa por indícios para a reaquisição”, sem intervenção da polícia.
Avaliação de interesses
Yves Fischer ressalta que é “relativamente raro” que as seguradoras paguem resgate. “As seguradoras evitam atender a essas exigências. Elas não querem estimular tais tramóias.”
Em geral, o seguro cobre apenas uma parte do valor de mercado das obras. Na Suíça, a AXA Art, Allianz Art, National Artas e a UNIQA Kunstversicherung atuam nesse setor.
A AXA Art garante ter fechado um seguro de 100 milhões de dólares para uma obra de Leonardo da Vinci. Os seguro das obras roubadas em Zurique é estimado em 100 milhões de francos suíços.
Em determinados casos, os museus e suas seguradoras atendem às exigências dos ladrões. Isso no interesse das investigações policiais, para assim se aproximar dos criminosos ou de seus advogados.
Para as seguradoras, em alguns casos pode valer a pena pagar o resgate, “quando ele é inferior ao valor do seguro. As seguradoras querem ter o mínimo de prejuízo. Por isso, há uma avaliação de interesses”, diz Fischer.
swissinfo, Andreas Keiser
Dois dos quatro quadros da coleção Bührle roubados no dia 10 de fevereiro foram recuperados oito dias depois.
As obras “Amendoeira em flor” (1890) de Vincent Van Gogh, “Campo de papoulas perto de Vétheuil” (1879) de Claude Monet estavam num Opel Omega encontrado aberto no estacionamento da clínica Burghölzli em Zurique.
Funcionários da clínica alertaram a polícia, que confirmou a recuperação dos quadros, que estariam em bom estado.
O Art Loss Register, maior banco de dados do mundo sobre arte roubada, registra 180 mil obras desaparecidas. O prejuízo anual causado aos colecionadores e museus é estimado em 6 bilhões de euros.
Entre as obras desaparecidas, encontram-se 262 quadros de Marc Chagal, 291 de Joan Miró, 150 de Rembrandt e Renoir, 181 de Albrecht Dürer e 14 de Vassily Kandinsky. Um total de 14 mil obras são procuradas como “arte roubada pelos nazistas”.
“Campo de papoulas perto de Vétheuil” (1879) de Claude Monet, um dos quadros roubados da Fundação Bührle em Zurique, havia sido confiscado pelos nazistas de um milionário judeu de Hamburgo (Alemanha), informou a televisão suíça.
Muitas coleções de museus públicos sequer estão seguradas. Um exemplo: uma escultura de bronze de 32 cm de altura do artista suíço Alberto Giacometti (1901-1966) foi roubada do Pavilhão de Arte de Hamburgo em 2002 e até hoje não foi encontrada. O contribuinte alemão pagou o prejuízo avaliado em 500 mil euros.
swissinfo, Geraldo Hoffmann
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