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Livro conta vida de Le Corbusier

Le Corbusier se inspirarva também nas mulheres Keystone

Cruzamos diariamente seu olhar curioso nas notas de 10 francos suíços. O célebre arquiteto Le Corbusier é conhecido, mas o que se sabe realmente do homem Charles-Edouard Jeanneret?

O escritor suíço Nicolas Verdan imagina uma série de respostas em seu último romance Saga Le Corbusier, publicado na Suíça.

Em sua vida, as mulheres também foram um monumento. O imenso arquiteto já era conhecido. Agora ele se revela mulherengo. Ele amava o dito sexo fraco e era geralmente machista.

Em sua cama teve de tudo: prostitutas, intelectuais, artistas e uma governanta, suave como Yvonne, a esposa fiel, disponível e generosa com a qual ele viveu 32 anos. Depois que ela morreu, ele nunca realmente se restabeleceu. No entanto, só Deus sabe o quanto Le Corbusier traiu sua querida Yvonne.

Minette, Joséphine… e as autras

Ele sempre voltava para ela, mas quando se ausentava era Minette, Marguerite, Joséphine e tantas outras cujos nomes se perderam nas favelas do Rio de Janeiro ou da Casbah de Argel. Sem contar as mulheres imaginárias como as voluptuosas de Matisse e os espetáculos de corpos que fazem vibrar o arquiteto.

Foi através de Minette que ele atingiu a glória. É com ela que começa Saga. Le Corbusier, o último romance de Nicolas Verdan, publicado na Suíça pelas edições Campiche. O artista está em seu ateliê e pinta. Minette, cingalêsa, está presente.

A atmosfera é de sensualidade e de voluptuosidade. Ela é a primeira mulher arquiteta da Ásia, enviada especial do governo indiano para conhecer Corbusier. Para ela, ele vai mandar construir uma cidade inteira, Chandigarh, capital do Pendjab, na zona rural e ao preço de uma luta infernal com o sol.

E tem Marguerite, a americana um pouco desajeitada, que quer aproveitar a vida. É uma amiga de longa data. Corbusier a encontra, perde, volta a encontrá-la. Com ela, ele vive em Nova York em um ritmo de desejo palpitante e de jazz palpitante.

As mulheres o estimulam. Elas são indispensáveis à sua criatividade e seu trabalho. E quanto chega Josephine (a famosa Josephine Baker) é demais.

“Suas pernas são como dois jarros cheios de vinho com mel, seus seios são como as horas calmas da siesta. Suas nádegas são redondas …”, escreve Nicolas Verdan, levando em seguida o leitor até Yvonne, “a Von de sempre (…). Um coração límpido na única casa que você nunca soube desejar: seu lar”, diz o autor a Corbusier.

Entre dois intervalos

O romance de Verdan é um longo recito ao arquiteto, com questionamentos, reflexões felizes ou desoladoras, emoções e sensações entre vida e morte.

É que numa manhã de agosto de 1965, Corbusier morre. Ele está na Côte d’Azur (sul da França), em Roquebrune-Cap-Martin onde constrói uma cabana sobre uma rocha, batida pelas ondas do mar. Uma onda o leva. Ele nada, mas seu fôlego é curto e se afoga.

Entre dois intervalos, o romancista entra portanto na vida de Corbusier e surgem milhares de imagens. Primeiro confusas, elas ficam cada vez mais precisas para se confundirem novamente.

Ao ritmo de uma respiração cansada emerge um personagem ofegante. Um gigante que, num último suspiro, vê seus sucessos, seus projetos abortados, seus amores, seus críticos, seus amigos e sua imensa obra desfilar diante dele. Um magma de impressões que superpõe instantes e desafia a cronologia. Um Corbusier que viaja sem parar e traça cidades. Ele está ao mesmo tempo nas Américas, na Europa, na Ásia e na África.

Em cada continente, ele deixou traços.“Cidades radiantes”, estradas que sobrevoam cidadãs, palácios, museus, edifícios residenciais.

Por trás da fachada

Mas por trás da fachada arquitetural, tem o homem que amava as mulheres; o que cumprimenta os franceses favoráveis à ocupação da França pela Alemanha; o que denuncia “a exiguidade dos apartamentos parisienses” mas não diz nada “dos acampamentos onde estão milhões de prisioneiros”; o que mantém “certa distância da Suíça”, mas que agradece com o sotaque de sua região natal; o que não crê em Deus, mas constrói uma das mais belas igrejas do mundo, Notre Dame du Haut, em Ronchamp (França). Um ser feito de harmonia e de contradições.

“Quem é o senhor?”, pergunta Verdan a Corbusier, em um tom meio inquisidor, meio divertido. Várias resposta surgem sob a pluma do autor. Uma delas: “O senhor é pesquisador, inventor, improvisador, mecânico? Sim, mas sob o signo da geometria. Pintor, sob o signo da cor. Escultor, sob o signo da forma. O senhor seria arquiteto, mas então seria sob o signo da organização. O senhor é pensador. O senhor está na pele de um filósofo. Etc. etc.”

Ghania Adamo, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)

Nascido em Vevey, oeste da Suíça en 1971.

Vive entre a Suíça e a Grécia, sua segunda pátria.

Atualmente, trabalha em Lausanne como jornalista.

Em 2006, ganhou o Prêmio Bibliomédia Suíça por seu primeiro romance Le Rendez-vous de Thessalonique, com o tema da desilução do homem. Também é autor de Chromosome 68, romance publicado pelas edições Campiche.

Charles-Edouard Jeanneret, dito Le Corbusier, nasceu em La Chaux-de-Fonds (oeste) em 1887. Depois de uma formação de gravador e cinzelador na Escola de Artes da cidade, ele passa para a arquitetura.

Se estabelece em Paris em 1917. Abre um escritório de arquitetura na capital francesa. A partir de 1920, o “purismo” está no centro de seu trabalho. A partir de 1929, ele se focaliza sobre os problemas de concentração urbana.

Algumas obras:
1930-1932: Pavilhão suíço na cidade universitária de Paris.
1946 à 1952: Cidade radiosa de Marselha1950: reconstrução da Capela Notre-Dame du Haut em Ronchamp (França).
Anos 1950: concepção de Chandigarh, nova capital do Pendjab, na Índia.
1960: Calçadão à beira-mar de Argel.

Morre em 1965 em Roquebrune-Cap-Martin, sul da França, onde construía para ele uma espécie de cabana.

Saga. Le Corbusier, de Nicolas Verdan. Edições Bernard Campiche, 190 pages.

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