Laços fortes entre Fribourg e Nova Friburgo
As relações entre Friburgo e Nova Friburgo são como as de um casal, ligado por um casamento bem sucedido. Os laços mantêm-se sólidos, mesmo havendo contratempos.
Tem prevalecido, de fato, entre as duas cidades o desejo de associar seus destinos. E as atuais comemorações dos 850 anos de Fribourg só estimulam os vínculos existentes.
Entre os diferentes eventos que pontuam os 850 anos de existência da cidade suíça de Friburgo em 2007 vale apontar uma discreta mas significativa participação do grupo de ginástica rítmica INEC, de Nova Friburgo.
Essa participação é uma pedra a mais no edifício de um relacionamento privilegiado entre os habitantes da cidade brasileira e os habitantes de Friburgo, cujos antepassados fundaram Nova Friburgo.
Um relacionamento que tem por origem a publicação em 1973 de La Genèse de Nova Fribourg, livro de Martin Nicoulin sobre a emigração para o Brasil de 2.006 suíços, na maioria (830) fribourgeois, em 1818. A obra, traduzida em 1996, foi mantido o título original, “A Gênese de Nova Friburgo”.
Novas etapas
No meio tempo, em 1977, 261 friburguenses da Suíça, incluindo um coral (La Chanson de Fribourg), uma banda de música (La Concordia) e um quarteto de música popular (Quatuor Boschung) tinham lotado um avião para visitar os “primos” do Brasil. A viagem resultou em um reencontro não só comovente como marcante: atraiu cerca de 50 mil pessoas no centro de Nova Friburgo e representou o início do estabelecimento dos atuais vínculos bilaterais.
No ano seguinte, em 1978, surgiram duas associações, uma de cada lado do Atlântico, para incentivar e coordenar iniciativas que reduziram as distâncias entre as duas cidades. A este respeito vale lembrar que os principais objetivos da Association Fribourg-Nova Friburgo são justamente “manter e estreitar os laços criados no primeiro encontro”, além de ajudar os pobres de Nova Friburgo, promover as relações humanas e os intercâmbios culturais.
Uma bela queijaria de presente
Estava, então, lançada a dinâmica de aproximação bilateral, pois três anos depois, em 1981, uma delegação de trezentos friburguenses de origem suíça dava o troco visitando a velha Friburgo e selando uma amizade que pretende ser “para sempre”.
Nos anos oitenta, aliás, surge em Friburgo um projeto ambicioso, já numa perspectiva econômico-social: erigir em Nova Friburgo de uma queijaria-escola. O plano irá concretizar-se em 1887 com a construção de um prédio a quase 20 km de Nova Friburgo (em Conquista).
Infelizmente o lugar era pouco adequado para laticínios. Mas aí interesses políticos e particulares tinham entrado em jogo, o que não tira o mérito desse presentão oferecido bem intencionados suíços.
Do montante de um milhão e cem mil de francos que custou a obra (cerda de 800 mil dólares), oitocentos foram oferecidos por Friburgo: povo, administração, empresas. O Estado brasileiro entrou com os restantes 300 mil francos (em material).
Primazia para os setoressocial e o cultural
Nos anos 80 e 90 os suíços ofereceram três escolas que foram construídas na região de Nova Friburgo, envolveram-se e continuam envolvidos com um lar para excepcionais (deficientes) ao qual vai oferecer, em 2003, uma van de 45.000 francos (US$ 36.000).
Outro projeto de peso foi a construção da “Casa Suíça”, incluindo uma sala de conferências, salas de cursos e uma biblioteca, além de um museu relatando a aventura da imigração suíça de 1818. Inaugurada em 1996, a obra custou aproximadamente 500 mil dólares. O cantão, a cidade Friburgo e seus habitantes arcaram com a metade do custo. O Estado brasileiro contribuiu com a outra metade.
Enquanto isso, viagens de lado e outro, principalmente na direção da Suíça foram estabelecendo novos relacionamentos, criando laços e amizades que culminaram até em casamentos.
Quarenta viagens ao Brasil
Em 2002, por exemplo, Nova Friburgo foi hóspede de honra da Exposição Nacional Suíça – a Expo.02. Logo no início do evento, 200 brasileiros – incluindo grupo de dança, fanfarra e coral – desembarcaram na Suíça.
O atual presidente da Associação Friburgo – Nova Friburgo, o jornalista Raphaël Fessler (que já viajou 40 vezes para o Brasil), ocupou-se durante um ano e meio dos preparativos dessa viagem e da atuação dos brasileiros na Suíça. Foi trabalhoso, mas, aparentemente, Raphaël não se arrepende.
Se hoje ele preside a Associação é porque deseja justamente levar à frente a aproximação entre duas cidades. Ele estima, porém, ter acabado “a época dos grandes projetos”. A preocupação agora é equipar o lar de excepcionais (AFAPE) e o a ‘Casa Suíça’ (Museu da Imigração).
Raphaël Fessler está consciente de que os laços se estreitam, que os contatos aumentam e que, com a Internet, as comunicações estão mais fáceis.
“Compartilhar a história”
Indagada sobre o futuro das relações entre as duas cidades, a psicóloga Joëlle Clerc, 30 anos, membro da Association Fribourg-Nova Friburgo, diz não duvidar que serão mantidas porque jovens brasileiros descendentes de suíços estão a par da “história existente entre as duas cidades e querem se envolver com essa história através de melhor conhecimento sobre os emigrantes suíços, a cultura suíça e a própria Suíça”.
Do lado suíço o interesse é parecido, estima, pois haveria vontade de manter os vínculos bilaterais: “Os suíços têm curiosidade em encontrar descendentes em Nova Friburgo, em compartilhar a história das famílias para se conhecerem melhor”. Do encontro podem surgir verdadeiras amizades com tudo que isso implica…
Guilherme Tell homenageado
Marcel Schuwey, 66 anos, presidente do conselho de administração do ‘Complexo Conquista’ (que inclui a Queijaria, uma chocolataria, Casa Suíça e um outro museu, o dos animais empalhados) acha que na segunda metade da década de 90 e na virada do século “nada acontecia”.
Agora o interesse seria maior e ele menciona a viagem de “44 atiradores de Fribourg” que ele organizou em 2005, uma excelente iniciativa “para estabelecer contatos com gente no Brasil, através de famílias hospedeiras” (Eles ficaram, de fato, em casas de família).
Schuwey lembra também que, em setembro, 61 brasileiros de Nova Friburgo vêm a Friburgo, onde igualmente serão alojados em casas de família, onde podem forjar amizades.
Mas suas preocupações do momento são os projetos em andamento, entre os quais encontrar padrinhos para uma escola para crianças carentes (Escola do Vale da Luz).
Marcel Schuwey está empenhado também em erigir uma estátua de Guilherme Tell, o mítico herói suíço, ao lado da Queijaria-Escola de Nova Friburgo. Dá-se assim um toque folclórico-cultural as relações entre as duas cidades. Por que não?
Conquistar os suíços-alemães
Resta que a Associação Friburgo – Nova Friburgo procura dar nova dimensão, novo dinamismo aos laços estabelecidos entre as duas cidades. Neste sentido, um projeto em fase de concretização é associar o cantão de Solothurn e outras regiões da Suíça de expressão alemã ao reencontro, o que do lado de Friburgo ocorreu 30 anos atrás.
A iniciativa procede, pois entre os 2000 imigrantes suíços que partiram para o Brasil em 1818 havia número considerável de suíços alemães, entre os quais cerca de 200 originários de Solothurn.
A primeira etapa dessa iniciativa é uma operação de charme que a Associação efetua neste mês na cidade de Solothurn através de uma coletiva à imprensa, dia 28 de junho próximo, em que serão anunciados os objetivos visados. O grupo INEC vai animar o encontro, sinal de que a operação pode dar resultado.
swissinfo, J.Gabriel Barbosa, Friburgo
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