Filme brasileiro compete em festival suíço
O longa-metragem "Histórias que só existem quando lembradas", da brasileira Julia Murat, é um dos 12 filmes em competição no Festival Internacional de Filmes de Friburgo de 2012.
Sob nova direção, o FIFF 2012 propõe um programa conjugado em várias seções que funcionarão como recipientes temáticos a serem preenchidos a cada ano.
A competição internacional continua sendo a coluna vertebral da programação do festival que concede o “Regard d’Or”, a principal premiação dotada de 30 mil francos suíços, atribuída por um júri internacional composto de cinco personalidades do mundo do cinema.
Os filmes em competição estreiam na Suíça e alguns fazem sua première internacional. A vocação do FIFF é apresentar ao público produções que dificilmente entram no sistema de distribuição tradicional.
Dessa forma, “verdadeiras pérolas”, segundo os organizadores, foram selecionadas este ano para a Competição, com c maiúsculo, s’il vous plaît. Entre elas “Histórias que só existem quando lembradas”, primeiro longa-metragem de ficção da brasileira Julia Murat.
Além da seção “Courts Métrages”, que completa a seleção oficial com 16 curtas, outras seções temáticas procuram enriquecer o evento com ângulos e espaços voltados para o horizonte. É o caso da seção “Diaspora”, onde uma personalidade suíça apresenta uma seleção de filmes de um país que marcou suas raízes. Esse ano, o Líbano abre a seção, com um programa bem pessoal e íntimo preparado por Patrick Chappatte, cartunista suíço conhecido pelo olhar crítico e o traço certeiro reproduzido em vários jornais, inclusive o International Herald Tribune.
Paralelamente, a seção “Décryptage” vai esmiuçar, a cada ano, um tema de sociedade atual. Em 2012, a atenção será dada à presença do islamismo na Europa. Para o novo diretor do FIFF, Thierry Jobin, “a ideia dessas seções é poder criar espaços para se contar histórias”. Os filmes de todas as seções são apresentados durante toda a semana, mas cada seção terá um dia para só para ela, com debates e discussões.
Critérios de seleção
Segundo Thierry Jobin, a seleção dos filmes passou por vários canais, mas a regra principal foi a de “encontrar a pérola no meio do oceano”. Um oceano de 2000 filmes vindos do mundo inteiro, assistidos em festivais como os de Toronto, Veneza ou Pusan.
Diante desse mar de ofertas, os organizadores dizem ter buscado a raridade, assistindo a todos os filmes para selecionar só os melhores.
O mais difícil, segundo Thierry Jobin, é não perder um “chef d’oeuvre”, uma obra-prima, um risco que pode acontecer com os filmes enviados pelo correio ou pela internet. No caso do filme brasileiro, o diretor do festival diz ter “se apaixonado completamente” por ele em Toronto. “O filme estava em todos os festivais que fui e achei uma pena ele não ser projetado na Suíça”, disse Thierry Jobin à swissinfo.ch.
“É um filme extremamente interessante que se dirige tanto à Suíça como qualquer outro país do mundo pelo assunto que ele aborda, que é o envelhecimento da população. É praticamente um filme do cinema fantástico, mas sob a forma de cinema de autor com uma verdadeira inventividade.”
O diretor do FIFF 2012 está convencido que a Competição mostra bem as diferentes facetas do festival. Este ano, os doze filmes vem de doze países diferentes e abordam diferentes problemas da sociedade, como a questão da aids no mundo árabe ou a solidão que se esconde atrás da internet.
Margem de liberade
Thierry Jobin ressalta o fato do festival não se limitar em apresentar só estreias mundiais ou internacionais, o que dá uma boa margem de liberdade para o acontecimento. “Não acho justo deixar de lado um bom filme só porque ele já passou em Cannes ou em Veneza”, disse.
É o caso do documentário “Golden Slumbers”, produzido pelo francês Jacky Goldberg, membro do júri do festival. O filme já foi projetado no festival de Berlim, “mas isso não quer dizer que o público da Suíça alemã já o tenha assistido”, observa Thierry Jobin.
Perguntado sobre o caráter internacional do festival de Friburgo, o diretor lembra que, desde o início, os cineastas premiados na cidade se tornaram sumidades do mundo do cinema, como o argentino Pablo Trapero, o iraniano Bahman Ghobadi, o sul-coreano Lee Chang-Dong, o tailandês Apichatpong Weerasethakul ou o mauritano Abderrahmane Sissako. “Friburgo é um festival que conta muito lá fora”, garante.
Longa lista de curtas
O FIFF apresenta também 3 programas de curtas-metragens contemporâneos que estreiam na Suíça, revelando as novas tendências cinematográficas que permitem descobrir novos talentos.
Este ano, mais de 500 curtas foram enviados ao festival, o que representa 20% a mais do que nos anos anteriores e demostra a importância da produção atual dos diretores independentes e dos estudantes.
Para Delphine Jeanneret, coordenadora do programa do festival, essa situação ocorre principalmente no Brasil, que tem multiplicado o número de festivais de curtas. O país está bem representado este ano no FIFF, com 5 curtas entre os 16 que compõem os três programas elaborados por Delphine Jeanneret.
Entre os 16 filmes escolhidos, a organizadora destaca o documentário “7 Days”, do jovem diretor brasileiro Manuel Moruzzi, que “se apropria com sutileza da estética das câmeras de vigilância para restituir a vida cotidiana de uma praça do centro de São Paulo”, conta.
“A produção brasileira tem muito a oferecer e estamos muito contentes de poder apresentar os filmes brasileiros”, disse à swissinfo.ch.
O 26° “Festival International de Filmes de Fribourg” acontece em Friburgo, na Suíça, entre os dias 24 e 31 de março de 2012.
O FIFF se afirma como um encontro incontornável da programação cultural suíça. Em constante evolução, o festival também é muito apreciado pelos diversos patrocinadores que não hesitaram em financiar, mais uma vez, mais de 2 milhões de dólares necessários à realização do evento.
Se espera a participação de 30 mil espectadores, que poderão se encontrar com vários cineastas em debates, conferências e encontros informais.
No total, o FIFF 2012 vai apresentar 118 filmes de 47 países. 4 em estreia mundial, 2 em estreia internacional, 10 em estreia europeia e 38 em estreia na Suíça.
Júlia Murat teve a ideia do filme em 1999, quando trabalhava como assistente de direção de Brava Gente Brasileira, de Lúcia Murat. Durante as filmagens ela encontrou um cemitério fechado na pequena vila do Forte Coimbra, o que obrigava que os moradores fossem enterrados na cidade vizinha, a sete horas de barco.
O roteiro de Histórias que Só Existem Quando Lembradas foi inspirado no realismo fantástico latino-americano, em especial a obra de Gabriel Garcia Márquez e Juan Rulfo.
A diretora Júlia Murat percorreu cidades do Vale do Paraíba por dois meses, fazendo entrevistas com moradores locais. Foram 100 horas de material gravado e mais de 100 páginas de diálogos transcritos, que serviram de inspiração para os diálogos na cidade fictícia de Jotuomba.
(Fonte: site adorocinema.com)
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