Obituário: o inovador artista gráfico suíço Roger Pfund
Roger Pfund, que faleceu aos 80 anos, foi um pintor, artista gráfico e designer suíço de renome mundial, famoso por ter desenhado cédulas internacionais e o passaporte suíço.
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Na Suíça, Roger Pfund talvez seja mais conhecido por seus desenhos inovadores e coloridos para o passaporte suíço, lançado em 2003. Sua ideia era que cada um dos 26 cantões tivesse sua própria página com um brasão e um ponto de referência.
Mas sua especialidade eram as cédulas de dinheiro, tanto suíças quanto estrangeiras. Sua forma moderna de usar cores, imagens tradicionais e tecnologias digitais inaugurou uma nova era no design de moedas.
Nascido em Berna, em 28 de dezembro de 1943, filho de pais suíços e franceses, Pfund começou como músico de jazz, tocando contrabaixo em um trio de jazz. Mas o interesse pela arte o levou a um estágio com o designer gráfico Kurt Wirth, em Berna, em 1966. Mais tarde, ele montou seu próprio estúdio na capital suíça, antes de se mudar para Genebra, onde desenvolveu seus negócios.
A carreira do artista desconhecido decolou em 1971, quando ele foi convidado a desenhar uma nova série de cédulas para o Swiss National Bank (SNB). Seus desenhos seriam destinados para a sétima série de reserva de 1984 e não foram realmente usados. Eles foram mantidos nos cofres do SNB e teriam sido usados se as cédulas existentes em circulação tivessem sido falsificadas em grande escala.
Mas seu trabalho no design lhe trouxe uma fama crescente e algumas de suas cédulas estrangeiras entraram em circulação. Entre elas, a última série de cédulas de francos franceses na década de 1980 antes da mudança para o euro, uma das quais trazia o Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, desenhado. E também circularam na Argentina seus designs, nas cédulas com Eva “Evita” Perón, ex-primeira-dama da Argentina, ativista e atriz.
Muito vanguardista
Em 1996, ele venceu dois concursos organizados pelo Instituto Monetário Europeu (IME) para desenhar as novas cédulas de euro. Mas alguns acharam que suas versões eram muito vanguardistas, e no fim o projeto foi concedido ao austríaco Robert Kalina.
“A cédula deve ser bonita, colorida e contar uma história. Ela é a embaixadora cultural de um país”, explicou Pfund em 2013 durante uma exposição no Musée d’art et d’histoire (MAH) em Genebra.
Com seu vasto conhecimento em design de moedas e técnicas de segurança, Pfund tornou-se um importante consultor de bancos centrais, como o SNB.
Quando o assunto era design gráfico, ele parecia ser capaz de se dedicar a quase tudo: fez pôsteres e livros, selos suíços, cheques suíços REKA (uma moeda comunitária), cartões de débito do Credit Suisse e até mesmo documentos de declaração de imposto de renda.
Da pintura à escultura
Durante seus 50 anos de carreira, Pfund desenvolveu muitos outros talentos, como a pintura, a escultura e a arquitetura.
A pintura foi um talento constante em sua vida. Ele criou uma série de retratos de ícones como Maria Callas, Arthur Rimbaud e Marcel Proust que demonstraram seu domínio da cor e de outras técnicas.
O suíço-francês de dupla nacionalidade também se dedicava à formação de futuros artistas. Ele criou uma rede internacional de designers gráficos que permitiu que jovens designers continuassem seu treinamento em vários ateliês na Europa durante um período de quatro anos.
Pfund recebeu vários prêmios e honrarias internacionais por seu trabalho, incluindo a prestigiosa Ordre des Arts et des Lettres da França em 2022. Seu trabalho foi exibido em todo o mundo, incluindo China, Europa, EUA e África.
A ministra da Cultura da Suíça, Elisabeth Baume-Schneider, disse que ele foi uma “figura de destaque no mundo do design suíço”.
“Suas criações eram uma expressão magistral de seu desejo de falar com todos e cada um de nós”, Baume-Schneider postou em sua rede social, após o falecimento do artista.
‘Artista completo’
O ministro da cultura de Genebra, Sami Kanaan, também elogiou a criatividade de Pfund, descrevendo-o como um “artista completo” que era “extremamente talentoso no uso de diferentes técnicas”.
Em Genebra, Pfund anos atrás construiu uma enorme escultura de metal na praça do Palais des Nations, em frente à sede europeia das Nações Unidas, para marcar o 50º aniversário do órgão global.
“Sabemos que a Torre Eiffel foi construída para durar pouco tempo, e ela ainda está lá… podemos ter esperança”, disse ele.
A pequena Torre Eiffel de Pfund acabou tendo que ser desmontada. Mas, como artista, sua imensa obra e influência parecem ter resistido ao teste do tempo.
Apesar de trabalhar com o dinheiro de seu sucesso artístico, Pfund teve problemas financeiros e seu estúdio de design gráfico em Genebra, que havia se mudado de Carouge para Plainpalais e empregava 20 pessoas, acabou falindo em 2016.
Roger Pfund não estava em boas condições de saúde há vários anos, disse seu filho Tristan Pfund à agência de notícias suíça Keystone-ATS. Ele morreu de complicações em 16 de março após uma infecção.
Edição: Mark Livingston/fh
(Adaptação: Clarissa Levy)
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Suíça continua sendo fonte de criatividade
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