Redução de emissões é “crucial” para sucesso de Cancún
A delegação suíça que participa da Cúpula do clima de Cancún pretende avançar um acordo global e garantir reduções de emissões obrigatórias para todos.
O sucesso ou o fracasso da conferência vai depender da vontade dos países que não assinaram o Protocolo de Kyoto de se submeter às metas obrigatórias de redução de emissões de gases, diz o chefe da delegação suíça, Franz Perrez.
A cúpula, que teve início na segunda-feira (29), incidirá no desenvolvimento de um pacote de medidas sobre o financiamento, o desmatamento, as tecnologias de energia limpa e de adaptação. Ela deverá estabelecer as bases para um acordo legal previsto para a conferência do clima do próximo ano, na África do Sul.
Embora um consenso sobre um novo acordo global para reduzir as emissões de carbono ainda pareça remoto, a ONU espera conseguir em Cancun a criação de um fundo de ajuda aos países do terceiro mundo, para que possam se adaptar às alterações climáticas, bem como um plano para combater o desmatamento e medidas para melhorar o acesso às tecnologias de energia limpa.
“O esqueleto e os ossos estão lá. Em algumas partes gostaríamos de acrescentar a carne”, disse Perrez à swissinfo.ch. “Gostaríamos de ter um pacote com progressos significativos em cada área de negociação”. Estabelecer a base para um quadro legal que inclua os países que não assinaram o Protocolo de Kyoto será “um enorme passo extra”, disse.
Após o fracasso na obtenção de um acordo na Cúpula de Copenhague, o representante da ONU em Cancun, Robert Orr, relativizou suas expectativas, declarando abertamente que ninguém espera que um acordo final seja alcançado em Cancun. “A mudança climática não foi criada da noite para o dia e também não vai ser resolvida da mesma forma”, disse.
O Secretário-Geral da ONU Ban Ki-moon vai abrir as negociações ministeriais dia 7 de dezembro, pedindo aos países que “trabalhem na direção de um conjunto equilibrado de resultados”.
Encontrar um equilíbrio
“É hora de começar a trabalhar”, declarou à swissinfo.ch Patrick Hofstetter, porta-voz da “Aliança Climática da Suíça”, uma federação de 60 organizações da sociedade civil. “Precisamos trabalhar cada elemento do pacote a fim de transformá-los em um acordo no ano que vem.”
Do seu lado, a Suíça quer um equilíbrio entre os compromissos e as concessões a serem feitas pelas nações industrializadas e emergentes. O país apoia fixar um limite máximo obrigatório para o aumento da temperatura em 2°C, conforme foi acertado em Copenhague.
Ela também planeja aumentar “consideravelmente” sua participação no financiamento da ajuda de adaptação climática para os países em desenvolvimento e deve propor a criação de um grupo de peritos que examine as possibilidades do fundo de 100 bilhões de dólares para esses países.
Questão crucial
O debate sobre o Protocolo de Kyoto vai girar em torno de um compromisso para uma segunda etapa, já que o acordo expira no final de 2012, e se for o caso, como ela deve acontecer e com quais países. O processo está parado, já que os países não conseguiram chegar a um acordo sobre a redução das emissões de gases.
A Suíça é favorável em dar continuidade ao Protocolo, mas só se os países não signatários se comprometerem a alcançar objetivos semelhantes a ele. “Kyoto por si só não faz sentido. Nesse caso, preferimos não cumpri-lo. Por que continuar se sabemos que sozinhos não conseguiremos resolver o problema?”, explicou Perrez.
“Essa é a razão pela qual este “se” é uma das questões mais cruciais. Acho que esse vai ser o elemento que fará de Cancun um sucesso ou um fracasso”.
A Suíça definiu como meta a redução até 2020 de 20% da emissão dos gases causadores do efeito estufa, alcançando os níveis de 1990, ou até 30% se outros países assumirem metas semelhantes.
Para a Aliança Climática Suíça, a maior parte do trabalho sobre o conteúdo da nova etapa de Kyoto deve ser feito em Cancun. “É um pré-requisito para avançar em outras questões, porque muitos países em desenvolvimento simplesmente não acreditam que os países industrializados cumprirão as promessas feitas ou farão algum progresso”, diz Hofstetter.
Impulso presidencial
A presidente da Confederação Helvética, Doris Leuthard, que também é ministra do Meio Ambiente, será uma das poucas personalidades presidenciais presentes, por isso terá mais tempo para explicar a posição da Suíça.
A Aliança Climática elaborou uma lista de obrigações para ela em Cancun. Além de estabelecer o limite dos +2°C, a Suíça também deve definir objetivos mais ambiciosos na redução de emissões (40% em relação aos níveis de 1990), apoiar a criação de novos fundos climáticos e novas fontes de financiamento, como taxas de aviação.
Por último, como membro do grupo especial de negociação “Grupo de Integridade Ambiental”, a Aliança diz que a Suíça deve se esforçar em evitar comprometimentos vagos durante as discussões. O grupo estará mais fraco em Cancun, já que um dos membros, o México, tem que se manter neutro como anfitrião da Cúpula.
“Em Cancun, a Presidenta Leuthard pode dar uma contribuição importante para melhorar o meio ambiente e criar condições ideais para o fortalecimento da indústria de tecnologias limpas da Suíça, gerando novos empregos”, afirmou a Aliança, referindo-se também à meta da Suíça de se tornar líder em tecnologia verde. “Boa sorte”, conclui a lista de obrigações da presidente.
Uma pesquisa do WWF Suíça revelou que 69% da população suíça é a favor de políticas governamentais contra o aquecimento global.
A maioria dos entrevistados disse que a Suíça deve se tornar o país europeu com a melhor proteção do clima. Um passo importante neste sentido foi dado pela iniciativa popular por um clima saudável, que exige 30% de redução nas emissões de CO2 na Suíça até 2020. Uma votação sobre o assunto deverá ocorrer só em 2012, mas se fosse realizada hoje, 64% das pessoas interrogadas votariam a favor.
73% disse que os políticos deveriam ser mais ativos na questão climática.
18% das pessoas disseram que não estavam preocupadas com as mudanças climáticas.
74% disseram que a Suíça deveria implementar as normas de proteção ambiental hoje, sem esperar que um acordo global seja alcançado.
A Conferência sobre Mudança Climática da ONU acontece em Cancún, no México, de 29 de novembro a 10 de dezembro.
O processo de negociação gira em torno de sessões das partes signatárias da Convenção Quadro da ONU sobre Mudança Climática (UNFCCC), que se reúnem anualmente para rever a forma como a convenção está sendo implementada.
Palestras irão incluir as questões da adaptação, redução das emissões de gases de efeito estufa, o financiamento do clima, e o futuro do Protocolo de Kyoto.
ONU e México dizem que um progresso foi feito também sobre a criação de fundos para países em desenvolvimento lidarem com os efeitos das alterações climáticas, bem como a questão espinhosa sobre medição e verificação das emissões de gases de efeito estufa dos países, mas que falta ainda um acordo para substituir o Protocolo de Kyoto.
O protocolo, o principal instrumento da ONU para a redução das emissões de gases de efeito estufa, expira no final de 2012.
Mais de 120 nações concordaram em Copenhague, em 2009, em encontrar uma maneira de limitar o aumento da temperatura média global a menos de 2 graus Celsius, mas diferenças permanecem sobre a forma de alcançar esse objetivo.
Antes da cimeira, a China admitiu ser a maior produtora de gases de efeito estufa.
(Adaptação: Fernando Hirschy)
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