Suíça homenageou Hermann Hesse
Montagnola, sul do País, festejou em 2 de julho os 125 anos de nascimento do escritor alemão, naturalizado suíço, Nobel de Literatura em 1946.
Reconhecido com um dos escritores de língua alemã mais influentes e mais lidos no século XX, Hermann Hesse nasceu em 2 de julho de 1877, em Calw, na Floresta Negra.
Um guru crítico
Autor de obras célebres como O Lobo das Estepes, Siddarta, Damião e Jogos de Abalórios, o escritor agora festejado em Montagnola, cantão do Ticino – onde passou quase a metade de sua vida – residiu na Suíça 60 dos seus 85 anos de existência.
Hesse escreveu numa época de transição na velha Europa tendo contribuído para revelar as causas profundas da crise que levou aos dois conflitos mundiais.
É considerado o inspirador da “beat generation”, guru das jovens gerações que hoje buscam novas formas de espiritualidade. Ele entusiasma pela critica à sociedade industrial de seu tempo, pela crítica de si mesmo e ainda pelo convite a que cada um encontre o próprio caminho e os próprios valores.
As comemorações desse 125° aniversário de nascimento revelam também um Hermann Hesse político. Um autor que escreveu sobre a violência, a guerra e o nacionalismo.
Nobel
Na maior resenha consagrada a Hesse na Suíça, o Museu Nacional, de Zurique, já havia mostrado, de março a julho, um escritor dilacerado, moderno e habitado pelas contradições de seu tempo.
Naturalizado suíço em 1923, o autor foi contemplado com o prêmio Nobel de Literatura em 1946 – o primeiro depois da Segunda Guerra.
São motivos mais que suficientes para a homenagem prestada por Montagnola, localidade do estado do Ticino, na Suíça de expressão italiana a um escritor que lá se refugiou nos últimos 43 anos de sua vida e onde faleceu em 9 de agosto de 1962.
A homenagem consistiu em leitura pública de textos em alemão e italiano, uma festa, um encontro com pessoas que o conheceram, além de uma exposição na antiga casa do escritor, onde funcionam a Fundação e o Museu Hermann Hesse.
Gratidão
“Vivi em Montagnola inúmeros momentos maravilhosos e devo minha gratidão a esse povo e a seus arredores. Cantei meu hino a essas montanhas, a seus bosques e suas vinhas. Utilizei centenas de cadernos de rascunho e tubos de tintas para homenagear em forma de aquarelas os antigos casarões, castanheiras e montanhas vizinhas”, escreveu Hesse em 1960, lembrando os 40 anos passados na região.
“O escritor escolheu Montagnola como pátria, inclusive decidiu lá permanecer depois da morte. Ele reservou um túmulo no cemitério de Gentilino, próximo da cidadezinha”, lembra Regina Bucher, diretora da Fundação e Museu Hesse.
Realça, porém, que “ele não escreveu muito sobre o Ticino, mas deixou numerosos textos (como o citado) em que expressa respeito e amor por essa região suíça”.
Verão de 1991
Por outro lado, como poeta, romancista, crítico, pintor e editor, Hermann Hesse tem destaque particular no panorama da cultura da Suíça Alemã, sempre disposta a se diferenciar da cultura alemã vizinha, considerada dominante. E não faz muito tempo que, na Suíça, se pensava em Hesse como escritor alemão que escolhera a Suíça por acaso…
Até setembro próximo, o Museu Hesse de Montagnola propõe uma exposição de aquarelas, fotos e documentos do escritor sobre o tema do verão de 1919, período em que se instalou no cantão do Ticino.
Foi na Suíça de expressão italiana que o escritor, preocupado por uma permanente busca do sentido da vida – que o levou de crise em crise, até o tratamento terapêutico – encontrou numa natureza deslumbrante meios de amenizar suas angústias.
swissinfo/Jaime Ortega
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