Grandes cidades em crise de identidade
Grandes cidades em crise de identidade. Suíça participa da Bienal de Arquitetura de Veneza apresentando um projeto ousado e criativo do seu renomado arquiteto, Bernard Tschumi.
“Cidade, Arquitetura e Sociedade” é o título e o tema central da 10a edição da Bienal de Arquitetura de Veneza.
Dezesseis megalópoles espalhadas pelo planeta – de São Paulo a Tóquio passando por Nova York, Londres, Johannesburgo e Mumbai – são avaliadas e estudadas através de documentários, gráficos e maquetes.
Poluição ambiental, congestionamento do trânsito, criminalidade, integração social, são algumas das questões que comprometem a qualidade de vida das modernas selvas de pedra. A Bienal é uma importante oportunidade de intercâmbio de soluções locais para problemas globais.
Hoje em dia, 75% da população mundial vivem em grandes centros urbanos com mais de 20 milhões de habitantes. Em nome da habitação, a qualquer custo, se constroem grandes edifícios por todo o mundo. Ao final, o skyline das cidades acaba por se parecer uns com os outros, colocando em risco a identidade e o reconhecimento urbano.
As cidades crescem engolindo novas periferias e verticalizando as moradias. A Bienal tenta encontrar uma resposta para dar ordem ao caos urbano. Cinqüenta e cinco países participam da mostra e apresentam seus planos-pilotos e seus projetos para novos modelos de cidades. “Pela primeira vez tentamos trazer para a Bienal um foco mais social da arquitetura, queremos ver uma arquitetura mais humanista”, disse Richard Burdett, arquiteto inglês o curador da exposição.
E uma das principais contribuições para o futuro urbano está sendo realizado na ilha da Republica Dominicana, no Caribe, pelo arquiteto suíço Bernard Tschumi, um dos nomes no cenário internacional mais respeitados da arquitetura contemporânea.
Não por acaso, o pavilhão da Suíça contempla o seu último desafio, iniciado no começo do ano: a criação de uma cidade-base para o Independent Financial Center of the Americas, um centro financeiro que pretende oferecer uma interconexão inédita entre as instituições bancárias internacionais e as infra-estruturas comerciais regionais.
“A Bienal de Veneza tem sempre estado na vanguarda das tendências artísticas e por isso é o local ideal para apresentar o projeto que não encontrou nenhum tipo de resistência, apenas a nossa imaginação e ambição”, disse Bernard Tschumi sobre a apresentação das curiosas maquetes coloridas, de contorno ovais, do centro financeiro.
Um projeto suíço em respeito ao meio ambiente
Um arquipélago de “ilhas-urbanas” na forma de elipses, perfeitamente integrado ao cenário natural exuberante da região, surpreende o visitante. “Quisemos sempre conservar a presença da natureza e da paisagem em cada da fase do projeto” explica o arquiteto. Uma tarefa complicada, pois 52% da superfície da ilha está sob proteção ambiental nacional.
As condições meteorológicas da ilha também ditam os rumos do projeto. A Republica Dominicana está na rota dos furacões, tem o clima quente e úmido, intercalado com chuvas torrenciais. Esses fatores acabaram por marcar a identidade das futuras construções. Elas terão os tetos altos e abrangentes para filtrar os raios de sol em dias quentes e proteger da chuva nos dias de temporal. Eles serão em metal, madeira e tela de policarbonato com alguns deles presos por cabos.
Elliptic City, a cidade idealizada por Bernard Tschumi, tem 17 quilômetros quadrados, debruçada sobre o mar. Doze mil pessoas vão poder usufruir de escritórios, hotéis e casas em prédios “inteligentes” e multifuncionais. “Recusamos a proposta de erradicar os oito mil moradores de uma favela vizinha em Guayacanes, visto que eles já habitavam ali e que por isso teriam o direito de participar do projeto”, contou o arquiteto.
Como zona de intermediação e integração, estão previstos na área a construção de edifícios públicos, um estádio de baseball, a sede do município e as escolas.
Cidades helvéticas no banco de provas
A Suíça, além de “exportar” novos modelos de urbanismo, olha o próprio umbigo e faz um exame de consciência público. A Bienal de Arquitetura traz também eventos colaterais como a mostra das análises urbanas realizadas dos 13 institutos de pesquisa internacionais convidados pela curadoria. Um deles é o ETH Studio Basel-Contemporary City Institute e pode ser visto numa das seções do Padiglione Itália.
Um mosaico de fotos e gráficos ilustra o mundo urbano da Suíça. Geografia, línguas, sociedade, economia, transporte, arquitetura, vida social, história são alguns dos itens “retratados” pelos pesquisadores do ETH Studio Basel. O trabalho é uma espécie de tratado visual de antropologia e sociologia urbana. “As cidades são dinâmicas, vivas e estão sempre em transformação”, afirma o curador da exposição Richard Burdett.
Áreas metropolitanas e regiões alpinas entram no foco do estudo permitindo uma análise profunda do presente e passado para encontrar e construir as saídas para o futuro. Do mergulho nas entranhas das cidades helveticas podem vir à superfície os rumos para as moradias das próximas gerações locais e exemplo para as novas edificações em curso nos países emergentes.
swissinfo, Guilherme Aquino
Com a participação de mais de 50 países, entre eles seis da América latina, a 10ª Bienal de Arquitetura de Veneza vai até 19 de novembro.
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Uruguai e Venezuela se unem aos principais países do mundo para explorar o tema deste ano, que é o estudo das relações entre a arquitetura e a sociedade do século XXI, através dos conglomerados urbanos que vão se transformando cada vez mais em megalópoles difíceis de administrar. (ANSA)
O setor de arquitetura da Bienal de Veneza foi criado em 1980.
Título da décima edição do evento: “Cidade. Arquitetura e Sociedade”.
Ela está aberta de 10 de setembro a 19 de novembro de 2006.
Bernard Tschumi nasceu em 25 de janeiro de 1944 em Lausanne, Suíça. O arquiteto trabalha e vive nos Estados Unidos e na França.
Tschumi estudou até 1969 na Escola Politécnica de Zurique. De 1970 a 1979, ele foi professor na Associação de Arquitetura de Londres e, a partir de 1976, no Instituto de Arquitetura e Estudos Urbanísticos em Nova Iorque e na Universidade de Princeton.
Ele construiu diversos módulos experimentais, chamados por ele de “Folies”. Um dos seus projetos de maior destaque é o Parc de la Villette em Paris (1983).
De 1988 a 2003, Tschumi foi decano na Escola Graduada de Arquitetura, Planejamento e Preservação da Universidade de Columbia, Nova Iorque.
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