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Entrevista: diretor de cinema Urs Odermatt

O diretor suíço Urs Odermatt gostaria de produzir mais no seu país. Alexander Thoele

Nascido em 1955 no cantão de Schwyz, Urs Odermatt é um diretor de cinema, teatro e TV, que atua mais na Alemanha do que na Suíça.

Diretor de filmes como “Alegria comprada” (1989) e “Policial Zumbühl” (1994) , o diretor fala sobre o problema do dialeto suíço, a falta de apoio ao cinema e a esperança com as novas tecnologias.

swissinfo: Muito pouco se ouve falar do trabalho de cineastas suíços. Vários deles, como você, atuam mais no exterior do que no próprio país. Qual a dificuldade de produzir um filme na Suíça?

Urs Odermatt: a realidade é que eu não trabalho na Suíça desde 1992, mas sim na Alemanha. Aqui eu tenho uma grande dificuldade de encontrar financiamento para os meus projetos. Dinheiro eu encontro mais facilmente em instituições alemães de apoio ao cinema.

E qual a razão desse incentivo alemão ao filme suíço?

Bom, isso é difícil de explicar. Uma das razões é que a concorrência na Suíça é grande e muitas pessoas gostariam de realizar o seu próprio filme. Não se trata apenas de um problema de financiamento, pois existem bastantes instituições de apoio ao cinema. Porém, não sei como o patrocínio cultural é distribuído. Eu não sei se o estilo do meu trabalho combina com a política de apoio ao cinema. Esse é um problema particular meu.

Eu, por exemplo, conheço poucos diretores suíços.

A minha geração, a de diretores de cinema entre os 40 e 55 anos, já não atua mais na Suíça, mas sim na França ou na Alemanha. Eles imigraram por várias razões: pelo fato do mercado suíço ser muito limitado e concorrido, pela dificuldade de encontrar financiamento ou pelo fato do pouco dinheiro que estava disponível ter sido gasto com projetos que tiveram pouco sucesso.

E como foi sua própria experiência de realizar filmes na Suíça?

Na Suíça, eu fiz dois filmes para cinema – “Alegria comprada” (1989) e “Policial Zumbühl” (1994). Os dois filmes foram rodados na Suíça central, em dialeto e tratando de temas absolutamente suíços. Porém o financiamento deles veio quase inteiramente da Alemanha. Depois do segundo filme, essas pessoas me perguntaram se eu não iria preferir trabalhar diretamente na Alemanha, ao invés de financiar produções suíças.

Existe algum ponto alto do cinema suíço? Prêmios internacionais ou momentos de destaque?

Há dez anos, tivemos um Oscar de melhor obra estrangeira: “Viagem da esperança” (1990) do diretor Xavier Koller. Infelizmente o prêmio não trouxe nenhum incentivo especial para o cinema suíço, devido a falta de marketing e também à imprensa, que criticou intensivamente a obra.

Depois de dez anos, poucos filmes suíços fizeram sucesso no exterior. Qual é o maior problema vivido pelas pessoas que trabalham na área do cinema? Seria o fato da Suíça ser tão pequena?

Nosso problema não é o tamanho do país ou a falta de dinheiro para financiamento, mas sim, o pouco valor dado à cultura. Se as empresas suíças lutam para serem “global players” na economia mundial, por que não poderia ser feito o mesmo com a cultura?

Uma das maiores barreiras enfrentadas pelo cinema suíço é a questão do dialeto. Muitos filmes são rodados em dialetos, normalmente incompreensíveis para a maioria dos mortais. Esse não é um dos pontos fracos da produção cultural do país?

Essa é uma questão de gerações. Na Suíça existe um fenômeno que não é encontrado em quase nenhum país europeu: a “diglossia”, ou seja, a capacidade de falar e escrever um idioma de formas diferentes. Na Suíça já vivemos várias “modas” do uso do dialeto. Na minha geração, nós falávamos dialeto apenas entre nós. Na escola, ao contrário, todas as discussões e cursos eram dados no chamado “alemão escrito”. Por essa razão, nós dominávamos sem problemas as duas formas do idioma. O que eu observo agora, é que as novas gerações dominam cada vez menos o “alemão escrito” ou preferem até, o que considero uma contradição, falar em inglês.

Em todos as línguas existem dialetos. O dialeto é o idioma do coração. Ao mesmo tempo, o idioma escrito é a língua da virtuosidade. Entre esses dois se estabelece então um conflito. Eu, por exemplo, não gosto de trabalhar em dialeto. Isso, pois eu aprendi o teatro utilizando o alemão escrito. Essa forma de linguagem lida perfeitamente com o suspense e o tempo.

Nas lojas é cada vez mais comum encontrar produções de TV ou cinema em dialeto.

O mercado suíço exige o uso de dialeto nos filmes. Cada vez mais, a televisão também. Por isso eu tenho de realizar o meu filme em dialeto, escrevendo o script em alemão normal. Isso faz com que meu financiamento fique muito limitado. Outro problema é para encontrar atores. Na Suíça, o ensino de teatro é feito no chamado “bom alemão”, que afinal é falado nos melhores palcos.

Para encerrar a entrevista, qual sua perspectiva futura do cinema suíço?

Uma grande esperança para o cinema suíço são as novas tecnologias de comunicação. Com o barateamento de equipamentos como câmaras digitais, qualquer pessoa poderá realizar o seu próprio filme no futuro. Não só principiantes irão aproveitar dessa revolução, como também profissionais. A única coisa que não muda é o seguinte fato: um bom filme precisa de bons diálogos, bons atores e um bom roteiro.

swissinfo, Alexander Thoele

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