O retorno do polêmico inseticida DDT
O dicloro-difenil-tricloroetano (DDT) está proibido na agricultura, mas continua sendo usado no combate à malária, por recomendação da Organização Mundial da Saúde.
Cientistas advertem sobre o perigo do pesticida, desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial e que rendeu o Prêmio Nobel de Medicina de 1948 ao suíço Paul Hermann Müller.
Antes de ser proibido na agricultura, o DDT era considerado uma “arma milagrosa” no combate de doenças transmitidas por insetos. No começo dos anos de 1950, era pulverizado de avião sobre grandes áreas de terra, também na Suíça.
Mas cedo surgiram indícios de riscos e efeitos colaterais. A bióloga norte-americana Rachel Carson denunciou em seu livro Primavera Silenciosa (1962) que o DDT causava câncer. Além disso, pássaros punham ovos com casca muito fina; em regiões de forte aplicação, eles até morriam sob o efeito do pesticida..
Veneno e salvador de vida
No início dos anos de 1970, o DDT foi proibido na maioria dos países industrializados. Em 2001, 122 países assinaram a Convenção de Estocolmo sobre poluentes orgânicos persistentes (POPs).
A convenção, no entanto, abre uma exceção: o uso do DDT para combater o mosquito da malária é permitido, desde não existam alternativas mais baratas e inofensivas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda expressamente o uso desde 2006 para aspergir paredes em ambientes fechados. O método é polêmico. Além da OMS, os EUA são fortes defensores do uso do DDT.
Os defensores argumentam que o pesticida pode salvar vidas. Diante de mais um milhão de mortes por ano em decorrência da malária, seria cínico condenar o DDT de uma maneira geral, diz Marcel Tanner, diretor do Instituto Tropical Suíço, em Basiléia. Doses fracas não causam danos, acrescenta.
Volta aos anos de 1950?
O crescente uso do DDT, porém, preocupa Tanner. “O problema é o uso abusivo do pesticida”, diz. Moçambique, por exemplo, vê o DDT como substituto para os mosquiteiros. Seu uso, porém, só faz sentido em determinadas situações e em combinação com outras medidas. “O uso excessivo ameaça causar resistências”, explica Tanner.
Havendo um grande volume de DDT em circulação, também há o perigo de que ele volte a ser usado na agricultura, o que pode ser fatal para os Estados atingidos. As regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) permitem embargar as importações de produtos com rastros de DDT.
Visto que embargos podem favorecer a venda de produtos nacionais, Marcel Tanner presume que a existência de interesses econômicos por trás da propagação do DDT.
Busca de alternativas
Segundo um relatório do Secretariado da Convenção de Estocolmo, há indícios que o repudiado pesticida volte a ser usado na agricultura. Um crescente número de Estados estaria importando DDT, sem garantir o respeito às prescrições. A busca de alternativas é urgente, diz o documento.
A acordo com o relatório, anualmente são usados entre 4 mil e 5 mil toneladas de DDT, com tendência a aumentar. No principal país fornecedor, a Índia, a produção aumentou 50% entre 2005 e 2007.
Os países signatários da Convenção de Estocolmo pretendem discutir o assunto em maio de 2009. Pesquisadores e representantes de organizações não governamentais já discutem alternativas.
Bioinseticidas
Na opinião do co-presidente do Conselho Mundial de Agricultura e presidente da fundação suíça Bio Vision, Hans Rudolf Herren, a malária não deve mais continuar sendo combatida com DDT. “O uso desse inseticida em países em desenvolvimento é um escândalo. O que é ruim para nós não pode ser bom para os outros”, diz.
Também o bioquímico Philippe Roch, ex-diretor da Secretaria Federal de Meio-Ambiente, se engaja contra o DDT. “Não se deve envenenar o ser humano e o meio-ambiente sob o pretexto do combate à malária.”
Os adversários do DDT propagam uma estratégia integrada: combate biológico às larvas, mosquiteiros impregnados e aspersão do ambiente – mas não com DDT e sim com o inofensivo piretroide.
Eles rebatem o argumento que o DDT é a alternativa mais eficiente e barata. Seria impagável garantir um uso limpo do inseticida, argumentam.
swissinfo, Charlotte Walser (InfoSüd)
O DDT (sigla de Dicloro-Difenil-Tricloroetano) é o primeiro pesticida moderno tendo sido desenvolvido após a Segunda Guerra para o combate dos mosquitos causadores da malária e do tifo. O DDT é insolúvel em água, mas solúvel em compostos orgânicos como a gordura e o óleo. O químico suíço Paul Hermann Müller, da Geigy, recebeu o prêmio Nobel de Medicina em 1948 por descobrir a eficiência do DDT para a erradicação de vários tipos de artrópodes.
Em 23 de maio de 2001, 122 países assinaram a Convenção de Estocolmo sobre poluentes orgânicos persistentes (POPs), na capital da Suécia, com o objetivo de eliminar uma lista inicial de 12 substâncias tóxicas.
Essa lista inclui pesticidas e substâncias químicas industriais, como o DDT, aldrin, dieldrin, clordane, endrin, heptacloro, hexachlorobenzeno, mirex, toxafeno, PCBs (bifenilas policloradas), e as dioxinas e os furanos. Essas duas últimas são substâncias resultantes não intencionalmente da produção, uso ou disposição (como a incineração) de outros POPs ou de resíduos sólidos em geral (como plásticos PVC).
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