Peter Knapp: a liberdade além da pose
Depois da retrospectiva em Paris em 2021, Peter Knapp recebeu o Prêmio Suíço de Design. Fotógrafo de moda, seu trabalho foi determinante para os impulsos dos anos 1960. Até hoje, seu olhar continua atento.
Quando cheguei ao Centro de Fotografia de Winterthur, vi, através de uma ampla janela, Peter Knapp parado na entrada do museu. Ele estava atrás de uma espécie de balcão, prestes a autografar uma pilha de catálogos de sua exposiçãoLink externo. Meticuloso, metódico e com um olhar que demonstrava orgulho da situação.
Os livros espalhados à sua frente e as imagens expostasLink externo não foram feitos por ele, hoje com 91 anos, nas últimas décadas, mas vêm de uma outra época – sobretudo dos tempos em que Knapp, nos anos 1960, trabalhou em Paris como diretor de arte e fotógrafo da revista feminina Elle.
Ao fundo dos espaços de exposição e nas últimas páginas do catálogo, estão também obras posteriores, encomendadas e publicadas por outras revistas conhecidas de moda. A última imagem do catálogo, que liga o nome de Peter Knapp ao universo da moda, foi feita em 1991 para a L’Oréal. E por que, afinal, visitar a exposição de um fotógrafo de moda de idade tão avançada?
Os impulsos dos anos 1960
A resposta a essa pergunta é, por ora, simples: Peter Knapp produziu imagens que representam as rupturas dos anos 1960 e 1970. Com suas ideias e fotografias, ele gerou um movimento no mundo da moda. As modelos que posavam para ele não usavam mais a alta-costura, mas o prêt-à-porter ou até mesmo roupas vendidas em lojas populares. Paralelamente a essa democratização da moda, Knapp procurava resgatar a naturalidade cotidiana das modelos enquanto fotografava. Ele não trabalhava mais em estúdio, onde as vestimentas desempenhavam o papel principal e as modelos, estáticas, eram cercadas por estilistas que ajustavam as roupas a elas. Knapp saía para as ruas, onde as modelos podiam se movimentar como no dia a dia ou da maneira como se vê no cinema.
Frente às reproduções, aos layouts e às fotografias em grande formato nas paredes do museu, descortina-se para o observador a visão de um mundo em movimento. E este mundo tem uma dinâmica que vai muito além da moda ou das questões de estilo. É possível fazer uma viagem no tempo que funciona até para quem nasceu depois daquela época.
O espírito do desenho
A exposição não é, contudo, apenas interessante do ponto de vista histórico. Peter Knapp tem também uma sensibilidade marcante para tudo o que é visível e uma obsessão contínua por capturar, em imagens, o mundo como ele se apresenta a ele. O mundo é, portanto, relevado a ele através de seus próprios olhos, sendo a fotografia apenas uma entre as várias mídias às quais o artista recorreu ao longo da vida.
Knapp passou os primeiros anos de sua infância com os avós. “Minha mãe era cantora amadora de opereta e meu pai era muito apaixonado por ela. Quando meu irmão mais novo nasceu, tudo se tornou excessivo e simplesmente não havia mais lugar para mim ali”, conta ele.
Aos oito anos de idade retornou à casa dos pais. A partir de então, o lado musical da mãe passaria a marcar seu dia a dia. “Nós ficávamos muito tempo ao ar livre. Eu e meus irmãos saíamos de mãos dadas com a minha mãe e passeávamos de olhos fechados ao longo de um córrego ou adentrávamos os bosques em dia de tempestade, para ouvir ali os estalidos e os estrondos das árvores”.
“Sempre fiquei muito impressionado com a natureza”, conta Kapp. Aos 13 anos já havia descoberto sua paixão por paisagens e pela pintura a óleo. Por ter boas notas na escola, sua recompensa era fazer aulas com um pintor. Knapp lembra-se: “A pintura a óleo exige muita disciplina e um trabalho estruturado. Os pincéis precisam ser limpos constantemente, a sequência das camadas de cor precisa ser respeitada. Nos anos 1940, meu professor ainda pintava como os impressionistas faziam”, completa.
“Logo depois de concluir os estudos na Escola de Artes e Ofícios, fui para Paris em 1951. Eu queria ser pintor e pretendia aperfeiçoar meus conhecimentos na Escola de Belas Artes de Paris. Em função da minha formação em Zurique, eu estava, contudo, predestinado para a Gebrauchsgrafik [arte comercial – nomenclatura que mais tarde se popularizaria como design gráfico]. Eu mal havia começado a estudar, quando já iniciavam os pedidos de obras, primeiro por parte de artistas amigos, galerias”. Mais tarde, Knapp viria a projetar vários pavilhões para a Expo 58, a Feira Mundial que aconteceria em Bruxelas naquele ano.
Knapp mantém-se atencioso e solícito durante a conversa. Sua presença é cativante, seus olhos passeiam pelo espaço, seu olhar é atento, seu andar ainda se mantém fluido. E seu interesse pelo mundo lá fora permanece inabalável. Só um detalhe fortuito revela sua verdadeira idade. Knapp, nascido em 1931, se desculpa, discretamente, por infelizmente não ouvir mais muito bem.
Mesmo que tenha recorrido com frequência à fotografia, o artista se manteve fiel ao desenho como ponto de partida de seu processo criativo. Aos 17 anos, comprou um livro de Leonardo da Vinci. Embora não se lembre mais do título, uma frase do conteúdo daquela obra viria a acompanhá-lo por toda a vida: “Uma ideia não é uma ideia até que seja desenhada”.
A exposição em Winterthur parte de uma antiga doação do artista à Fundação dedicada à fotografia: são 15 caixas cheias de imagens, impressões originais de suas fotografias, esboços de layout e documentos, sobretudo de seus tempos na revista Elle e dos anos subsequentes (1965 a 1985), quando Knapp trabalhou como fotógrafo de moda.
Durante uma volta para observar as imagens, Peter Knapp fica parado em frente a uma fotografia de grande formato. Trata-se da reprodução de uma página dupla da Elle de 1965, da qual ele se orgulha, como fica claro, especialmente. “Eu estava realmente no auge quando fiz essa imagem. Usei uma câmera de cinema Paillard de 16mm. Eu queria desmembrar o movimento natural das modelos em várias imagens. Naquela época, não havia câmeras fotográficas com motor drive. Eu deixava as modelos descerem as escadas três vezes e filmava essa sequência. Isso resultava de imediato em algumas centenas de imagens. Sendo assim, era praticamente impossível controlar cada uma delas – e a decisão deslocava-se, então, para o processo de seleção na mesa de luz”.
Ao ser lembrado de uma entrevista antiga, concedida quando recebeu o Prêmio Suíço de Design, em 2021, e questionado sobre o que o move ainda hoje, aos 91 anos de idade, Knapp responde:
“Vivo na Suíça e fui criado sobretudo no protestantismo. O significado e a seriedade frente ao trabalho na Suíça podem atrapalhar um pouco a vida, o savoir vivre. Em suma, prefiro morar na França. Na realidade, vivo entre os dois países há muitos anos. Quando as pessoas me encontram em um povoado na Suíça, me perguntam: O senhor está de férias? Respondo que sim. Mas, na verdade, estou de certa forma trabalhando o tempo todo. Ou será que estou, de fato, de férias? Isso vai depender do ponto de vista de cada um”.
Adaptação: Soraia Vilela
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