Artista mostra becos de Salvador na Suíça
A atmosfera dos becos de Salvador chegou à beira do Reno, na altura da cidade de Basileia, noroeste da Suíça. Pequenos barracos montados com sucatas exibem a nova exposição do centro cultural Brasilea: “Arte Beco”, do suíço Orlando Geremia Schüpbach.
Em 80 telas, o artista mostra o cotidiano da cidade de Salvador – uma das mais visitadas do Brasil, depois do Rio de Janeiro. A mostra pode ser vista até 7 de outubro.
Cenas do pelourinho, do Mercado Modelo, do Farol da Barra, Elevador Lacerda, entre outras atrações de Salvador estão nas telas de acrílico de Orlando Geremia Schüpbach. São imagens que oscilam entre a riqueza dos novos conjuntos de prédios da cidade, a beleza das praias e a pobreza dos becos. Com seu estilo, o artista mostra um pouco do jeito da Bahia, que, como escreveu Dorival Caymmi, nenhuma terra tem.
E foi esse jeito soteropolitano que conquistou Schüpbach. Nascido em Berna, ele resolveu visitar a Bahia em 2002. Encantou-se. Há oito anos passa alguns meses na Suíça e outros na Bahia, mais precisamente em Salvador. “Quando cheguei à Bahia senti uma necessidade de pintar e mostrar o colorido e a atmosfera de Salvador na minha arte”, conta. A mostra exibe trabalhos de 2002 a 2007 com muita cor. Os preços variam de 300 a 3000 francos.
Dos palcos às telas
Aos 60 anos, Schüpbach sempre trabalhou com arte. Ele foi bailarino, coreógrafo, cenógrafo e diretor teatral. Sempre pintou, mas foi na Bahia que se tornou um artista plástico. De acordo com ele, as cores o estimularam. A exposição de Basileia reúne um pouco de tudo o que acumulou ao longo de sua carreira nos palcos europeus. As instalações, cuidadosamente montadas, exibem detalhes que parecem mesmo cenários de peças teatrais.
Passeio pelos becos
Algumas casas com os tijolos à mostra ou construídas com ripas exibem alguns objetos de decoração: bandeiras brasileiras, aparelhos de televisão, luminárias. O visitante pode passear entre os becos e apreciar as telas, dispostas num ambiente de favela, com lixo, areia e muitas pichações.
Um dos barracos tem duas galinhas, que passeiam limitadas por uma cerca. Em um dos botecos, enfeitado com luzes coloridas, o balcão exibe muitas garrafas de cachaça. Ao lado, uma caneta e um papel para anotar os pedidos dos clientes, mas está lá o aviso aos mais folgados, no melhor estilo do bom humor baiano. “Fiado é igual a cabelo: se não cortar, cresce”.
Dono do beco
O ambiente tem o clima brasileiro, mas a sucata é internacional. Durante duas semanas ele trabalhou na montagem da exposição e reuniu um lixo bem especial: persianas, garrafas vazias, papelão, peças de alumínio e poltronas. Até mesmo as molduras foram feitas com ripas de madeira ou de outros materiais sem o rigor das tradicionais. São grampeadas ou justapostas.
“Tenho muitos amigos nos becos”, conta. Durante a exposição ele já tem onde morar e não mora na areia. Um dos barracos é o dele. Duas poltronas, uma televisão, uma pequena cômoda, um colchão de solteiro forrado com uma bandeira do Brasil e um mapa-múndi porque ele adora viajar. “Sou o dono desse beco e vou morar aqui”, diz.
Lourdes Sola, Basileia, swissinfo.ch
Salvador é a capital do Estado da Bahia, com cerca de 3 milhões de habitantes, chamados de soteropolitanos, nome que vem do grego”cidade do Salvador”.
Depois do Rio de Janeiro é a cidade mais visitada do Brasil. Além das praias, exibe uma beleza histórico-cultural reconhecida internacionalmente, como o Pelourinho, que consta do Patrimônio Histórico da Unesco.
O artista Orlando Geremia Schüpbach expôs em 2007 em Berna, a Favelart, uma mostra montada num ambiente aberto.
A mostra de Basileia pode ser visitada até 7 outubro de 2010.
De quartas às sextas-feiras, das 14 às 18.
Quintas-feiras, das 14 às 20 horas.
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.